O que teremos pela frente?

O ambiente humano brasileiro é dominado pelos episódios de curto prazo, sem as visões de trajetórias e de seus impactos reais.

Os suspeitos vazamentos de gravação de conversas do ex-senador peessedebista e "ex-eterno" Presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com os caciques do PMDB, são meros episódios de um mega expurgo do alto clero da classe política, a esta altura, inexorável. Poderá levar mais, ou menos tempo, mas irá ocorrer.

O Juiz Sérgio Moro assumiu, com competência - em todos os sentidos - uma operação "Mãos Limpas" brasileira, cuidando para que não tenha o mesmo destino que teve a operação italiana em que a reação dos políticos foi cancelar os principais instrumentos para criminalizá-los.

Aqui no Brasil o principal combate dos políticos é contra a delação premiada. Mas o caso Sérgio Machado é novo. É uma delação antes da prisão. É uma delação preventiva. 

A última esperança do alto clero é o esgotamento das revelações que justifiquem os acordos de delação. 

Estão todos envolvidos. "Não escapa um", segundo os líderes políticos grampeados. Quem esteve no poder, nesses últimos anos, com a redemocratização, seja no nível federal, como nos estaduais e municipais, estão todos no alvo da Operação Lava Jato e de seus desdobramentos.

Alguns cairão primeiro. Os mais evidentes serão os alvos preferidos. A ambição pelo poder levou Romero Jucá a ser a primeira vítima da nova etapa. Depois dele virão outros, numa sucessão infinita. Para gáudio da mídia e de grande parte da sociedade organizada, "sedenta de sangue dos corruptos": "quem foi preso hoje?" "quem foi delatado hoje"? "quem caiu?".

Com a prisão dos principais "empreiteiros" e delação premiada dos principais, exceto a Odebrecht, os políticos envolvidos já são conhecidos pela Justiça ou pelo Ministério Público Federal. A eventual delação da Odebrecht não trará grandes novidades. Apenas confirmará suspeitas. Com  ou sem essa delação, todos serão citados, evidenciados, alguns comprovados em operações ilícitas. 
Lula e Dilma irão cair, com a delação de Odebrecht ou não. Os demais líderes do PT que estiveram em Governos, ou candidatos a cargos eletivos em 2012 e 2014 vão estar envolvidos porque as suas campanhas foram alimentadas pelo "petrolão".

O PSDB não ficará incólume. O seu Presidente Aécio Neves compartilha com Eduardo Cunha a capitania hereditária de Furnas. José Serra, Geraldo Alckimin, Tasso Jerreissati, Richa e outros governadores ou ex-governadores do PSDB vão entrar na roda. 

A propina era o elemento fundamental do modelo de poder. Todos que passaram pelo poder - com eventuais e raras exceções - foram envolvidos ou comandaram o processo. Não havia compra governamental em que não houvesse uma "mordida". E as grandes eram promovidas ou sob complacência  do Governante. As exceções apenas confirmam as regras.

A propina foi (ou ainda é) condição fundamental de governabilidade. O argumento inicial foi para restabelecer a democracia após duas décadas de ditadura militar. Mas, depois virou a sustentação da "nova e pobre democracia brasileira". 
O PT emergiu como uma alternativa  para estabelecer uma democracia ética, mas ao perceber que o seu projeto de poder não se realizaria a curto prazo, aderiu ao modelo, justificando que sem esse não chegaria ao poder: "os fins justificam os meios".
Mas ao chegar ao poder, novamente com a justificativa da governabilidade, não só manteve  como ampliou, estruturou e geriu um dos maiores sistemas de corrupção do mundo. Um sistema incomensurável, porque disseminado, contaminando todas as esferas de poder e todas as relações do privado com o público. Certamente o maior dos sistemas entre os países democráticos, só perdendo para ditaduras.

Contratação de obras  são apenas a parte mais visível do sistema. Mas financiamentos públicos, regulações e tudo o mais que implique em relações diretas do privado com o Poder Público estão sujeitas a uma intermediação indevida

A nova democracia brasileira, emergida a partir de 1985, cresceu e se consolidou porém sustentada na sua superestrutura política, isto é, da Gestão Pública (que envolve todos os Poderes Publicos) pela cultura ou modelo da corrupção.

É esse modelo que está desmoronando.  Toda classe política se envolveu ou foi envolvida por esse modelo.

Como aparece reiteradamente nas gravações: "não vai sobrar ninguém".

Duas questões devem ser avaliadas, em relação ao futuro, próximo e distante:
  • a operação Lava-Jato irá gerar um vácuo político?
  • quem irá assumir o poder, com a derrubada ampla do alto clero dominante? 
    • o baixo clero?
    • os fora do poder? 
Qualquer que seja a solução de curto prazo, será de transição.

A solução ou saída não será, ainda que alguns poucos queiram, uma ditadura.

A saída é uma repaginação da democracia. Uma tarefa difícil, pois será necessária trocar a lama contaminada do solo e do subsolo por uma terra boa, capaz de suportar o desenvolvimento brasileiro sem a fragilidade de um suporte inadequado. 

Esse suporte é o povo brasileiro, altamente contaminado. É o eleitorado brasileiro que elegeu por voto livre, todas as lideranças políticas que estão sob suspeita.

o povo brasileiro poderá mudar esse modelo.  

O grande momento da mudança será 2018, talvez antecipado em 2016.

A grande mudança dependerá de toda a sociedade. Não apenas da sociedade organizada. Quem irá decidir sobre a efetiva mudança será o eleitor.

O eleitor irá eleger novos representantes. De outra categoria? Irá eleger os mesmos que elegeu anteriormente? Será novamente enganado pelo poder econômico? 

Se anteriormente o uso do poder econômico era direto através da "compra do voto", tornou-se mais sofisticado pela "compra de corações e mente" pela sedução audio-visual. Rádio e TV ser tornaram os principais meios de comunicação com o eleitorado e inteiramente capturados pelo "marketing político". O qual, por sua vez, como está se constatando agora, com as revelações que chegam ao público, era suprido pelo "propinoduto". 

Sem essa influência nefasta, de engodo generalizado, quem o eleitor brasileiro elegará em 2018? O mais relevante do modelo está na eleição dos parlamentos, na eleição dos deputados federais e senadores. Mas também dos deputados estaduais.

2016 será uma transição, mas poderá ser uma prévia importante para 2018. 

2016 será um indicador importante para que novas lideranças que não se aventuram na carreira política reavaliem as possibilidades.

2016 terá que ter campanhas mais baratas, sem a irrigação legal ou ilegal das doações empresariais. 

Quem será eleito sem esses recursos? 

Os eleitores continuarão sendo seduzidos por promessas e mensagens que escondem reais razões inconfessáveis?

      




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