Uma narrativa de ficção, baseada em fatos e personagens reais

A peça apresentada pelo jovem procurador da República, Daltan Dellagnol, com apoio de gráficos e tabelas é, sem dúvida, uma peça de ficção, mas baseada em pesquisas, em documentos e testemunhos. Tudo sobre o que efetivamente ocorreu.

Não tenho todos os dados, nem consigo precisar as datas, vagas lembranças pessoais, as provavelmente ocorreram quando o garoto Deltan Dallagnol gostava de andar de skate e surfar.

Um momento chave é quando Lula, um carismático líder sindical, capaz de mobilizar milhares de operários em São Bernardo do Campo, prometendo a eles o ingresso no paraíso - o mercado de consumo - se encontra com um jovem líder estudantil, de formação socialista, com grandes ambições de poder: José Dirceu.

Ele, um gênio - depois se percebeu, do mal - formulou um projeto de poder, para a conquista do poder e se manter nele por 20 ou mais anos. Mediante sucessivas eleições.

Acreditou, inicialmente, na possibilidade de conquista, pela mobilização popular, explorando insatisfação do eleitorado com os políticos e a falta de ética. Não deu certo, formou um bom time, chegou às finais, mas perdeu sucessivamente por 3 vezes: a primeira nos penalties.

Foi quando José Dirceu e Lula perceberam que jamais conquistariam o poder, sem usar os mesmos instrumentos dos seus adversários: dinheiro, muito dinheiro. Arrecadado dos fornecedores do Estado.

Começaram nos municípios conquistados pelo PT e foram eliminando - no sentido lato - os puristas que não concordaram com o novo esquema.

Foi montado um esquema, com a aliança com outras quadrilhas, principalmente aquela liderada por José Janene, o que resultou no "mensalão". Este baseado num modelo criado para o PSDB em Minas Gerais.

Mesmo com o desvendamento do esquema, com julgamento pelo STF, prisão dos principais envolvidos, embora alguns tenham conseguido escapar, o modelo foi continuada e expandido, tendo como alvo principal, a Petrobras.

Dentro da lógica organizacional de quadrilhas criminosas, desenvolvida - principalmente - pela máfia italiana, e que tem paralelo nas grandes organizações empresariais, há um Presidente - que é a figura máxima - e o CEO - Chief Executive Office - que comanda as operações. O Presidente ou President (na terminologia inglesa) é um líder carismático que pela sua "sabedoria" ou "herança familiar" determina as grandes estratégias, mas não se envolve na operação, no dia a dia. Ele é ate mesmo preservado para não ser comprometido caso a quadrilha venha a ser denunciada. Como no famoso caso de Al Capone, não se consegue prova concreta sobre a participação dele nos atos criminosos. Apenas a presunção de fato.

O CEO é a figura visível, o President não. É o sujeito oculto. O que gera sempre a impressão de que a cadeia de comando termina no CEO.

Não há e dificilmente se comprovará participação direta de Lula no comando geral da quadrilha. O máximo que as deleções poderão chegar serão depoimentos de que ele foi informado. Mas ele não processou a informação: "entrou por um ouvido e saiu pelo outro". Fez ouvidos moucos. Quando muito terá respondido ao interlocutor. "Não sei do que se trata. Fale com o Zé". Foi mais o menos essa resposta que ele deu a Roberto Jefferson, quando ele foi lhe contar sobre a existência de um esquema de pagamentos mensais a deputados. Conhecido nos corredores da Câmara dos Deputados, como "Mensalão". Em contraposição ao "mensalinhos" habituais nos municípios.

O problema são sempre os assuntos menores em que ele se envolveu pessoalmente, principalmente, após ter saído da Presidência, deixando nela a sua pupila Dilma Rousseff. Que teria sabido do esquema, mas não participado diretamente.

Não era mais Presidente, mas os seus interlocutores sabiam ou achavam que ele continuava com grande influência, ou até mesmo capacidade de determinação. Ele, por sua vez, achava que estando fora da Presidência, não comprometia o cargo e podia desenvolver atividades pessoais, reais ou dissimuladas, remuneradas por aqueles.

Lula acabará sendo condenado. Não por ser, presumidamente, o Grande Chefe da Quadrilha. Mas pelos seus pecadilhos menores. Por ter usado e ser usado pelo seu "mui amigo" José Carlos Bumlai. E por ter se deixado envolver diretamente por Léo Pinheiro, para a obtenção de pequenos benefícios. Para si, para familiares e sua "turma" mais chegada.

Aparentemente, Lula nunca teve ambição de ser milionário, como alguns (ou muitos) integrantes do esquema. Acatou e comandou um mega-esquema de captação criminosa de recursos públicos, em benefício do partido e do projeto de poder.

Do ponto de vista familiar, a sua ambição não foi muito além dos dois grandes objetos de consumo dos metalúrgicos: um apartamento de frente para o mar, no Guarujá é um sítio no interior de São Paulo. Eventualmente mais por pressão de Dna Marisa Letícia do que dele, por uma razão prosaica: onde receber os netos?

No campo pessoal, o interesse foi o de manter o padrão de conforto e mordomia oferecido ao cargo de Presidente da República. Principalmente a realização de viagens ao exterior, em avião particular.

Foram essas motivações pessoais que - provavelmente - o levaram a aceitar os presentes e mordomias oferecidas por Léo Pinheiro. Este, para não arcar sozinho com as despesas, teria chamado Marcelo Odebrecht que autorizou os seus executivos a atender Lula no que fosse solicitado. Mas não teria mantido contatos diretos, como fazia Aldemário, um notório "puxa-saco". Que fez dessa condição a sua ascendente carreira na empreiteira, ocupando o espaço que os sócios iniciais abriram, e transformando a OAS de uma empreiteira média, em uma das maiores do Brasil.

E que, agora, é o principal protagonista da tragédia lulista. Coadjuvado por José Carlos Bumlai.

Como no caso de Al Capone e aqui no Brasil, os casos recentes de Dilma Rousseff e de Eduardo Cunha ele será preso e condenado por crimes menores, para os quais há provas objetivas. A condenação real será pelo conjunto da obra, ainda que não comprovados todos os crimes e a sua participação direta.

Na denúncia apresentada, ele é apresentado pelo ex-skatista como "o criador do propinoduto" e "o comandante máximo do esquema" o que dificilmente ou jamais será comprovado. O único capaz de comprovar essa condição é Jose Dirceu. E este não o delatará. Por conta do código de ética (séé que pode se usar este termo) da máfia. Ou de soldados em guerra.

Até mesmo o caso do tríplex do Guarujá, apesar da repercussão, não há comprovação objetiva de que ele é o proprietário do imóvel. E no que se pega a defesa. No caso, o crime que a ele pode ser imputado é de "ocultação de patrimônio".

Mas o benefício pessoal, que está inteiramente comprovado, é o pagamento pela OAS das despesas com a armazenagem de bens pessoais, pela "irrisória" (dado o volume total do movimento do "petrolão") de R$ 1,3 milhões.

Juridicamente não importa o tamanho do benefício. Foi indevido, oriundo de desvios de recursos da Petrobras e como "brinde" por dar apoio e cobertura aos contratos superfaturados da OAS com aquela estatal.

Tornará a ser réu, nesse processo, somando-se ao de tentativa de obstrução da Justiça, em Brasília e ainda será de vários outros que surgirão.

A falta de reação popular à denúncia, confirma o grande medo que Lula tinha, razão da ocultação do patrimônio.

A militância petista aceita a montagem do esquema, para financiar o partido, para a conquista e manutenção do poder. Não aceita o uso desses recursos para enriquecimento pessoal.

Por essa razão, José Dirceu foi aclamado como "guerreiro do povo" na sua primeira prisão e abandonado na segunda. Quando se descobriu que havia se apropriado de parte para enriquecimento pessoal, foi rejeitado.

A militância poderá sair às ruas para defender o seu guerreiro, mas não irá para defender um "ladrão". A grande e difícil tarefa de Lula, com toda a sua capacidade é vender a imagem de que ele é um guerreiro e não um ladrão.

É o que ele tentou ontem em longo pronunciamento junto à militância mais próxima. Usando a emoção. Não funcionou.

Apenas um pequeno grupo estava reunido à frente da ex-sede do Estadão, no centro de São Paulo. E não há grandes convocações de mobilização popular em sua defesa.

Lula tem pela frente uma força-tarefa e um jovem missionário que, estão na liderança de um grande movimento social anticorrupção. Esse grupo que tem o juiz Sérgio Moro, como o guru e, provavelmente, o "comandante mór", promove o julgamento prévio da sociedade. Usando os meios jurídicos.

É um grande risco político, pois a história registra alguns casos em que a mobilização popular anticorrupção deu margem à formação de ditaduras.

Neste momento da guerra, Lula - tomado como o grande líder da facção corruptiva pela maior parte da sociedade organizada - perdeu a batalha da comunicação.

Corre o risco de perder as próximas e acabará preso e condenado, com a reação de pequenos grupos e abandonado pela maioria, como ocorreu com José Dirceu.

O povo não apoia quem tenha pecha de "ladrão", ainda que não seja provado. Basta a imagem.






























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