Os significados dos resultados das eleições de 2016

Embora ainda faltem as decisões de 2º turno em 55 grandes cidades, das quais 14 capitais, os resultados das urnas de 2 de outubro de 2016 indicam tanto algumas mudanças importantes, como persistência de outros elementos tradicionais.
Três grandes questões precisam ser respondidas preliminarmente, quanto à influência efetiva nos resultados:
  1. a mini reforma política, proibindo as doações empresariais e encurtando o tempo da propaganda obrigatória teve importância decisiva no resultado das urnas?
  2. as manifestações de rua em 2013 e agora em 2016 tiveram impacto significativo sobre os resultados?
  3. os grandes incidentes na superestrutura política como o impeachment de Dilma, a cassação de Eduardo Cunha e os processos (formais e informais) contra lideranças políticas de Brasília, influíram nos resultados?
A partir da avaliação dos impactos desses elementos duas outras importantes questões precisam ser respondidas:
  1. qual será o impacto dos resultados sobre a governabilidade do Governo Temer nos próximos 2 anos?
  2. quais são as perspectivas das eleições gerais de 2018?

Os impactos das novas circunstâncias sobre os resultados das eleições de 2016?

Mini-reforma eleitoral: proibição de doações empresariais e encurtamento do tempo de campanha


A avaliação deve ser pelo sentido oposto, ou seja, se tivessem sido mantidas as regras anteriores, com a permissão das doações empresariais e maior tempo de TV os resultados seriam diferentes?

Sim, no sudeste.

As contribuições das empresas em geral não eram espontâneas, com as suaves solicitações dos que estão no poder e com chances de continuar. O alvo sempre foram os fornecedores do Poder Público, principalmente os construtores de obras públicas.

No sudeste e no sul, provavelmente os Prefeitos candidatos à reeleição ou apoiados pelos Prefeitos atuais se não fossem eleitos em primeiro turno, teriam assegurada a participação do segundo turno. Seriam os casos de Fernando Haddad,  em São Paulo, Pedro Paulo no Rio de Janeiro, de Paulo Brandt (que acabou não saindo candidato do atual Prefeito Maurício Lacerda) em Belo Horizonte, Gustavo Fruet, em Curitiba.
O único que sobreviveu para o segundo turno e mesmo assim em segundo lugar foi o Vice-Prefeito de Porto Alegre,  Sebastião Melo. Cezar de Souza em Florianópolis nem se candidatou em função do índice de rejeição e sem as doações empresariais que poderiam reverter as tendências do eleitorado.
Na área do paralelo 16 ou de transição entre os dois Brasis, em Vitória o atual Prefeito foi para o segundo turno, tendo o Governador como oponente, apoiando o seu adversário. Em Goiânia e em Campo Grande os prefeitos atuais fracassaram amplamente. A candidata do PT, que tem o Prefeito atual, só chegou em 5º lugar. Em Campo Grande, o Prefeito atual amargou um terceiro lugar, ficando fora do segundo turno. Ainda dentro da área de transição, em Cuiabá, o atual prefeito ficou fora da disputa.

Já os Prefeitos atuais das capitais do Norte e Nordeste se não foram eleitos em primeiro turno, asseguraram participação no segundo turno. ACMNeto foi o campeão  com 73.99% dos votos, mas a campeã de votos foi Teresa Surita (ex Jucá) com 79,4% dos votos em Boa Vista. Se reelegeram ainda em primeiro turno, os Prefeitos de Rio Branco, Marcos Alexandre, o  único petista eleito, Carlos Amastha em Palmas, Firimino Filho em Teresina e Carlos Eduardo em Natal. Geraldo Júilio por pouco não leva no primeiro turno e irá enfrentar João Paulo, no Recife. Virgilio Neto em Manaus, Zenaldo Coutinho, em Belém, Clécio em Macapá, Edivaldo Holanda, em São Luis, Roberto Cláudio, em Fortaleza, Rui Palmeira, em Maceió, passaram para o 2º turno. 

Dividindo as capitais pelo paralelo (latitude) 16, pode-se dizer que a falta de doações empresariais afetaram os resultados, com perda significante para os atuais Prefeitos, que nem chegaram ao segundo turno. Já o impacto acima do paralelo 16 foi reduzido, sem as doações empresariais, pelos menos as formais. Não há notícias ou suspeitas flagrantes de doações informais pelo caixa dois. Como os valores financeiros das campanhas são menores do que dos grandes centros abaixo do paralelo 16 é possível que tenham ocorridas doações em dinheiro vivo, sem rastros.

Os aportes dos partidos com recursos do Fundo Partidário podem ter influído mais nos resultados.

A outra hipótese de que a proibição das doações empresariais favoreceriam os candidatos mais ricos que financiariam as suas campanhas com recursos próprios se confirmou em São Paulo, embora esse não tenha sido a principal causa da sua estrondosa vitória, ainda no primeiro turno. Mas ajudou e muito.


Impacto das manifestações de rua


As manifestações de rua que tiveram pouco impacto sobre as eleições de 2014, tiveram impacto maior nas grandes capitais abaixo do paralelo 16, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O impacto maior foi do volume de "não votos", computando as abstenções, os votos nulos e brancos. A descrença nos políticos e na representatividade seriam as causas principais. No caso das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro caberá uma avaliação mais aprofundada por zonas eleitorais.

A boa estratégia de João Dória se apresentando como um empresário trabalhador e não um político ajudou à vitória, ainda no primeiro turno. A avaliação dos dados territorialmente indicam que seria vencedor mesmo em segundo turno, pela reversão dos votos da periferia. Esse abandonaram o PT.

Pode se creditar a ida de Mauricio Freixo ao segundo turno do Rio de Janeiro, ao seu ativismo nos movimentos sociais e nas manifestações populares de rua, embora não da ala majoritária.

Algumas lideranças jovens dos movimentos de rua foram eleitas como vereadores (as). Em São Paulo 3, em Belo Horizonte a mais votada individualmente.

Ainda são poucos, mas indicam um caminho.

Sem dúvida as ruas chegaram às urnas. Não de forma avassaladora, mas "as vozes da rua" foram ouvidas nas cabinas eleitorais.


Os incidentes na superestrutura política

O maior impacto de mudança sobre as urnas foi, sem dúvida a "Operação Lava Jato" pelas suas ações efetivas, porém maior pelo seu simbolismo e por ter grudado na PT o selo de "ladrões da coisa pública" e "corruptos" contrariando frontalmente a sua bandeira ética. Uma grande parte dos seus adeptos sentiu-se frustrada e traída, se prometendo nunca mais votar no PT e nos seus candidatos.

O eleitor puniu o PT e seus candidatos. O julgamento político mais importante não está no Congresso Nacional, em que pese o poder de destituir uma Presidente ou cassar deputados e senadores. Não está no STF, tampouco em Curitiba. O grande júri político está nas eleições. Em 2016 esse júri*, em cada cidade, julgou e condenou o PT, com exceção de duas capitais (uma com reeleição e outra com o candidato petista indo para o segundo turno).

Nas cidades médias (entre 50 mil a 200 mil eleitores), onde já não há segundo turno, o PT alcançou um número simbólico de 13 prefeitos eleitos, dos quais apenas 2 em São Paulo. O seu melhor desempenho nesse segmento foi no Rio Grande do Sul, com 3 prefeitos eleitos, mas abaixo do PDT que conseguiu 6. Nesse segmento no estado o melhor desempenho ficou com o PP (8 prefeitos eleitos) superando tanto o PSDB (4), como o PMDB (1). No computo geral do segmento o PSDB teve o melhor desempenho com 70 prefeitos eleitos - dos quais 23 em São Paulo e 10 em Minas Gerais, seguido pelo PMDB com 53.

Nas cidades pequenas (10 a 50 mil eleitores) ficou em 9º lugar com 96 prefeitos eleitos, contra 352 do PMDB e 301 do PSDB. É um segmento importante, eleitoralmente, tanto para as eleições majoritárias como proporcionais, em função das cotas para a Câmara dos Deputados.  Com 2.018 municípios, envolve um eleitorado total de 43 milhões pessoas.

O PT conseguiu ainda um bom resultado nos "grotões" do Piaui e de Minas Gerais. Com 10 Prefeitos na cidades pequenas e 28 nas micro-cidades, somou 38, ficando logo abaixo do PP que elegeu 40. O PMDB ficou com 21.

A Lava Jato teve impacto avassalador sobre o PT.

* os dados são do Valor de 4/10/2016.

(cont)



Nas

                                                                                                                                           




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