O futuro digital e a resistência analógica

Os líderes e arautos da revolução digital nos mostram um mundo novo fantástico, que está mudando e mudará substancialmente a nossa forma de viver. Acham tudo lógico, inevitável e que nada poderá detê-los. E cada grande conquista é trombeteada de forma ampla e intensa, com o apoio dos investidores que acreditam no seu futuro. 
É uma tendência, mas não inexorável. Há sempre uma resistência do mundo atual, dos conservadores, dos analógicos. Essa resistência atrasa as mudanças e, em alguns casos, pode abortar as iniciativas. Mais tarde elas podem ressurgir, com novas forças. 
O movimento é de intensa produção de avanços tecnológicos e a cada fracasso, novas soluções estarão sendo estudadas para superar os erros ou falhas. Algumas vezes o problema está na economia. No elevado custo da solução, até que alguém invente a mesma solução, mas mais barata.
O novo e fantástico mundo digital deverá ocorrer, mas não no tempo pretendido e anunciado pelos revolucionários digitais. E também não podem garantir que será pela alternativa brilhante ou sombria e catastrófica, como mostram os filmes-desastres do futuro. 
A Google e outros estão investindo pesadamente na geração de automóveis sem motorista. É uma solução digital para um problema analógico: como andar melhor com um veículo sobre vias superficiais? A par dessas pesquisas "do bem", os hackers estão desenvolvendo aplicativos para travar os carros automatizados. Para gerar a "revolta dos carros sem motoristas". Em vez de irem para o passageiro quer ir, aqueles "do mal" vão levar todos para uma manifestação na Avenida Paulista, num domingo de sol, cheio de gente nas ruas para reivindicar "o nosso espaço".
E outro grupo estará buscando soluções para o carro aéreo para independer das vias superficiais congestionadas. 
O carro sem motorista não é uma ruptura. Ruptura é o veículo dos Flintstones sonhada desde a idade da pedra.

Voltando à realidade os jovens querem saber quais serão as mudanças que poderão ocorrer ao longo da sua existência. No que e com o que poderão trabalhar, ganhar e viver?

O principal avanço do mundo digital sobre o analógico é a viabilização setorial da economia compartilhada, com os casos emblemáticos com Airbnb e do Uber. Não são os únicos mas o que tiveram maior sucesso e amplitude.

Para efeito de avaliar as tendências é preciso entender o âmago da mudança. Essa está na possibilidade das pessoas físicas compartilharem os seus bens, obtendo renda com esse compartilhamento. 
Podem compartilhar socialmente, o que dá origem ao negócio. Mas só se transformam em negócio rentável quando passam a gerar renda.
Carona solidária ou hospedagem dos amigos, dos amigos dos amigos ou mesmo de desconhecidos gera uma sociedade compartilhada. Só se transforma em economia compartilhada quando essa "gentileza" é cobrada. 
A base conceitual do Uber é favorecer o proprietário de um automóvel em compartilhar o seu veículo para uso de terceiros, recebendo por isso. Ele poderá fazer isso sem ter licença específica dos serviços análogos que é o de taxis, ou sem pagar qualquer tributo adicional. Só os tradicionais do veículo, como o IPVA.
Lançado pode ser aceito, como rejeitado. Se aceito irá sofrendo ajustes que poderão resultar na sua morte prematura. Mas ressuscitará em novas formas. 
O maior golpe contra o Uber não será dos taxistas. Mas da Receita Federal, exigindo os pagamentos feitos aos seus motoristas cadastrados e cobrando o imposto de renda. Depois do primeiro susto e algumas desistências, a Receita Federal irá cobrar o imposto na fonte.

A grande vantagem inicial da economia compartilhada é fugir das regulamentações e dos impostos. Por isso tem a ampla aceitação dos que querem total liberdade de escolha e não ter que pagar impostos. Mas vai acabar se enquadrando no mundo analógico até alcançar um mecanismo de financiamento digital, inteiramente livre de impostos. Isso significará acabar com o Estado. Sem a consideração se isso vai ser bom ou mal é preciso avaliar se isso poderá mesmo ocorrer?
E quando?
Muitos dos serviços públicos, supostamente gratuitos, como o ensino superior em universidades públicas são financiados por impostos. Em São Paulo sem o pagamento do ICMS as universidades estaduais ficarão sem a sua principal fonte de renda. Terão que cobrar dos alunos ou fechar. Com uma forte reação dos estudantes e da sociedade.

Mas os "digitais" não podem se preocupar com isso. Porque se forem pensar nas restrições institucionais, nos tributos não irão inovar. 

Portanto, com todas as reações contrárias e dificuldades a economia compartilhada irá avançar. Não na velocidade e amplitude desejada pelos "digitais", mas seguirá avançando, entre vitórias e derrotas.

Será um dos campos que oferece as maiores oportunidades para as "start ups" de amplitude mundial. 

A pergunta é: o que você tem que pode compartilhar com terceiros, recebendo por isso?
  • casa: Airbnb e outros já atendem;
  • carro: cadastre-se no Uber.
O que mais que você pode compartilhar e não percebeu?

Viabilizar esses novos compartilhamentos, de forma ampla, mediante aplicativos pode ser a sua grande oportunidade de "se dar bem".


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