A venda de ilusões

Passei dois dias e meio  em Ilhéus para entender melhor a questão do Porto Sul, ouvindo - principalmente - os oponentes do projeto e que me convidaram para proferir uma palestra a respeito. Aberta ao público, com a participação de pessoas favoráveis, coincidiu com o dia do anúncio de um acordo firmado pelo Governador na China, com interessados em assumir o projeto.

Continuo cético em relação ao projeto. Entendo que não será efetivado por não ter viabilidade econômica. Mesmo com o interesse demonstrado por grupos chineses. Daqui a pouco eles aportarão no Brasil, farão algumas consultas e estudos. Ao completar as contas vão embora e deixar as intenções nos esquecimentos.
Os chineses tem dinheiro e muita vontade de investir em projetos no exterior que estejam alinhados com os objetivos estratégicos de longo prazo, definidos pelo PCC. Mas sabem fazer contas e não estão dispostos a "jogar dinheiro fora".

A primeira questão é o complexo BAMIN, FIOL e Porto Sul estão alinhados às estratégias chinesas de longo prazo. Logicamente sim. A China precisa garantir fontes diversificadas de suprimento de minério de ferro para alimentar a sua imensa siderurgia e afogar o mundo ocidental com a oferta de aço barato. Incluindo o Brasil, que já vê a destruição da sua siderurgia.

Precisa ademais de muitos grãos de soja para alimentar a sua bilionária população. O Brasil será o seu principal supridor.

Portanto é natural o interesse. Mas é apenas o primeiro passo.

O Governo da Bahia tem interesse em viabilizar um terminal de minérios, denominado de Porto Sul. Apesar do nome não é um porto, mas um terminal portuário. Há várias diferenças entre o porto organizado e o terminal portuário. No caso, o importante é que o terminal é privativo e não apenas privado. Tem que estar dedicado a operação de carga própria. Poderá operar carga de terceiros, mas de forma restrita.

Há duas implicações importantes nessa diferenciação: a primeira é de que o terminar terá que ser da Bamin. A segunda é que não poderá operar com soja. Para operar com soja será necessário um segundo terminal. 

Em relação à primeira significa que o empreendimento terá que ser integrado minério-porto. O proprietário de ambos terá que ser o mesmo. A eventual venda da mina a um interessado e o terminal a outro, não viabiliza a operação do terminal. 

Na configuração proposta o Porto Sul só poderá embarcar o minério da Bamin. 

Se a Bamin ficar com os atuais controladores e os chineses se dispuserem a empreender o Porto Sul será necessária uma complexa triangulação para que o minério de Caetités seja embarcado no terminal em Ilhéus.

Ou seja, não basta arrumar um empreendedor ou investidor para o Porto Sul. Ele tem que assumir também a Bamin. 

Em resumo, se a Bamin for viável e produzir milhões de toneladas de minério, o Porto Sul poderá ver viável. Se a Bamin não tiver uma produção substancial de minério o Porto Sul será inútil. 






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