Serviços "tradables" e "nontradables"

"Tradables" são produtos comercializados mundialmente, sem fronteiras, de tal forma que os produtos locais tem a concorrência dos produtos de fora.
"Non tradables" são produtos vinculados a um local, como a construção de uma casa, de uma estrada ou um serviço de transporte urbano de passageiros. Os serviços às pessoas ou às famílias tem que ser prestados onde os clientes estão, não estando sujeitos à concorrência externa.

Essa diferença é relevante para a definição de políticas tarifárias em relação às importações. Tarifas mais altas sobre produtos estrangeiros protegem a produção local. E a tributação é feita no ingresso da mercadoria no país.

Já os serviços seriam intangíveis, sem a caracterização de produto físico, desembarcados num porto ou aeroporto. 

A evolução tecnológica vem mudando substancialmente esse quadro. Os serviços também estão se tornando "tradable". 

O prestador de serviço pode exercer a sua atividade muito distante do cliente. O médico pode responder a uma consulta, consultando radiografias, resultados de exames e outros, mesmo estando em outro país. O serviço pode ser configurado num software, onde o elemento físico são algorítimos registrados digitalmente. Assim, o prestador de serviço está sujeito à concorrência de outro prestador, qualquer local que ele esteja, desde que conectado por um meio de comunicação digital e sem ser alcançado por tarifas aduaneiras.

Outra mudança substancial está na visão concorrencial a partir dos gastos alternativos do consumidor ou usuário final. Isso fica evidente na avaliação da concorrência dos serviços turísticos. A concorrência não é entre um hotel e outro, mas de um polo receptor de turistas e outro, sendo que podem estar dentro do mesmo país ou em países diferentes. 

Um turista brasileiro ao se hospedar num hotel estrangeiro está importando serviços. Ao contrário um turista estrangeiro se hospedar num hotel brasileiro, corresponde a uma exportação por parte desse. É um comércio externo de serviços, envolvendo bens materiais fixos (o imóvel do hotel), mas que não passa pelas alfândegas.

Segundo as contas nacionais, o item consumo das famílias compreende, além dos gastos delas no país, os feitos no exterior, em viagens de turismo.

Envolvem, principalmente as contas com alojamento e com alimentação. As últimas contas desagregadas por esses itens, dentro das contas nacionais, referem-se a 2013, e mostram que:
  • de um total de 175 bilhões de reais produzidos pelo setor de serviços de alimentação que envolve - principalmente - a alimentação fora de casa (food service: bares, restaurantes e similares) - apenas 3 bilhões foram servidas a turistas estrangeiros, mediante pagamento com cartão de crédito/débito daqueles. Os eventuais pagamentos dos turistas, em reais, não entraram nessa conta;
  • em contrapartida os turistas brasileiros fizeram refeições no exterior, pagando com cartõeso equivalente a 11 bilhões de reais, determinando um déficit na conta desse item de 8 bilhões de reais;
  • na atividade hoteleira, os brasileiros, no exterior, gastaram 16 bilhões, enquanto os turistas estrangeiros deixaram apenas 4 bilhões em hotéis no Brasil;
  • o déficit conjunto das duas atividades típicas do turismo nas contas nacionais de 2013, foi de 20 bilhões.
O que é exportado eleva o PIB, o que é importado influe negativamente. Nesse sentido a atividade de turismo brasileiro, economicamente, contribuiu negativamente na evolução do PIB.

Os dados de 2014 irão indicar se a realização da Copa do Mundo no Brasil reverteu essa situação. E se 2015, com a elevação do dólar, o resultado nas contas nacionais foi  mais favorável. 
 








 

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