Interpretações das interpretações

O fato real: milhões de pessoas foram às ruas em diversas cidades do Brasil para se manifestar contra a corrupção, pedir a saída de Dilma da Presidência e apoiar o Juiz Sérgio Moro e a Operação Lava-Jato. 
Qual vai ser a interpretação da Presidente, do seu grupo, do PT e de Lula?
E qual a interpretação da interpretação da Presidente e seus acólitos? E o que vão ou poderão fazer?

A estratégia envolve sempre um confronto entre partes no qual cada parte procurar vencer a outra. E a base da estratégia é tentar entender a reação do outro e prever quais serão os seus próximos lances.

As manifestações de rua de ontem, 13 de março de 2016, caracterizam bem uma das partes: o Governo Dilma, que os manifestantes querem derrubar. Eles querem a Presidente Dilma fora do poder, fora do Governo. 

O outro lado é difuso.  Tem de quase tudo. E nenhuma liderança evidente. Os líderes formais que se aventuraram a aparecer foram vaiados. Foram manifestações espontâneas, difundidas pelas redes sociais. Essas substituem as antigas "boca a boca" ou as "rádio peões". E promovem  a reunião de massas daqueles tomados pelos mesmos sentimentos comuns. Ainda que com diferenças específicas.

Diante da inegável realidade de multidões protestando contra o Governo e o partido que representa, estes adotam duas interpretações básicas:
    1. o Governo permitiu a livre e pacífica manifestação das massas. Assegurou um direito democrático.  Não promoveu qualquer repressão, como o fez a Polícia Militar de São Paulo, no dia anterior, reprimindo uma manifestação privada organizada pela UNE e Sindicato dos Metalúrgicos em Diadema;
    2. Seis ou três milhões foram às ruas, mas nem outros cinquenta milhões que não votaram em Dilma foram.
A partir dessa visão de minimizar a relevância das manifestações  o Governo e o PT, não aceitam a hipótese de largar o poder, com a renuncia da Presidente. São afinal apenas 6 milhões - se tanto - contra os 54,5 milhões de votos que a elegeram.

Isso pode levar a uma tentativa de mobilização dos seus apoios populares, para contrapor ao 13 de março de 2016. Há exatamente 52 anos atrás, o Governo de Jango, acuado promoveu uma mobilização popular, junto à Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. A baixa participação relativa da população, apesar da multidão presente, levou os militares a deflagrar o golpe ainda no mesmo mês. A diferença é que havia uma liderança organizada disposta a tomar o poder.

O Governo, ou mais o PT pode ser tentado a mobilizar os seus apoios, o que será um grande risco: a minimização da importância dos 3 milhões de "coxinhas" que foram às ruas em 13 de março ficarão imensos diante de eventuais um milhão de petistas, dilmistas ou lulistas. 

O Governo precisará que boa parte dos cerca de 30 milhões de bolsistas familiares deixem as suas casas para irem às ruas, defender os seus lideres. Se não conseguir reunir mais que os 3 milhões percebidos, por ele, fará ruir a tese de minimização da importância do 13 de março.

A outra alternativa é deixar que a reação popular se esvazie, como ocorreu anteriormente. Contar com o cansaço natural dos manifestantes e da perda do apoio ativo. E lutar no campo político para a preservação do mandato.

Significa não dar importância ao tamanho das manifestações e reagir - burocraticamente - como já o fez com uma nota oficial, enfatizando o caráter pacifico e democrático: "nada muda, tudo segue como dantes".

O problema maior não é a interpretação da Presidente, dos seus acólitos e do PT, mas a dos aliados. As dos oponentes ou não aliados são evidentes, mas - supostamente - ainda minoria. 

2 milhões de supostos "coxinhas" na Avenida Paulista ou em Copacabana não elegem um Presidente, mas 10 a 20 mil na sua base eleitoral são fundamentais para a eventual reeleição do deputado federal. O problema do deputado federal, principalmente do baixo clero, é a adesão ou não dos seus eleitores ao "fora Dilma". 

Os candidatos a Prefeito, dos partidos da atual base aliada, tem um problema maior. O apoio e relacionamento com o Governo Federal sempre foi importante para vender a idéia aos eleitores de que com aqueles ele poderia trazer mais benefícios para a população. Nas circunstâncias atuais, o Governo Federal não tem como ajudar muito os Municípios. E a imagem é negativa perante os eleitores. O relacionamento com o Governo Federal pode significar perda e não ganho de votos. Que o diga Fernando Haddad.

O maior risco é que os supostos aliados "deixem o barco". O PMDB, por ter se reunido na véspera, cautelosamente, não decidiu em definitivo, mas deu um "aviso breve" de 30 dias.
Os políticos nordestinos, a começar por José Sarney, dizem que ela não vai comer o "milho de São João", como Presidenta.  No campo político, o Governo terá que atuar fortemente para que o PMDB não o cumpra. Mas já não tem muita munição. E, no aviso prévio o PMDB já registrou que não aceita cargos em troca de apoio.

Supõe que os demais aliados só estão esperando uma ação do PMDB para acompanhá-lo. As posições dos políticos da base aliada são muito claras: ficar do lado vencedor.

Há vários obstáculos pela frente e o Governo, neste momento crítico, está com um grande desfalque. O seu principal estrategista profissional, o grande "mago" capaz de interpretar corações e mentes dos outros, está preso.

A Presidenta e o seu governo vão resistir. De forma amadora, levando um gol atrás de outro. 

Terão um suposto alívio, por conta de um paradoxo. A economia vai melhorar a curto prazo. Por uma razão simples: os empresários retomarão as atividades, na expectativa da queda de Dilma. Eles não querem ser pegos sem estoques ou capacidade de produção, com o reaquecimento da economia que acreditam que ocorrerá com a queda da Presidenta. Será mais uma vez uma profecia auto-realizada. 



 


   

 

   

  
 

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