A visão pessedebista da cidade de São Paulo

O jornal Valor Econômico promoveu um debate com os três pré-candidatos  do PSDB à Prefeitura de São Paulo, o que dá uma idéia sobre a visão "tucana". Ainda é uma visão parcial e enviesada em função do interesse do público leitor do principal jornal de economia do país.
É um jornal para a elite, focada nos investidores, nos rentistas. A maioria moradora da cidade* dentro do centro expandido e arredores. Ou em Alphaville, que já é outro município. Mal conhecem o lado pobre da cidade, a não se de passagem ou pelo noticiário.

A visão dos candidatos já é enviesada pela pauta dos temas colocados pelo jornal. A qual enfatiza as medidas implantadas pelo atual Prefeito.

Mas é possível identificar algumas diferenças fundamentais em relação à visão "haddadista"**.

Todos são a favor da melhoria da qualidade do transporte coletivo, mas - diversamente de Haddad - não querem penalizar o usuário do carro. Entendem que esse deve ter o seu espaço e condições adequadas para a sua circulação. Por exemplo são contra a redução drástica de velocidade nas Marginais assim como a sucessiva alteração de velocidades. 

No campo ideológico, supostamente, os dois principais partidos nacionais, o PT e o PSDB seriam social-democratas, sendo o primeiro com viés de esquerda, mais próximo ao socialismo e o segundo com viés de direita, mais próximo ao capitalismo.


As visões ideológicas diferenciadas sobre a cidade podem ser marcadas em relação ao seguintes pontos principais:
  1. prioridade do território de ação:
    1. focado na "cidade" (Haddad e "tucanos");
    2. focado na periferia (Marta e Russomanno);
  1. posição em relação aos carros:
    1. busca de melhoria à sua circulação, eliminando gargalos e ampliando o sistema viário (visão malufista);
    2. priorização do transporte coletivo, mas sem penalização do uso do carro (visão Serra/Kassab)
    3. penalização do uso do carro (visão Haddad);
  1. ocupação da cidade:
    1. priorização da qualidade de vida "burguesa" na cidade("tucanos");
    2. direito de todos à cidade (Haddad). 

A visão da qualidade "burguesa" enfatiza a modernização, a estética urbana e desconsidera os efeitos sociais dessa modernização que, na prática, é excludente. Os pobres não tem condições formais de sobreviver na cidade, sendo afastado para a periferia.
A menos de guetos. A visão "higienista" é de remoção deles da cidade ou confiná-los. E evitar que se expandam ou se proliferem.

O problema principal é a "cracolândia". Outro problema é a invasão pelos sem teto de imóveis desocupados dentro da cidade.

A visão da "inclusão" ou da "cidade inclusiva" está na aceitação dos "guetos" e na sua proteção pelo Poder Público. Busca viabilizar a ocupação pelos mais pobres dos imóveis ociosos e abre o espaço público para sua utilização plena por todos (caso da Avenida Paulista, nos domingos).

Outro tema de contraposição ideológica é o tratamento do mercado imobiliário. O discurso do PT é frontalmente contra, sob o epíteto de "especulação imobiliária", mas na prática ajusta as medidas de interesse daquele setor que, na prática, constrói a cidade verticalizada. 

A população pobre é, normalmente, contra o mercado imobiliário porque não tem condições de acesso aos produtos que ele lança. Os acusa de promover a destruição dos ambientes naturais e históricos, substituindo-os por paredes de concreto e agora de vidro, de estéticas discutiveis, além de promover a inflação no custo de vida dos bairros onde chega. Expulsa os moradores originais e inviabiliza a permanência dos mais pobres. E tem o apoio dos partidos e candidatos de esquerda.
 
O PSDB é um defensor envergonhado da atuação do mercado imobiliário. É a favor da modernização e da verticalização promovida por esse mercado, mas tem receio de perder a sua ala ambientalista, dos urbanistas e dos eleitores anti-especulação imobiliária.

O receito dos candidatos e partidos em assumir posições mais firmes leva as campanhas ficarem muito iguais, com propostas genéricas ou com diferenças em relação a questões menores.

Na visão ideológica sobre a cidade, faltam os candidatos e proposta mais radicais e consistentes:
  • de um lado a visão malufista, de modernização da cidade pela infraestrutura viária e pela maior liberdade do mercado imobiliário;
  • de outro, a visão socialista de Luiz Erundina que não teve condições de implantar os seus designios, principalmente a "tarifa zero" para o transporte de ônibus. Manteve-se firme nas suas convicções.
O maior dos desafios para um governante do Município de São Paulo, com visão de estadista é a divisão entre a cidade e a periferia. 

O debate inicial dos três pré-candidatos do PSDB mostra que a visão deles é focada sobre a "cidade", o centro, com pouca atenção sobre a periferia. Quando muito tem propostas genéricas e de pouca efetividade, como incentivar a instalação de empreendimentos geradores de emprego na periferia. Ninguém tem proposta mais aprofundada e consistente sobre como efetivar. O que foi feito até agora não deu certo.

A tendência de todos é fazer discursos populistas, com promessas vagas ou mirabolantes que não terão condições de cumprir.

A visão pessedebista, voltado para a cidade fará com que o candidato escolhido vá disputar com Fernando Haddad os eleitores da cidade. Mas que vai eleger o Prefeito será, mais uma vez, a periferia  


* o Municipio, na prática, é dividida entre a cidade que é moderna, rica, suprida da infraestrutura e serviços públicos e privados, onde moram, predominantemente os ricos e a classe medía superior e a periferia onde mora a maioria da população, predominantemente de classe média baixa e dos mais pobres, sendo que grande parte trabalha na cidade.


** Fernando Haddad, embora um petista de carteirinha, não segue inteiramente a "cartilha do PT", de atendimento prioritário dos que mais precisam e que moram na periferia. O seu foco é a cidade, com o objetivo de democratizar a sua ocupação e usufruto.


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