Desde o fim dos anos oitenta venho defendendo a multinacionalização da empresa de origem brasileira, como condição para o Brasil se integrar nas cadeia produtivas globais.
A ideia, na ocasião, foi de mundialização da empresa brasileira, pois o termo globalização ainda não havia emergido. Embora o processo já estivesse em amplo curso no mundo.
Deveria ser objeto de uma política pública de apoio do Governo à empresas nacionais a se instalarem com unidades produtivas no exterior. Para a venda de produtos de maior valor agregado de demanda internacional poderiam produzi-los nos países demandantes, exportando insumos básicos e produtos intermediários. Como é a estratégia geral das multinacionais de origem estrangeira no Brasil.
Apresentada a ideia e discutida num meio empresarial, diante da objeção de escolha por burocratas ou tecnocratas estatais dos setores ou empresas que deveriam ser apoiadas, lancei a idéia das "campeãs nacionais": o apoio deveria ser dada a empresas brasileiras privadas bem sucedidas. Que já houvessem demonstrada a sua competência tanto no mercado interno, como em exportações.
A inspiração foi a política industrial da Coreia que vinha promovendo, já com sucesso, as suas "campeãs nacionais": Hyundai, Samsung, LG e outras.
A proposta era mais pretensiosa. Com base na experiência sul-coreana a ideia era que a multinacionalização da empresa brasileira fosse a base de um novo projeto nacional.
A ideia foi recebida com descrença e não progrediu no meio empresarial. Levei o tema ao BNDES, onde tinha conhecidos, e foi liminarmente rechaçada: "onde já se viu, usar recursos nacionais para desenvolver atividades e gerar empregos no exterior?"
Reconheci a minha pretensão inusitada e me recolhi inteiramente e minha insignificância.
Deixei de lado a idéia, e fui cuidar de outros temas.
Eis que com a crise da Oi, reemerge o tema "campeães nacionais" com severas críticas ao que teria sido a estratégia desenvolvida pelos governos do PT de campeãs nacionais. Embora a Oi, tenha tido origem ainda no governo FHC, no bojo da privatização das telecomunicações brasileiras. Começou com a privatização da Telemar, isto é, da Telefônica do Maranhão.
A ideia das campeãs nacionais foi ampliada e distorcida. E foi usada para fins escusos.
A principal campeã nacional, bem sucedida no exterior foi a Construtora Norberto Odebrecht, transformada num grande grupo multinacional, com inúmeros contratos no exterior. Contratando equipamentos e serviços brasileiros. A Operação Lava-Jato demonstrou que esse sucesso foi alcançado com amplo apoio governamental, dentro de uma parceria nada republicana. Foi a principal fonte de corrupção do esquema gerido pela coligação política que assumiu o poder desde 2003. O grupo Odebrecht se tornou a campeã nacional da corrupção. E talvez uma das maiores do mundo.
A maior distorção, no entanto, foi a política de apoio governamental a grupos nacionais para enfrentar, no mercado nacional, as multinacionais.
Essa foi a concepção dos tecnocratas tucanos ao promover a criação de uma empresa nacional de telecomunicações para evitar o total domínio do setor por multinacionais. Com amplo apoio do BNDES.
O modelo foi herdado e desenvolvido pelos governos petistas, com sucessivas distorções o que resultou no colapso da Oi.
Anteriormente o grupo Eike Batista tinha fracassado na pretensão de criar um grande grupo nacional no setor de infraestrutura, ancorada por uma petroleira privada brasileira.
A estratégia original das campeãs nacionais era de promover a globalização da empresa nacional e, nesse sentido, nem tudo é fracasso.
O caso mais bem sucedido, embora já tivesse antecedentes de atuação externa é a Cia. Vale do Rio Doce, atualmente apenas Vale, privatizada para um conjunto formado por bancos e fundos nacionais, que se expandiu amplamente após a privatização. O seu sucesso foi empanado pelo maior desastre ambiental de responsabilidade de uma subsidiária.
O sucesso mais visível e admirado é o da Embraer, também privatizada para fundos de investimentos, incluindo fundo semi-estatais, hoje a terceira maior empresa mundial do setor aeronáutico.
Sadia e Perdigão foram outros casos de sucesso. A crise financeira da Sadia, por conta de desastradas operações com derivativos, levou a ser incorporada pela Perdigão, formando a BRF, um grande grupo multinacionais de controle brasileiro. É uma campeã nacional, com forte apoio governamental através do BNDES.
O maior sucesso da estratégia de campeãs nacionais, que acabou sendo colocada em prática, pelos governos petistas, é a JBF, conhecida no Brasil pela marca Friboi. Mas com uma ampla rede de empresas na cadeia produtiva da carne bovina, sendo o maior grupo mundial do setor. É porém um sucesso suspeito, com várias ligações políticas ainda sob críticas e investigações.
Outro grande sucesso, embora não mais reconhecido como da estratégia de campeãs nacionais e a AMBEV. O grupo é hoje uma transnacional, com participação acionária de brasileiros, belgas, norte-americanos e centenas de acionistas pulveirzados de diversos países. O casamento da Brahma com a Antarctica que resultou na criação da AMBEV foi abençoada e patrocinada pelo Governo, então de FHC, com recursos do BNDES.
Não foram só fracassos. Há sucessos. Nem tudo são espinhos. Há flores, mas o que machuca são os espinhos. Mas algumas das belas flores cheiram mal.
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