Tripé macroeconômico x nova matriz econômica

Diante de um processo inflacionário e riscos de calote nos empréstimos e títulos, o sistema financeiro internacional consolidou, ainda nos anos noventa, um modelo de gestão das economias nacionais, caracterizado como "tripé macroeconômico" compreendendo, câmbio flutuante, metas de inflação e metas de superávit orçamentário. 
Através desse modelo que consolidou as proposições iniciais do chamado "Consenso de Washington" os investidores poderiam investir num país, seja nos títulos do seu Tesouro Nacional, como de suas empresas, com maior segurança e monitorando os riscos. 
Através da aplicação desse modelo, o Brasil conseguiu controlar uma inflação desenfreada, vencer a estagnação e ampliar a sua participação no comercio internacional.
Iniciada pelo então Ministro Fernando Henrique Cardoso, consolidada em seus dois Governos e mantida durante o primeiro mandato de Lula, restabeleceu a confiança do Brasil junto ao mercado financeiro internacional. 
Os trabalhadores e a esquerda sempre contestaram esse modelo que priorizava o controle da inflação ao crescimento econômico e tinha como um dos principais instrumentos a contenção da remuneração dos trabalhadores. Caracterizado por esses como "arrocho salarial". 
No início do segundo mandato de Lula, com a ocorrência da crise financeira internacional (2007 a 2008) o Governo foi abandonado esse modelo, para desenvolver uma política "anticíclica" baseada no fortalecimento do consumo interno, através da melhoria da remuneração dos trabalhadores, aliado a mecanismos de financiamento e ampliação dos gastos públicos.
Mesmo tendo passado a turbulência inicial da maior crise financeira internacional, após 1929, na qual o Brasil passou incólume (apenas uma "marolinha") o Governo insistiu em manter a nova política. Com Dilma Rousseff como Ministra da Casa Civil, mas na prática a Ministra da Economia, comandado Guido Mântega, como seu subordinado, na chefia formal do Ministério da Fazenda.
Eleita Presidente, ampliou esse modelo, forçando redução de juros, aceitando uma inflação maior em troca da maior crescimento econômico e ampliação dos empregos. Adoção de subsídios para manter a inflação sob controle.  Ampliação dos gastos públicos, sacrificando o superávit primário, para alimentar os programas sociais e valorização do real, perante as moedas estrangeiras.
O resultado foi uma sustentação da econômica em níveis baixos, mas com manutenção de elevados índices de emprego. 
Transferiu para o Governo subsequente, dela mesmo, gastos públicos escamoteados em adiantamentos por bancos oficiais, reajustes contidos, bolha imobiliária e outras heranças malditas.  E ainda uma horrorosa herança submersa, escondida, que a Operação Lava-Jato trouxe à tona: um enorme esquema de corrupção envolvendo políticos, o PT e outros partidos e todas as maiores empresas de engenharia brasileira. 
Para enfrentar essa herança abandonou a nova matriz econômica e voltou ao tripé macroeconômico, com a frustração do seus eleitores, do seu partido e da base aliada.
Dos três pés, apenas um se tornou efetivo e com resultados favoráveis, ainda que com sequelas indesejáveis. A desvalorização do real, associada à recessão promoveu um grande superávit comercial e uma substancial redução no déficit corrente. Foram resultados positivos, apesar de uma queda nas exportações.
O Banco Central cumpriu a sua missão: aumentou sucessivamente a taxa de juros, mas não conseguiu trazer a a inflação para o centro da meta. Há um grande questionamento sobre a eficácia do remédio. Tanto que o Banco Central suspendeu a aplicação e está em dúvida se retoma ou altera.
O principal fracasso ocorreu no pé do ajuste fiscal. Não se alcançou o superávit fiscal, a resistência aos cortes foi forte, o Brasil perdeu o grau de investimento e o Ministro Levy saiu. 
A pressão pela sua saída, por parte do PT, foi para encerrar a aplicação do tripé macroeconômico e retomar um modelo mais desenvolvimentista.
O "sistema financeiro" não tendo conseguido impor o seu modelo, desisitiu de manter o seu representante no Ministério da Fazenda.

Nelson Barbosa, embora tenha uma visão mais flexivel em relação ao déficit fiscal, assumiu propondo em mexer em dois tabus dos sindicatos: a reforma previdenciária e a trabalhista. Acenou com um "agrado" ao sistema financeiro, mas não obteve o apoio esperado.

Podem ser desenhados dois cenários básicos, com relação aos rumos da economia:
  1.  manutenção do tripé macroeconômico, porém com mais flexibilidade:
  2. mudança para a nova matriz econômica.
Diante dos avanços e resultados, a manutenção da política do câmbio flutuante, gerando a melhoria das contas externas, seria uma vitrine para mostrar resultados positivos e tentar restabelecer a confiança do setor privado. A reversão dessa política para usá-la como elemento de controle inflacionário, poderia resultar num desastre maior.  Voltaria o déficit cambial, com reflexo duvidoso em relação ao restabelecimento do emprego. Isso ocorreria pela redinamização do comércio. 

Por outro lado, o aumento de juros não tem sido eficaz no combate à inflação e vem prejudicando os investimentos produtivos. Envolve o principal dilema da política econômica 2016. Tendo em vista, ademais a semi-independência do Banco Central. O cenário mais provável é de uma pressão do Governo para a manutenção da taxa de juros, contendo novos aumentos. 

Não satisfaria o PT e os trabalhadores que reivindicam a redução da taxa de juros, por uma visão simplista. Mas política. A repercussão, junto ao mercado financeiro, de uma redução da taxa básica, seria altamente negativa e pouco influiria nos juros na ponta final dos tomadores de empréstimos, de forma explicita ou embutida nos saldos negativos do cartão de crédito ou cheque especial. 

O ajuste fiscal no Congresso será o principal elemento de confronto. A perspectiva mais provável é de impasse. As iniciativas serão sempre do Executivo. Algumas passarão, outras não. O ajuste nunca será completo. E o Governo se verá obrigado a cortar muitas despesas que não deseja. 

Tendo, como pano de fundo uma guerra política, o ajuste fiscal, que depende do Congresso, continuará travado. Para efeito da plateia, novas cenas serão apresentadas, mas apenas como espetáculos.

O Governo ficará limitado à política cambial e a de juros. Dependerá do controle sobre o Banco Central. Será ai o campo das novas batalhas. Deslocando-se do Congresso Nacional.












 

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