Serviços com produtos e serviços puros

O marketing inventou uma visão de que as pessoas não compram produtos, mas serviços. Ou o atendimento a uma necessidade ou desejo, propiciada pelos serviços. Mesmo quando a pessoa consome um bem físico, como um sorvete, nesses dias de verão, ela estaria comprando uma satisfação de se refrescar. E porque escolher um sorvete e não outro? Porque além da qualidade do produto estaria se vendendo ou comprando imagem, que tem um custo e um valor.

Do ponto de vista econômico, valor do serviço estaria se adicionado a um valor de produto. A contribuição da atividade de serviço seria acima do custo do produto que está sendo oferecido com o serviço. Para efeito do PIB seria só o valor adicionado e não o valor total pago pelo consumidor. 

De toda forma, há um valor adicionado de serviços que gera uma riqueza. Esse será destacado se o serviço é prestado por um terceiro. Será considerado como valor adicionado do produto industrial se o serviço é prestado pela própria indústria.

Há no entanto, um conjunto de serviços que não se agregam a um produto físico. Dependem inteiramente do trabalho humano. Podem ate se utilizar de instrumentos físicos, que são auxiliares e não principais.

Um jardineiro não está vendendo uma tesoura ou o corte dessa. Está vendendo serviços que usa a tesoura e outros pequenos apetrechos como ferramentas.

Quando se levanta a questão da economia de serviços, logo se pensa em Google, Apple, Microsoft e produção e venda de conhecimentos de tecnologia da informação.

São serviços inovadores que tomaram conta do mercado mundial, gerando grande riqueza. Serviços que geram inspiração e trazem grandes expectativas para pessoas e paises para enriquecimento e desenvolvimento.

Tais serviços tem maior visibilidade pelo sucesso mundial, mas são quase uma loteria. Entre o universo de start ups, poucos se transformam em sucesso mundial.

O conjunto de serviços é muito mais amplo e somam também muitos serviços "pobres", mas que, acumulados, tem peso importante na formação do PIB.

Com o envelhecimento da população um serviço em grande ampliação é de cuidadoras de idosos. Uso esses serviços em casa, para cuidar da minha sogra, que está hà vários anos presa a uma cama. Os serviços dela são estritamente pessoais. Todos os medicamentos, produtos (como fraldas geriátricas) e instrumentos são supridos pela casa. São serviços microempresariais que, para efeito do PIB se soma à conta de serviços.

Como o conjunto dos serviços correspondem a cerca de 50% do PIB, para um aumento de 1% do PIB, basta acrescer 2% da geração de "riqueza" pelos serviços, se todos os demais componentes se mantiverem estáveis.

Eventuais incentivos à produção e/ou consumo de serviços teria efeitos positivos maiores em termos de PIB e de emprego do que a incentivos dados ao consumo de produtos industriais.

Ou não!

Os macroeconomistas monetaristas não aceitam nem iniciar essa discussão porque são contra qualquer política ou medida considerada como vertical. Eles só aceitam as medidas horizontais, condensadas no tripé macroeconomico: gestão fiscal, com metas de superavit primário, metas de inflação e câmbio flutuante. A economia deve se ajustar por si mesmo, em função das suas preferências e disponibilidades.

Por não ser economista, me atrevo a discutir como os serviços podem alavancar o crescimento. E se é viável ou conveniente política setorial de estímulo às atividades de serviços, para redinamizar a economia.  

Valendo-me do meu caso pessoal. Sou um consultor e presto serviços, vendendo conhecimentos que não são de tecnologia da informação. Gero riqueza com o meu serviço, com apoio num computador. O custo do computador é irrisório dentro do valor do meu serviço. O custo maior é o tempo dedicado à busca e produção de conhecimento. Caracterizado no setor como homem/hora.
Tenho clientes que me remuneram pelos conhecimentos produzidos, sem a agregação de produtos. É serviço puro. Num mercado local, restrito. E presto serviços, principalmente, para outras empresas de serviços. Que geram riqueza pelos seus serviços.

A atividade de consultoria de gestão, no entanto, tornou-se um enorme negócio mundial, com multinacionais de porte que atuam em diversos paises, reunindo ao todo milhões de consultores, gerando conhecimentos e riqueza. Com as empresas e governos pagando pelos serviços da McKinsey, Brain, Price e outras.

Gasto praticamente tudo com consumo, além do pagamento de tributos. Pagando por produtos, comprados nos supermercados e por serviços. Dentro de casa e fora de casa. Este principalmente alimentação.  As pessoas que recebem o que gasto vão gastar em consumo.  O meu gasto aumenta a conta de consumo das famílias dentro do PIB e os fornecedores aumentam o consumo, multiplicando pelo chamado efeito renda, o consumo das famílias. A pequena riqueza gerada pelo meu trabalho é transformada em renda e retorna ao circuito economico, demandando mais serviços.

Se eu aumentar a produção, contribuo mais para a formação do PIB. Contribuo para um maior giro da economia e para o seu crescimento.

Se o comprador está com restrições de renda e consome menos tenho que reduzir a produção remunerada. 

O circuito passa a ser o inverso. Reduzo a produção, consumo menos e contribuo para a contração global da economia. 

Como então incentivar o consumo de serviços puros?

Por onde começar?

Confesso aqui, que ainda estou girando em círculos, sem achar uma saída. 

Vou trazer à colação, como gostam de dizer os advogados, outros serviços, incluindo o deles.

Qual é a contribuição dos serviços jurídicos para a formação do PIB? 

Os serviços jurídicos são da categoria de serviço puro. Geram riqueza pelo trabalho do advogado, pelo conhecimento que ele produz. Pode ser um conhecimento útil ou inútil. Útil quando acatado, inútil se não acatado ou desprezado. Condição que vale também para os consultores. Mas no caso dos serviços dos advogados, a utilidade é definida pelo Juiz, pelo Judiciário, que acata ou não a argumentação do advogado. O sucesso pregresso ou não do advogado determina o valor dos seus serviços. Ou em termos econômicos, na geração adicional de riqueza. Quanto maior a sua taxa de sucesso, em relação aos valores das causas, maior o valor dos seus serviços. E isso leva à criação de grandes escritórios de advocacia, com a reunião de centenas de advogados, geração de empregos e maior giro financeiro.
Numa economia de baixo grau de conflitos, esse setor da economia, teria uma baixa geração de valores. 
Tomando como exemplo o sistema judicial trabalhista, verifica-se a criação de um complexo de atividades de geração de custos e valor. Do ponto de vista de resultados estatísticos, há uma importante. contribuição dos serviços na formação do PIB. 
Por outro lado, esse valor visto como custo, encareceria o custo dos produtos, principalmente, das empresas industriais prejudicando a sua competitividade, perante os concorrentes externos. 
Seriam custos que não acrescentariam benefícios de melhoria da qualidade dos produtos, ou redução de outros custos. 
Não são custos/valores que agregam serviços a um produto físico, melhorando a sua demanda. Mas as empresas industriais teriam que incluir o valor desses serviços nos seus custos, o que levaria, ao final, ao encarecimento do produto e menor demanda. O resultado macroeconômico final seria negativo.

Caso fossem simplificadas as regulações das relações trabalhistas ou tributárias, cairiam os custos com os contenciosos, reduzir-se-ia o valor global gerado pelos serviços jurídicos, mas o resultado macroeconômico decorrente da maior competividade das demais empresas, seria positivo. 

Ou seja, para reanimar a economia, não seria conveniente a ampliação da "riqueza" gerada pelos serviços adovocaticios, mas ao contrário, reduzir as fontes geradoras demandantes dos serviços. 

Em conclusão, o que seria vantagem do ponto de vista microeconômico e setorial seria uma desvantagem macroeconômica.

Um outro caso, a ser avaliado é o crescimento da atividade jurídica relacionada com os erros médicos. O que faremos na continuidade dessas análises.     
 



 






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