Segundo alguns (ou muitos) urbanistas, acompanhados por formadores de opinião, a cidade, a urbe degradou a vida da humanidade. Passamos a vier pior. Mas pior do que? Da vida rural? Sem água potável, sem esgotos, sem hospitais, sem universidades, instalações tipicamente urbanas?
O aumento da população do mundo vivendo nas cidades é vista como uma das maiores, se não a maior ameaça para a humanidade. Será mesmo?
Não, as cidades foram e continuam sendo um avanço da humanidade.
As primeiras críticas vem dos urbanóides, que já estão nas cidades e não querem mais gente nas cidades. Seja na sua cidade, como nas demais cidades do mundo. E por que?
Porque o cidadão urbano consome mais produtos oriundos de matérias primas não renováveis e geram maior volume de gases de efeito estufa. Dessa forma, no futuro ficaremos sem petróleo, sem aço, sem plásticos, com risco de ficarmos sem energia. E com um aquecimento global, que irá matar muita gente e piorar as condições de vida de grande parte da população.
Qual será a solução? Acabar com as cidades? Conter o crescimento populacional? Restringir as migrações do campo para as cidades?
Não. O problema das cidades é o desequilíbrio ao longo do tempo entre as demandas da população urbana e a capacidade da própria sociedade urbana em prover a infraestrutura e os serviços para atendê-las. Agravado pelas distorções do sistema capitalista, que domina o mercado de produção física das cidades: seja móvel, como imóvel. O carro e a casa.
Isso faz com que a sociedade urbana eleja para governar a cidade os Poderes Executivo e Legislativo entre duas opções principais: o que aceita a dinâmica capitalista na construção e funcionamento da cidade, buscando a intervenção pública, apenas para corrigir distorções que aquelas prejudicariam a cidade.
A outra que busca a assunção, pelo Poder Público, da construção e funcionamento da cidade, com ampla ação regulatória para conter a dinâmica capitalista e intervenções diretas a favor de determinados grupos ou segmentos da população, assumidos como desfavorecidos.
Esses podem ser desfavorecidos, por condições econômicas, como pelas lógicas do mercado, como ocorrem com os pedestres e os ciclistas, cujo uso dos espaços públicos seria prejudicado pela predominância dos veículos motorizados.
O fato real é a que a lógica do mercado enfatiza o uso do automóvel, cujo uso cresce mais do que a capacidade do Poder Público em prover ou expandir as vias públicas para atender às demandas prioritárias.
Já as versões, dependem da lente de quem olha a cidade. A maioria da população da cidade de São Paulo, mora além do chamado centro expandido e vê a cidade pela precariedade da infraestrutura e dos serviços do seu entorno e das dificuldades de acesso ao centro expandido, onde - em geral - trabalham.
A população que mora e trabalha dentro do centro expandido tem uma visão limitada da cidade, vendo-a apenas dentro da ilha de prosperidade, ainda que com algumas desigualdades, cercada pelos dois rios e suas marginais.
Essa população, que tem maior renda e mais educação formal, quer o Poder Público trabalhando para ela e domina os meios de comunicação, seja como produtores, como usuários. Formam a opinião publicada. E acham que essa é a opinião pública. O que nem sempre é verdade.
É uma lente elitista, em todos os sentidos. E querem uma cidade sem a concorrência dos outros.
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