Colapso do modelo brasileiro

A crise que estamos passando é a manifestação do colapso de um modelo de vida introvertido e consumista.
O brasileiro médio quer viver bem dentro do Brasil, com acesso pleno a todos os produtos mundiais e poder ainda viajar ao exterior, onde tudo seria mais barato. Pelo menos enquanto o dólar estava baixo.
Ele quer saber de comprar, mas não tem o mesmo empenho em vender. 
Esse modelo de vida era sustentado pela exportação das chamadas commodities, principalmente o minério de ferro e a soja, com preços elevados puxados pela aquecida demanda da China.
A China desacelerou o seu crescimento, os preços despencaram e o dólar disparou.
Alcançou um patamar realista, que estria entre R$ 3,00 a R$ 3,50. Com a crise política, alimentando a crise econômica, os especuladores aproveitaram e o dólar ultrapassou a casa dos R$ 4,00, mas com extrema voltatilidade, pois é um movimento especulativo.

O Brasil continuará vivendo um quadro de instabilidade enquanto se mantiver no modelo introvertido, voltado para dentro.

Seja da parte dos consumidores, como dos produtores. 

Os consumidores querem a abertura plena para ter acesso livre a todo e qualquer produto mundial. E tem a ilusão de que é mais barato. Com o dólar alto não é mais, mas ele tem a esperança de que vá cair e volte à "normalidade": "produto estrangeiro é sempre melhor e mais barato". 

Os produtores nacionais, ao contrário, querem proteção para impedir a "invasão dos estrangeiros". Com a oposição dos consumidores.

Só num ponto, ambos concordam: a excessiva carga fiscal. 

A manutenção de um modelo consumista aberto ainda depende das vendas externas da soja e do minério de ferro. 

O brasileiro não quer ficar na dependência dessas commodities e acha que é preciso agregar valor e exportar mais manufaturados.

Esse grande ilusão está se esfacelando com a crise atual. Agrega valor com a industrialização e não consegue vender.

Apesar da disparada do dólar a exportação de produtos industrializados está caindo. A exportação de máquinas e equipamentos, no primeiro semestre de 2015 caiu 17% em relação ao mesmo período de 2014. E não é por causa da retração chinesa, que compra poucos produtos industrializados brasileiros. Ao contrário vende.

Ou o Brasil, muda de estratégia, saindo pelo mundo - não para comprar, mas para vender - ou não sairá da crise. 

Sai para o ataque ou a defesa não conseguirá impedir uma goleada, contra. 

Os "especialistas" argumentam como principal dificuldade para aumentar a exportação industrial, a falta de acordos comerciais.

O Brasil não tem feito acordos comerciais com países desenvolvidos, porque implica em maior abertura do seu mercado. 

É uma tentativa de preservar o seu modelo introvertido. 

Precisa mudar para o modelo extrovertido, focando mais a superação das restrições ou dificuldades nos mercados desenvolvidos.

No comércio internacional não se concede nada, sem ter concessões da outra parte.

Uma das poucas exceções foi o Brasil, que em função da sua cultura introvertida, fez uma primeira abertura do seu mercado, sem negociar nada em troca. 

Não estava interessado em exportar industrializados. As commodities sustentavam as compras externas e a abertura.

A abertura virou um "rombo" e dá sustentação à disparada do dólar.

As importações cairam, mas ainda estão relativamente altas. As exportações de industrializados também cairam, mas estão relativamente baixas.

O problema não é reduzir as importações, mas aumentar as exportações de industrializados. A indústria brasileira precisa estar equilibrada.

O consumismo internacionalizado do brasileiro não pode ser sustentado pelas commodities. Simplesmente porque é insustentável.



 

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