O aceitável, o tolerável e o inaceitável

A reação petista à nova prisão de José Dirceu tem um significado histórico mais importante do que a falta de um gesto.
Os esquemas de desvio de recursos público ou do público podem ser diretos ou indiretos. Os diretos são a apropriação direta dos recursos pelo desviador. Ou seja, simplesmente o furto.  Não há terceiros envolvidos. Os indiretos envolvem terceiros que desviam os recursos mediante contratos de fornecimentos ou similares, mancomunados com o agente publico o qual recebe parte desses recursos. Ou o terceiro privado que presta serviço com preço regulado pelo Estado, paga ao agente público para uma cobrança maior pelos serviços ou para não cumprir uma restrição regulatória.

Esses mecanismos, em si, são tolerados pela sociedade, como desvios de conduta que fazem parte do ser humano e como pecadilhos perdoáveis. 

São aceitáveis ou inaceitáveis em função de quem os pratica e a destinação dos recursos desviados. E da parte de quem.

No processo político, supostamente os políticos e os partidos defendem idéias e segmentos sociais. Para se elegerem não bastam as idéias. Precisam de recursos financeiros para cobrir os custos com as campanhas eleitorais. Se para isso tiverem que desviar recursos públicos, para se elegerem e no Governo beneficiar determinados segmentos sociais, esses aceitam a prática, mesmo tendo consciência de que são ilegais ou irregulares. 
E adotam uma posição partidária: é aceitável se for para melhorar a nossa vida. Vale se for para o nosso partido. Não é aceitável se for para os outros e para o partido adversário. 

Considerando uma visão simplista, não real, mas ilustrativa do conflito de classes, seria aceitável pelos pobres se for para eles e inaceitável se for para os ricos ficarem mais ricos. 

Com base nisso José Dirceu, montou, com grande sucesso, o maior esquema de desvio de recursos públicos, para viabilizar a conquista do poder pelo PT em benefício dos que "mais necessitam". Sucesso porque propiciou que o PT já esteja de forma continuada no seu 13º ano e tenha, sucessivamente 4 eleições presidenciais. 

Sucesso para os seus objetivos, sucesso para o PT, tragédia para o país. Absoluto insucesso para os objetivos de melhorar a vida da sociedade, em geral. Na prática apenas os rentistas e os banqueiros estão bem de vida. 

Se o desvio de recursos públicos para fins partidários é tolerado ou aceitável pelos segmentos beneficiados e seus adeptos, não é aceito nem pelos mesmos se for destinado a benefício pessoal, ao enriquecimento pessoal.

José Dirceu quando foi preso por conta do mensalão, manteve-se altivo e levantou os braços com os punhos fechados numa atitude de desafio aos que estavam lhe prendendo. Seria uma demonstração de uma prisão  política e injusta. Porque estaria defendendo os mais pobres e os mais ricos, insatisfeito o estavam prendendo. Foi louvado pelos petistas como "guerreiro do povo brasileiro".

Os petistas se achavam que representavam o povo brasileiro, não só pelo seu discurso e ação, como pela confirmação pelas urnas. Mesmo que vitorioso com práticas irregulares: "fazer gol com as mãos para nós vale. O do adversário precisa ser anulado".

José Dirceu, defenestrado do poder, levado junto ao atoleiro pelo seu então sócio Roberto Jefferson, que manteve o "abraço dos afogados" tentou manter o padrão de vida que tinha quando no poder. Foi contaminado pelos benefícios complementar que o poder oferece, que custa muito mais que os régios salários que recebe no seu "holerith" e todos pagos com o dinheiro do contribuinte. 

Uma bela mansão, com direito à piscina pode ser usufruído pela autoridade, sem custos para ele, enquanto autoridade. Quando deixa de ser, tem que pagar com dinheiro próprio.

Viajar de jatinho a toda hora é prerrogativa da autoridade, que o requisita da FAB. Quando fora do poder tem que pagar caro pela  viagem. A menos quando levado de Brasilia para Curitiba, num jatinho da Polícia Federal.

Para manter o seu padrão de vida de autoridade José Dirceu quis cobrar pela sua função de organizador e gestor do "petezão".

Foi relativamente pouco. Nada comparável a um barusco, mas suficiente para caracterizar um padrão de vida confortável e "burguês". Até ai tolerável.

Mas quando começaram a ser mostradas outras superdespesas como as viagens de jatinhos, até os seus adeptos inaceitaram. 

Ter um jatinho ou usar frequentemente é um grande símbolo do novoriquismo, invejado por quem não consegue alcançar esse status e inaceito como razão para "defesa do povo brasileiro".

José Dirceu, mesmo na visão petista, não roubou apenas para o partido, não roubou apenas para beneficiar "os que mais precisam". Também roubou para proveito próprio. 

Com isso não é mais um guerreiro do povo brasileiro, mas apenas mais um ladrãozinho. Tudo o que roubou ou ajudou a favor do PT pouco conta, a seu favor. Só contra.
Poucos ainda manterão solidariedade.

Sem a companhia de José Genoino não ousou levantar o braço.





 

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