A economia do carnaval paulistano

O Prefeito Haddad anunciou que o carnaval paulistano propiciará à cidade 650 milhões de reais, dos quais 250 milhões do sambódromo e 400 milhões do carnaval de rua. 

As autoridades sempre inflacionam os valores positivos, sem explicar como chegaram a esses. No caso usa um dado da SP Turis que também não explica como estimou esses valores.

Há duas perspectivas econômicas para estimar essa contribuição: uma a partir da oferta adicional de bens e serviços em função do carnaval e outra dos gastos dos "foliões" especificamente para o carnaval. 

O lado da oferta, envolve maior dificuldade. De uma parte a oferta inclui os importados. Produz efeito econômico no comércio, mas não da indústria. De outra parte a produção local pode se destinar a outros carnavais e não apenas para o paulistano.

A perspectiva pelos gastos é mais territorializado, pois envolveria apenas os gastos das pessoas físicas, acrescidas pela destinação de recursos de patrocinadores para a realização de eventos não cobrados das pessoas, individualmente. 

No caso do desfile das Escolas de Samba no Sambódromo, devem ser somados os gastos dos espectadores, incluindo gastos fora do sambódromo quando turistas, e os gastos dos patrocinadores do desfile e das escolas.

Quanto aos gastos das pessoas há aqueles ocorridos durante a mobilização e desfile dos blocos nas ruas e os gastos das demais pessoas dentro da cidade.

Tradicionalmente, nos feriados de Carnaval, parte considerável da população, entre 2 a 3 milhões de pessoas, saem da cidade, o que significa uma redução do consumo e uma retração da sua economia. Com a crise, muitos cancelaram as viagens, ficaram na cidade, mas não ampliaram substancialmente o consumo. Alguns shopping centers ficaram vazios, outros com muita gente, passeando, mas comprando pouco. As praças de alimentação parecem ter mantidas a ocupação normal. Não teriam registrado perdas significativas. 

Há um fenômeno interessante na capital paulistana. Quando há um feriado prolongado uma parte dos paulistanos sai da cidade para ir às praiais. Em contrapartida, interioranos vem à São Paulo, para aproveitar a cidade vazia, para compras e para lazer. Não é efeito do Carnaval, mas do feriadão.

Atribuir a não perda de movimento econômico, por conta da menor saída da população é  "forçar a barra": creditar o que não é creditável.

O que é creditável, como consequência do carnaval paulistano é o gasto dos foliões que ficaram na cidade para participar dos blocos. Mas há uma diferença importante. Os que ficaram para pular, brincar, fantasiar-se podem ter todos os seus gastos, durante o carnaval creditados a favor do evento, mesmo que não diretamente nas manifestações. Já os que participaram porque remanesceram na cidade, só podem ter creditados os gastos diretos nas manifestações, ou seja, nos desfiles de blocos ou audiência aos shows, onde o principal gasto foi com bebidas. Os bares locais devem ter sido favorecidos. Já o comércio nem tanto. 

Dentro dessa perspectiva, estimar em 400 milhões de reais, os gastos dos foliões e dos patrocinadores com o carnaval de rua, parece superestimado. Considerando 6 dias, sendo dois de pré-carnaval, a média diária seria de 67 milhões. Para uma mobilização média de um milhão de pessoas por dia, nos blocos, o gasto médio seria de R$ 67,00 per capita. Como gasto médio é alto.



Ao gasto dos foliões paulistanos pode se acrescer os gastos ds eventuais turistas, que se hospedaram na capital. A ocupação hoteleira nesse período é baixa, sem a presença dos turistas de negócios que são a principal base da hotelaria paulistana. Recebe, como mostrado acima, gente do interior que vem fazer compras e aproveita diárias promocionais de feriados. 

Raros são os turistas que vieram a São Paulo, por conta do Carnaval de rua. A atração ainda é do turismo para o Carnaval do Sambódromo. 

Creditar os gastos dos turistas com a hospedagem ao carnaval de rua, de 2016, é também creditar o que não cabe ser creditado.

Porém a repercussão do sucesso do carnaval de rua paulistano, em 2016, cria um grande potencial de negócios, que pode se efetivar nos próximos anos. Depende da avaliação correta das razões desse sucesso. Se foi por um efetivo despertar do "espírito animal" do carnavalesco sim. Se foi como um "escape" da crise, não.

      

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...