O dólar passou de R$ 4,00. É uma má notícia. Poderia também ser boa, mas essa parte não é percebida. Ou pior, não é aceita.
Por uma razão simples: somos uma sociedade voltada para dentro que queremos ter aqui produtos importados baratos. E poder viajar para fora. E comprar lá fora, mais barato do que aqui dentro.
Essa é a nossa visão de modernidade. Um país com uma porta só, para entrada. Impedindo a saída. Saída só de viajantes com muitos ou médios recursos para fazer compras.
Para um país inserido nas cadeias produtivas globais como ponta final de demanda, o dólar caro é ruim. Para um país amplamente inserido nas cadeias de suprimento seria uma boa oportunidade para lucrar, vendendo mais produtos brasileiros no exterior. Obtendo mais renda para o trabalho brasileiro. E com isso dinamizando o consumo interno.
Mas a preocupação principal da indústria brasileira é substituir importações. Não exportar mais. Ocorre que a redução das importações não decorre só do aumento de preços, mas da recessão interna. Não há importações para substituir porque não há demanda dos produtos.
Com o aumento de quase 60% do dólar em relação a um ano atrás, as exportações industriais deveriam subir. E muito. Mas pelo menos 20%, com tendência crescente.
Mas não. Estão caindo. As exportações brasileiras de produtos manufaturados cairam em torno de 20%. E se justificam pela queda das cotações internacionais das commodities.
A queda da receita das commodities tem explicação. A dos manufaturados só uma: incompetência. Se não for isso a razão é descaso. Ou ainda preconceito.
O que o Brasil deveria estar cuidando agora, prioritariamente, era priorizar a mudança da direção daquela porta: voltar-se para a saída dos produtos brasileiros e receber mais renda externa. Para dinamizar o consumo interno.
A saída não está em aumentar os impostos.
A saída da crise está na retomada do crescimento, com base nos gastos maiores dos trabalhadores, elevando a arrecadação.
Para que os trabalhadores tenham mais renda, precisam ter emprego e melhor remuneração. Para isso é preciso ter mais produção e para quem vender essa produção, com lucros.
Se com o dólar abaixo de R$ 3,00 a indústria não tinha lucros nas exportações e por isso exportava pouco, o que está esperando para exportar mais? Ao contrário está exportando menos e demitindo trabalhadores.
Reduzindo o poder de compra dos trabalhadores e provocando uma recessão ainda maior.
Neste momento, o aumento das exportações dos manufaturados é a melhor e mais viável forma de ter ingresso de recursos externos para irrigar o mercado interno.
O Brasil não pode continuar se enganando com a geração de um superavit comercial, baseado na redução das importações.
Com isso aceitando a redução também das exportações.
O que interessa aos especuladores que estão aproveitando para jogar contra o Brasil e contra o real.
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