O modelo de crescimento brasileiro que se esgotou

O Brasil, nos últimos vinte anos cresceu, economicamente, segundo o mesmo modelo do "reaganconomics" apesar das divergências ideológicas.
Esse modelo teve como pilar a contenção do dólar para importação de produtos mais baratos e com isso estimular a demanda interna, com dois efeitos: conter a inflação, apesar da pressão da demanda e gerar empregos no comércio e nos serviços que compensaram as quedas de emprego no setor industrial.
Esse modelo foi viabilizado pelas elevações dos preços das commodities brasileiras gerando receitas externas suficientes para cobrir as importações e ainda produzir um superávit comercial que ajudou a formar as reservas internacionais.
A sequela principal desse modelo foi a desindustrialização da indústria brasileira. Uma exceção foi estabelecida - a da indústria automobilistica para tentar preservar os empregos dos metalúrgicos do ABC.

A par da incompetência da indústria brasileira, em buscar se tornar mais competitiva, a desindustrialização é consequência direta desse modelo.  Implantado ainda no segundo mandato do Governo Fernando Henrique Cardoso, foi continuado por Lula e pelo Dilma Rousseff.

Não foi um projeto tucano ou petista, mas uma opção da sociedade brasileira que o adotou. Talvez sem percebê-lo claramente. Porque os analistas narravam o processo de outra forma, com outros aspectos.

Esse modelo foi sendo sucessivamente ajustado e aperfeiçoado, e permitiu que o Brasil, com a ajuda da China, passasse incólume pela crise financeira internacional dos anos 07 e 08.

Os sinais de esgotamento da dinâmica do mercado interno, decorrente da estabilização dos preços levaram o Governo a se valer de amplos mecanismos de financiamento para manter os níveis de consumo dos bens duráveis, grande parte com elevado índice de conteúdo importado.

O modelo foi abalado pela queda das cotações das commodities, ocorridas a partir de 2014, a par da continuidade das importações, baseadas num dólar barato. 
Motivado por interesses eleitorais, o modelo foi mantido gerando uma inversão do sinal no comércio exterior. O superávit comercial foi substituído por um déficit. 

Apesar da contínua queda de produção e de empregos na indústria, agravada pelos fins das obras da Copa, gerando redução dos empregos na construção civil, o comércio e os serviços garantiram um pequeno aumento do estoque de empregos formais  em final de dezembro de 2014, em relação ao mesmo período de 2013, alançando um patamar muito próximo a 50 milhões de empregados.

De 1995 quando esse modelo foi consolidado, com o Plano Real, até 2014, o contingente de empregados formais passou de 23,8 milhões, em 1995 para 49,6 milhões em 2014. Dentro desse modelo de crescimento os empregos formais, mais que dobraram em 20 anos.

As tentativas de sustentação desse modelo comprometeram as contas públicas, tornando inviável a sua continuidade. A contenção da inflação mediante controle dos preços administrados também ficou insustentável e o Banco Central apelou para o aumento dos juros para evitar a realimentação da inflação. 

Diante dessas circunstâncias só restou um caminho para revitalizar a economia: a captação de recursos externos via exportações de produtos manufaturados.

Os produtos manufaturados, diferentemente das commodities que são padronizados em poucas categorias, com as cotações definidas em bolsas mundiais, são amplamente diversificadas, com os preços negociados a cada contrato. 

As exportações dos industrializados, por sua vez, são mais complexas e difíceis. A vantagem para o Brasil é que geram mais empregos urbanos por dólar exportado, do que as commodities. Com isso tem um impacto indireto maior na animação do consumo.










 

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