A saída pela exportação de industrializados e as travas

Uma das saídas para a crise econômica é o aumento das exportações de industrializados. Para alguns a única. 
O aumento das exportações de industrializados seria a alavanca necessária para reanimar o mercado interno. Através das exportações a indústria aumentaria a produção, geraria mais empregos, elevando a massa salarial que se transformando em consumo criaria demanda para a produção para o mercado interno retomando um círculo virtuoso, ora enfraquecido. O risco a ser evitado nessa retomada seria o recrudescimento da inflação. 
Além desse receio, essa retomada enfrenta uma série de travas que precisam ser afastadas. Algumas são estruturais e de natureza ideológica. Outras são de confronto de interesses e poucas de natureza técnica.

Duas visões ideológicas travam o desenvolvimento industrial:
  1. a visão nacional-desenvolvimentista que sempre foi e continua sendo contrária à produção industrial nacional para exportação. O entendimento dessa visão é de que toda produção industrial deve estar voltada para o mercado interno, com exportação apenas de excedentes;
  2. a visão monetarista para qual o principal instrumento para conter a inflação é a elevação dos juros, mantendo-os em elevados patamares reais.
A primeira trava a integração da indústria brasileira nas cadeias globais, modalidade ora adotada pela indústria mundial e limita os aumentos de escala. Sem essas condições a indústria no Brasil não tem competitividade mundial, não conseguindo vender no exterior e perdendo no próprio mercado interno para os produtos importados.

A segunda, praticada ao longo de muitos anos, trava os investimentos físicos na ampliação e na produção industrial  pois a rentabilidade desses investimentos é mais baixa do que das aplicações financeiras. E se depender de financiamentos para alavancar as suas atividades os juros desses financiamentos inviabilizam tanto os gastos em capital, como em operação.

A indústria requer investimentos continuados, seja em equipamentos, como em pesquisa & desenvolvimento e em qualificação de pessoal. As atividades de P&D precisam ser contínuas, principalmente, para a melhoria contínua na qualidade dos processos industriais, podendo emergir delas inovações em produtos. Independentemente do mercado a que se destinam a melhoria dos processos é condição essencial para a competitividade. 

As oscilações da política econômica e os movimentos "stop and go", da economia brasileira, levam à desmobilização de dessas atividades de P&D, com perda dos investimentos feitos e uma penosa retomada. 

A indústria precisa de perspectivas de médio e longo prazo, pois os investimentos sempre requerem um prazo de maturação e a instabilidade leva à contenção dos investimentos afetando a produção subsequente. 

A indústria brasileira, montada para atender ao mercado interno, perdeu o rumo, com a abrupta abertura ocorrida com o Governo Collor, foi desconsiderada com as políticas de estabilização monetária e foi esgarçada.

As tentativas de revitalização através de sucessivas políticas industriais fracassaram na sua reanimação e a sobrevalorização do real causou uma desestruturação, responsável pelas quedas sucessivas de produção e de emprego. Poucos setores industriais se salvaram da debacle.

A desindustrialização não se caracteriza apenas pela redução da participação da produção industrial dentro do PIB, mas por esse esgarçamento do tecido industrial.

A reindustrialização envolve uma reintegração da cadeia produtiva, não mais adstrita ao país, mas às cadeias globais, sejam as produtivas como de suprimento. 

Ou seja, a reindustrialização requer uma produção para o mercado mundial, que soma o mercado interno com todos os mercados externos. 

Para essa reindustrialização é preciso estabelecer e discutir uma pauta para vencer os obstáculos que a trava.





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