Com a esperada prisão de José Dirceu, a Operação Lava-Jato chegou ao mentor principal da montagem e operação do mega esquema de desvios e apropriação indevida de recursos geridos pelos Governos públicos.
Aqui não precisamos fazer sensacionalismos para chamar atenção, como faz a mídia, simplificando e distorcendo os fatos, vendendo uma versão plausível, baseada nos fatos, mas mostrada de forma fantasiosa para sensibilizar as pessoas, causando indignação e oposição.
De um lado foi montado um esquema de extorsão de fornecedores a empresas estatais, para irrigar partidos e políticos, com as finalidades de assegurar apoio político e recursos para campanhas eleitorais. Os mentores e operadores aproveitavam para "tirar a sua casquinha", para enriquecimento pessoal. De outro lado os fornecedores, pressionados a contribuir, entravam no jogo, aproveitando para aumentar os seus lucros, cobrando um "plus" não só sobre as contribuições, mas sobre o valor total dos fornecimentos. Em termos populares, superfaturavam.
Nesse jogo, altamente organizado e profissional, estabelecia-se uma hierarquia informal, mas de cada lado havia um mentor principal e seus seguidores. Em termos militares haveria um general comandante-chefe, depois os generais, coronéis e assim sucessivamente.
Do lado dos extorsores o comandante-chefe era José Dirceu e do outro lado, dos contribuintes, Marcelo Odebrecht. Ambos já estão presos.
Com a prisão de José Dirceu teria sido inteiramente demolido esse esquema que, pode ser caracterizado como de "petezão"? É muito mais amplo que o mensalão e o petrolão. Esses dois teriam sido os maiores e acabaram sendo descobertos.
O mensalão e o petrolão teriam ocorrido no passado. Emergiram por conta das investigações e apurações da Operação Lava-Jato. Com o desvendamento do esquema e condenação dos seus mentores e operadoras, o mensalão foi desbaratado. Mas logo substituido pelo "petrolão". Esse foi desmontado com a Operação Lava Jato.
A partir da experiência histórica, uma das primeiras dúvidas é se, com o desmonte do petrolão o petezão, foi também inteiramente extinto ou apenas teria sido transferido da Petrobras para outra empresa estatal ou setor governamental?
Os indícios são de que o "esquemão" foi desmontado, mas todo um conjunto de ramificações, de "esqueminhas" continuariam funcionando. Nem os políticos teriam desistido inteiramente de pedir as contribuições, tampouco os fornecedores deixaram de contribuir em casos específicos e em amplitude muito menor, e de tomar iniciativas para "comprar" autoridades.
Mas sem dúvida, o Brasil infestado e tomado pela epidemia da corrupção, na primeira década deste século XXI, está contido. O vírus foi abatido, mas não extinto.
A questão, em relação ao futuro, é se virus permancerá recolhido, mas incubado e poderá voltar novamente, até com novas configurações, novas resistências aos "antibióticos" anticorrupção, ou ficará contido?
A principal vitória contra o vírus da corrupção foi reduzir substancialmente a sensação de impunidade. Os corruptos, sejam os extorquidores, os contribuintes ou compradores entravam "alegremente" no jogo, certos de que "não ia dar em nada". Agora, com a Operação Lava Jato, nas suas sucessivas fases, a sensação não é mais a mesma. Quando até José Dirceu e Marcelo Odebrecht são presos. E não só eles, como os seus dirigentes, os operadores e até mensageiros são presos, todos os que estão no jogo, ficam preocupados. Diversamente do "mensalão", quem mais se livrou foram as secretárias.
Mas isso não impedirá que alguns ainda continuem assumindo riscos e mantendo as práticas corruptivas. Tendem a serem casos isolados e não se alastrando como uma epidemia como ocorreu anteriormente.
A continuidade do desvendamento da epidemia ocorrida dará a impressão de que o essa permanece. Para efeito público a impressão é de que o Brasil está um país corrupto, quando não está mais. Mas é ou seria um país corrupto, apenas em trégua real e com a imagem negativa.
O risco de recidiva existe porque o ambiente favorável às práticas corruptivas permanece, ainda que essas passem a ser de maior risco. A corrupção passa a ser uma atividade de alto risco, que requer maior profissionalização na gestão de riscos. Como toda atividade criminosa de mais vulto e complexidade.
Não foi extirpada a principal fonte do processo que é a extorsão praticada pelos políticos, protegidos pelo foro privilegiado, com fundamento numa cultura patrimonialista.
E do ponto de vista de imagem ainda está preservado o grande símbolo do desencadeamento dessa epidemia: o maior líder popular da história recente do país, responsável pelo apodrecimento ético, de consequências desastrosas na vida de cada brasileiro.
A prisão de José Dirceu foi jurídica, ainda que se queira imputá-la como política. Uma prisão de Lula, será política e causará convulsão social. O que não se sabe é em que extensão.
Só a prisão dele marcará o fim de uma era. Enquanto ele ficar solto, essa continuará agonizante, mas persistente.
E mesmo que a era Lula e do petezão acabe, nada garante que a nova era não repita os mesmos problemas. Porque o fundamento, que é o patrimonialismo permanece intacto.
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