As ruas foram às urnas

Quando das manifestações de rua em junho de 2013, cobrando serviços de saúde e educação, "padrão FIFA", contestando a corrupção e pedindo medidas de combate a essa, uma das principais indagações era se "as ruas iriam às urnas". Ou seja, se as manifestações teriam impacto eleitoral? Não tiveram.
A Copa do Mundo da FIFA foi realizada, sem maiores incidentes, a não ser um grande desastre em campo, e os serviços de saúde e educação continuaram no mesmo padrão "mequetrefe" bem longe do "padrão FIFA". O Governo prometeu um "pacotinho" anticorrupção que não deu em nada. As tarifas do transporte coletivo foram congeladas, mas por pouco tempo, Governador do Estado e Presidente foram reeleitos em 2014. Nem mesmo a regulamentação da lei anticorrupção saiu em 2014.

As ruas não foram às urnas.

Em 2015 "as ruas" foram novamente tomadas pelos manifestantes, divididas em dois grupos: um - de amarelo - pedindo o impeachment da Presidente (Fora Dilma), dando apoio público à Operação Lava-Jato, então em andamento, e outro - de vermelho - defendendo o "Fica Dilma".

O movimento anticorrupção ganhou peso, com a proposição do Ministério Público Federal de Curitiba, transformado em projeto de lei de inciativa popular, de 10 medidas contra a corrupção e a sucessão de prisões e condenações no âmbito da Operação Lava Jato.

A pressão popular contribuiu para o impeachment de Dilma, apesar da divisão e foi decisiva - ai com união das forças - para a cassação de Eduardo Cunha.

Mas a grande dúvida persistiu? "As ruas iriam às urnas?".

Os resultados, ainda que com várias grandes cidades com segundo turno, na eleição para Prefeito, indica que as ruas foram às urnas. Se não em todo o Brasil, pelo menos no epicentro das grandes manifestações de rua: a cidade de São Paulo.

O resultado com a eleição de Dória Jr já no primeiro turno é um reflexo claro das manifestações de rua nas urnas.

Manifestar-se nas ruas ou nas redes sociais é importante, mas não altera substancialmente o quadro político se não se traduzir em votos. As eventuais lideranças precisam enfrentar os pleitos eleitorais. Precisam entrar para a vida partidária e concorrer a cargos eletivos.

Lideranças dos movimentos de rua, aceitaram o desafio e alguns conseguiram sucesso. Em São Paulo, 3 candidatos foram eleitos, em Belo Horizonte a campeã de votos se valeu principalmente da rede social para os apoios e votos.

Esse primeiro momento dá partida para um processo autofágico. Os eleitos tem que "mostrar a que vieram".

Os novos e não políticos de uma eleição, uma vez vitoriosos, se transformam, perante a visão dos eleitores, em velhos políticos. Se voltam às ruas, poderão ser rejeitados pelos companheiros, que se opõe à partidarização dos movimentos.

Como esse fato novo será absorvido pelo sistema, ou provocará uma grande transformação é ainda uma incógnita.

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