As ruas dizem o que pensam, os políticos não

 (escrito no dia 02.04.2016)
A decisão do PMDB em desembarcar da base de apoio do Governo envolve um jogo político suspeito. Com sucessivas traições, nunca se sabe quais são as intenções dos seus dirigentes e membros, agora e no futuro.

A sua repercussão nas ruas foi péssima. Não se sabe de nenhum movimento popular a seu favor. Já o PT, com o apoio da CUT e de movimentos sociais, rapidamente se mobilizou e acusou Temer de golpista. Ameaçando o seu eventual governo. E dando um recado claro: as bases petistas não o aceitam e não comparecerão a mesa para um eventual pacto, coalizão ou concertação. Lula, com a sua capacidade de perceber como sopram os vetos petistas, assumiu a liderança do movimento anti-Temer. O "inimigo" agora não são Aécio e os "coxinhas". Tampouco o Juiz Sérgio Moro. Neste momento se Lula e o PT saírem em forte oposição a Moro, levantarão a mobilização popular a favor do Juiz e contra o PT e ao próprio Lula. Ele já percebeu que Temer não tem apoio popular. 

Busca então a sua desconstrução, segundo a tese implícita "Ruim com Dilma, pior com Temer". "Há que temer o Temer".

Através da mobilização popular Lula e o PT buscam influenciar os deputados ainda indecisos para reforçar a imagem de que o "povo está a favor de Dilma. Contra o golpe". 

Os deputados indecisos, que são - principalmente - no norte e nordeste, levam em conta as grandes movimentações, mas a sua primeira reação íntima é: "eles não são meus eleitores". Ou com uma consideração um pouco mais ampla, mas ainda limitada: "eles não fazem parte do meu colégio eleitoral".
O que ele quer saber é o grau de contaminação dos movimentos da Praça da Sé e do Largo da Carioca, com ampla cobertura da TV paga, em seu eleitorado. O PT procura aproveitar a onda, para uma contaminação ampla, como o fez em Fortaleza, até mesmo levando Lula. Que não iria se o público fosse pequeno. 

Os que são candidatos a Prefeito em outubro de 2016 - segundo noticiário - querem contratar institutos de pesquisa para auscultar o eleitorado. Irão votar, porque será aberto, com o olho no seu eleitorado.

O PMDB estabeleceu um novo modelo de gestão política. O partido se define, mas os seus componentes mantém os seus interesses pessoais. Não podem falar e atuar em nome do partido, mas podem atender aos seus interesses pessoais: "cada um por si, e ninguém por todos". 

O jogo é claro, embora inaceito por quem não está dentro desse: o partido se afasta do Governo, mas não abre espaço para os concorrentes. O resultado é que o Ministro fica, mas não pode abrir espaço para os seus colegas. A menos que garanta o voto deles. Uma garantia pessoal, não partidária: "la garantia soy yo". Quantos votos cada Ministro do PMDB traz contra o impeachment, supostamente, além do dele? E se for demitido, votará contra ou a favor? 

E o Governo, ao substituir um Ministro do PMDB o que ganha na contabilidade do impeachment? O PP com uma bancada de 42 deputados, dos quais - segundo enquete do Estadão - 24 a favor do impeachment, apenas 8 contra e 10 indecisos, fechará questão contra o impeachment, inclusive revertendo os 24 a favor, se um dos seus membros ganhar o Ministério da Saúde ou da Educação? Em cada uma das nomeações ministeriais, aparentemente com a direção partidária, o Governo pode ganhar o voto do Ministro e eventualmente de poucos do seu grupo. Mas não garante o voto da bancada. A não ser nos partidos nitidamente oposicionistas (PSDB, DEM, SDS E PPS, acompanhada por alguns "nanicos") e os situacionistas (PT, PCdoB e PSOL) nenhum outro partido consegue arrastar toda sua bancada para uma posição ou outra.

O tal "varejão" é compra por unidade, não por quilo ou dúzia. Tanto um lado como outro tem dificuldade de atrair ou convencer os indecisos que votarão em função de dois fatores, nenhum dos dois de caráter partidário: o já citado "seu eleitorado" e o sentido do vento.

Os políticos, os analistas, os estrategistas devem considerar que "eleitorado brasileiro" não tem nenhuma importância nesse quadro. É apenas uma ficção estatística. O que interessa de fato é o "meu eleitorado". O colégio eleitoral do deputado federal que disputa a sua cadeira no Estado, sendo que os candidatos a Prefeito estarão de olho no eleitorado da sua cidade. Qualquer análise que não seja segmentada será falha e poderá levar a equívocos de interpretação.

O deputado indeciso está buscando saber qual será o lado vencedor. Ele quer ficar do lado vencedor. Se não conseguir verificar previamente, a sua tática poderá ser chegar atrasado à primeira chamada. Terá mil desculpas para não chegar na primeira chamada. Na segunda ele terá condições de perceber melhor para onde estão soprando os ventos. Já terá uma grande parte dos votos proferidos. Ele irá reforçar o lado vencedor. 

No momento não dá para saber e o quadro muda todo os dias, com sucessivas novidades. E com isso muitos políticos vão continuar em cima do muro para decidir só na hora, preferivelmente na segunda hora. O que ele disser agora não tem credibilidade. Principalmente se o nome dele começar com Renan Calheiros. "Quem vai vender o seu carro para ele?"

 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...