A falácia da falta de inovação

Diante da colocação do exportar para empregar algumas pessoas contestaram a colocação com dois argumentos recorrentes: dois internos e um externo. Ambos falsos, ainda que utilizados de forma generalizada.

Hoje aqui só vamos tratar da falsa percepção de que

produto industrial brasileiro não é competitivo, porque o "Brasil não inova".

Esta colocação equivocada é promovida pela comunidade científica que luta - com razão - por mais verbas oficiais para a academia e para as pesquisas científicas. De fato os Governos gastam pouco com a pesquisa científica, dão pouco apoio à atividades. O Brasil precisa - efetivamente - gastar mais, muito mais, com a pesquisa científica. Mas isso pouco tem a ver com a inovação tecnológica.

Inovação tecnológica precisa do avanço científico, mas a relação não é direta, tampouco nacional. É válido em alguns poucos ramos industriais como o da saúde. Mas não, por exemplo, no ramo de máquinas e equipamentos. Incluindo nesse a indústria automobilística.

Inovação Tecnológica não ocorre na academia, nos centros de pesquisa científica, mas principalmente dentro das empresas. É dentro delas que os pesquisadores a partir do conhecimento científico universal, formulam ou desenvolvem novos produtos ou novos processos produtivos. O fato de também serem pesquisadores não são cientistas. Não tem como objetivo ampliar o conhecimento da humanidade. Mas usar o conhecimento para gerar lucros empresariais.

Diversamente da pesquisa científica que busca difundir o conhecimento gerado por ela, o resultado da pesquisa tecnológica é apropriada pela empresa, para o seu uso exclusivo ou para venda.

Inovação científica não é negócio, inovação tecnológico é.

Cientista quer reconhecimento e ganhar prêmios. Nobel é o prêmio maior. Tecnologista quer ganhar dinheiro.

Na ciência pode-se dizer que o país inova e se desenvolve. Na tecnologia não. Quem inova é a empresa e é ela que fica com a inovação. A inovação tecnológica não pertence à nação. Portanto não é próprio dizer que o país não inova. O sentido pode ser o de que nos país as empresas adotam pouco a inovação tecnológica. 

Ai decorre o segundo equívoco, mesmo aceitando que a inovação tecnológica é das empresas instaladas no pais, e não da nação (com perdão do cacófato). 

As empresas brasileiras (no sentido de instaladas no Brasil) pouco inovam tecnologicamente, porque gastam pouco com pesquisa & desenvolvimento. Esta constatação é verdadeira, a conclusão não necessariamente correta.

As empresas brasileiras nacionais (isto é, sob controle de capitais nacionais) - em geral - preferem comprar tecnologia do que desenvolver internamente. Os seus laboratórios não estão voltados para inovação, mas para testes e ajustes das tecnologias adquiridas do exterior, visando a sua melhoria.

Já para as empresas multinacionais instaladas no pais, a introdução ou adoção de inovações tecnológicas é uma questão de decisão estratégica central. 

Elas desenvolvem as suas tecnologias exclusivas nos seus centros de pesquisa e desenvolvimento que podem estar em diversos países do mundo. E quando alcançam a inovação essa é da empresa e não da nação onde foi obtida. 

Uma inovação feita por um laboratório da FIAT em Turim não é da Itália. Mas da FIAT. Ela vai registrar a patente tanto na Itália como em diversos outros países onde tem unidades fabris ou seus concorrentes tem. Inclusive no Brasil.

De mesma forma uma inovação que a FIAT alcance em Betim, não é do Brasil, embora a patente seja registrada inicialmente no país, por uma empresa com CNPJ brasileiro.

Uma inovação feita em Betim não dá à FIAT brasileira maior competitividade da unidade lá instalada em relação às demais da própria FIAT. Uma inovação obtida em Betim pode ser levada para a fábrica em Monterrey. 

No sentido figurado, o México não inovou, mas não perde competitividade em relação ao Brasil. E vice-versa.

O Governo Brasileiro pode desenvolver programas de incentivo à pesquisa & desenvolvimento em empresas, como o fez com o Inova. Mas não é detentor da inovação, da patente. A menos de restrições, que inviabiliza o programa, não pode impedir que a inovação aqui produzida e incentivada seja usada por outras unidades mundiais da mesma empresa. Pode mesmo ocorrer que a inovação produzida no Brasil, não seja aplicada no país, mas só em outros países. 

Sintetizando. Quem inova não é o país, mas a empresa. Inovação não é apropriado pelo país, mas pela empresa. Que pode usá-la em qualquer outro pais, concorrente do nosso. 

Se uma unidade de multinacional não adota uma inovação é porque a direção superior assim o decidiu. 

Se o carro brasileiro não é inovador, se não é de última geração tecnológica é porque a multinacional assim decidiu. 

Não é a falta de P&D no país que tira a competitividade do carro brasileiro (que só existe no sentido figurado). 

Inovação tecnológica num mundo globalizado não é uma questão nacional. E inteiramente empresarial. 

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