A agropecuária teve um desempenho excepcional em 2017 e muito contribuiu para a retomada do crescimento global da economia brasileira.
As suas perspectivas baseadas no aumento da produtividade, graças ao desenvolvimento e absorção persistente de tecnologias, já estando inserido na economia 4.0, indicam que pode ser o motor de partida para um desenvolvimento sustentado da economia brasileira, nos próximos 30 a 50 anos.
Voltada para o mercado mundial que precisa de uma produção crescente de alimentos é uma oportunidade histórica para o país.
Mas que poderá ser perdida por incompreensão de todas as partes.
De um lado a própria agropecuária, baseada na produção no campo, que representa apenas cerca de 5% do PIB, mas que se arvora como participante de cerca de 20% do PIB, agregando todas as etapas da cadeia produtiva, a maior parte urbana.
Quem participa com 20% do PIB não é o produtor rural, ainda que ele seja o gerador inicial. A maior parte da contribuição do agronegócio para o PIB é urbana, de responsabilidade dos empresários urbanos e não dos produtores rurais. É também dos consumidores urbanos de alimentos.
Grande parte dessa sociedade urbana não aceita a perspectiva do Brasil ser "celeiro do mundo". Reage negativamente, por entender que essa posição significa o Brasil ser produtor e exportador de matérias-primas e não de produtos de maior valor agregado.
E tem em mente o que acontecia com o café, em que o Brasil é o maior produtor mundial de café, é o principal exportador de café em grão, mas acaba sendo importador de café em capsulas e outros, produtos com maior industrialização e agregação de tecnologia.
Os produtores rurais não podem se apropriar do que não produzem, pois a sua produção primária representa apenas 25% do conjunto do agronegócio. E a sociedade urbana não pode rejeitar a importância dessa produção rural, pois é ela que dá origem e viabiliza os demais 75% e impulsiona o crescimento de toda a economia.
O que se faz necessário, reiteramos aqui, é que o Brasil seja produtor e exportador de alimentos, com maior valor agregado em território nacional.
Isso requer que a produção de insumos para a agropecuária tenha maior conteúdo nacional. Mas para essa ser competitiva com relação aos produtos estrangeiros precisa ter escala de produção nacional para a qual a demanda nacional, apesar de elevada, não será suficiente.
A indústria brasileira de máquinas agrícolas deverá ser organizada para suprimento mundial, tendo o mercado brasileiro como o principal mercado.
A maior parte dos fornecedores desse setor são multinacionais que fabricam os seus produtos em diversos países do mundo.
O objetivo brasileiro nesse setor não pode ser da autossuficiencia. Deverá se especializar em algumas linhas nas quais a meta é ser líder mundial. Em outras, deverá ser importador. Deverá ainda organizar a indústria de agropeças, com maior integração da indústria brasileira nas cadeias produtivas globais.
A consecução desse objetivo envolve duas profundas mudanças culturais: a primeira de descartar o pensamento da autossuficiência nacional. A segunda de dependência de planos e ações governamentais.
O Governo não tem quadros técnicos para definir e coordenar as ações necessárias, porque elas são efetivadas pelas empresas privadas. Tampouco tem liderança política para a sua condução.
O seu papel é de eliminar as barreiras burocráticas, regulatórias e fiscais heranças de uma fase em que o Estado pretendeu conduzir o processo. Seja por ações diretas, como de indução e estímulos.
Isso só gerou uma cultura de dependência do setor privado, buscando benefícios seletivos.
O que o setor privado precisa, para assumir o que lhe cabe é preciso menos regulação, menos burocracia e tributação mais justa.
O setor privado, através de suas associações empresariais precisa assumir o papel de planejamento, tanto setoriais como global.
No caso, das máquinas agrícolas, esse papel poderia ser assumido pela ABIMAQ, conduzindo o planejamento setorial e coordenando a implantação, associado às demais entidades atuantes em toda a cadeia produtiva do agronegócio.
Nesse sentido, a ABIMAQ poderia liderar o segmento de máquinas e equipamentos para a produção de alimentos industrializados, seja nas fases de semi-manufatura, como de processamentos industriais mais avançados.
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