A "reinvenção" do PT

O diagnóstico sobre as supostas causas do debacle eleitoral do PT em 2016, leva à avaliação de oportunidades e ameaças ao futuro do PT, segundo as perspectivas estratégicas.

Retomar a sua base, como partido dos trabalhadores, poderá levar o PT se tornar um partido nanico, concorrendo com o PSTU, o PCO e outros que atuam na órbita dos trabalhadores com carteira. Terá que disputar uma base menor, dada a decadência industrial e sucessiva redução dos empregos nesse setor. O PT, associado à CUT avançou em outras categorias, principalmente bancários, também em retração, os petroleiros e os servidores públicos. Os bancários vem também sofrendo perdas sucessivas em função da automação e os bancos tem endurecidos as negociações, não indo nada além do que oferecem inicialmente. Os petroleiros sentem as ameaças com o enfraquecimento politico da Petrobras e a maior resistência é ainda dos servidores públicos.
O PT conquistou uma posição de liderança e a hegemonia - durante algum tempo - em função do carisma de Lula, um líder operário impar, na história do Brasil. Mas, Lula não é mais um líder operário. Ascendeu, pertence hoje à classe média ao qual pretendia que todos os companheiros também lá chegassem. Pelo menos no discurso.
O PT não tem nenhum líder trabalhador que ocupe o lugar de Lula, com a sua capacidade de mobilização. Líderes setoriais podem mobilizar greves de categoriais, mas nenhum vai além disso.
O movimento sindical está fragmentado com dezenas de Centrais Sindicais e a CUT já não tem a hegemonia. E tende a enfraquecer juntamente com o PT.

A dita "classe média ascendente" não é uma classe organizada, sem entidades representativas ou liderança forte. O  PT era o partido preferencial dessas pessoas que ascenderam social e economicamente. Era percebido como o mentor dos avanços auferidos por essas pessoas. Mas com a crise e o retrocesso social, passaram a rejeitar o partido, manifestados pelas pífias votações do PT nas eleições municipais de 2014.
Será muito difícil ao PT, fora dos Governos, reconquistar , a curto prazo, esse eleitorado. A recuperação envolve dois requisitos: mensagem e liderança pessoal. Não será apenas por uma condição institucional, partidária, baseada numa mensagem ou numa máquina partidária. O PMDB não tem mensagem nacional, mas os tem em nível local e regional e uma máquina partidária integrada, com base na conexão de interesses menores. PSDB e PSB são os dois maiores partidos que buscam ficar com o legado do PT. Ciro Gomes, com o PDT, é o líder com maior visibilidade para conquistar os eleitores desse segmento, mas com um ponto fraco. É um líder do Brasil ao norte do paralelo 16. A maior parcela desse segmento está ao sul dessa linha.
Será a área de maior disputa partidária, com o PT na posição mais fraca para tentar reconquistar o terreno perdido.

No segmento dos "bolsistas" o PT parece ter sustentado posições, embora perdendo muitas, em função das desconfianças éticas. Este segmento depende muito de lideranças carismáticas e Lula é ainda o grande líder. A questão é saber se ele terá condições de reestruturar o PT no Norte/Nordeste com base no seu carisma? Nas eleições municipais o PT teve que ceder as candidaturas principais a aliados, sem ser o "cabeça da chapa". Os espaços partidários já foram tomados. E recuperar os espaços perdidos será difícil.

Uma estratégia do PT baseada nesse segmento para voltar a ser um grande partido será uma boa opção? Essa opção é inteiramente dependente de Lula e ele tem muitas pendências que poderão inviabilizar a sua candidatura. Precisará ter um plano B. Mas com muito menos eficácia.

O segmento que permanece mais fiel ao petismo é da esquerda urbana, formada por jovens estudantes, professores, intelectuais, jornalistas, líderes sindicais e outros.

Eles, diferentemente dos segmentos anteriores, tem capacidade de racionalizar, separar a parte ruim do PT, mas separá-la e continuar defendendo ardorosamente a parte boa. Percebem a necessidade de reconstrução do partido, mas não sabem bem como e enfrentam a resistência dos grupos instalados no poder interno. Tem a liderança de Tarso Genro e de Fernando Haddad, ambos companheiros no Primeiro Governo Lula, e integrantes da mesma corrente dentro do Partido.

A tentativa de reconstrução do partido a partir dessa facção envolve grandes desafios:
  1. reconquistar parte do segmento de esquerda urbana que desiludida deixou de votar ou votou em candidatos do PSOL, PCdoB e outros aliados;
  2. reconquistar a classe média submergente, com novas mensagens de esperança;
  3. assegurar os votos dos família-bolsistas, com uma alternativa petista à Lula;
  4. manter o apoio dos trabalhadores formais.
As estratégias para enfrentar os desafios envolverão alternativas, mas uma coisa é certa: deixará de ser o partido dos trabalhadores - embora possa manter o nome e a sigla - mas terá que estar voltado para os
"emergentes". Do contrário manterá a visibilidade, mas não terá votos e corre o risco de virar um "nanico", concorrendo no espectro da esquerda com o PSOL.

(cont)






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