A refundação do Brasil

Como reestruturar a economia brasileira pós crise? 
As atenções continuam sendo dominadas pelas perspectivas do mercado financeiro, com o apoio dos macroeconomistas, que estabelecem a hegemonia de um pensamento único. O que leva todo foco sobre o bipé macroeconômico: ajuste fiscal e controle da inflação, deixando até mesmo a terceira perna (câmbio livre), como derivada e não um fator independente. Até porque é a única perna do tripé que está funcionando.

A questão mais importante para o pós-crise é com que estrutura econômica o Brasil vai retomar o desenvolvimento. Com a estrutura que promoveu o seu crescimento e modernização até a passagem do "furacão Dilma"? Com a estrutura atual, em que um único setor (o agrícola) mantém uma taxa estável, enquanto todos os demais decaem? 

Ou vai se reestruturar com uma nova configuração setorial e com diferentes polos dinamizadores?

E mais, com que grau de participação e intervenção do Estado na economia?

A alternativa é uma profunda e ampla reestruturação econômica, deixando de ter a indústria de transformação voltada para o mercado interno, como o grande motor dinamizador da economia, para passar a ter uma economia dinamizada por dois elementos: o agronegócio e a economia criativa. 

Significa basear a dinamização da economia em torno de dois fatores específicos de produção: terra e gente. Essa gente é pela produção intelectual, é pela criatividade. Não pelo trabalho manual baseado na força, assim como pelo trabalho de operação de máquinas.

O Brasil tem uma grande extensão territorial, mas a maior parte deve ser preservada, como condição de equilibrio ambiental nacional e mesmo mundial. Mesmo com as restrições ainda há amplos territórios que podem ser agriculturados e viabilizar o papel do Brasil, como "celeiro do mundo". É uma síntese da oportunidade, que se transforma em responsabilidade, de ser o maior produtor de alimentos do mundo, concorrendo - nesse papel - com os EUA. Acresce o fato de que nos últimos anos o aumento de produção tem decorrido mais do aumento da produtividade, do que da expansão territorial.

Através da tecnologia e da logística o Brasil tem todas as condições para responder a esse desafio e o agronegócio, voltado para o suprimento mundial poderá ser um dos principais polos dinamizadores da nova economia brasileira. Ainda que com uma participação relativamente pequena na geração total do PIB (cerca de 4%), terá o grande papel de gerar divisas para permitir a importação dos produtos, principalmente industrializados, que os outros paises conseguem produzir em condições mais competitivas.


O segundo polo de dinamização da economia está dentro do setor de serviços, que hoje representa cerca de 40% da formação do PIB. Uma parte dos serviços é a que agrega o trabalho humano sobre os custos dos produtos físicos, sejam agrícolas, minerais ou industrializados, compondo o preço final pago pelo consumidor. Excluídos, no caso, os impostos incorporados.
A outra parte é dos serviços predominantemente humanos, baseados na criatividade, no conhecimento (incluindo o tecnológico), na investigação gerando produtos imateriais. Mas de grande valor econômico. Em alguns casos os produtos são materiais, mas não em grande escala.

Esse segmento da economia vem sendo caracterizada como "economia criativa". São os serviços produzidos pela capacidade intelectual do ser humano.

A visão da "economia criativa" tem sido dominada por dois dos seus setores, mais visíveis: o dos serviços vinculados à tecnologia da informação e a economia cultural. Mas ela é muito mais abrangente, envolvendo todas as atividades humanas baseadas na capacidade cognitiva do ser humano. 

Um dos principais setores da economia é a educação, que é tipicamente um setor da economia criativa. Grande parte da saúde que é desenvolvida pelos médicos faz parte da economia criativa. Mas não são catalogados como setores da economia criativa.

A economia criativa é vista - principalmente - pelo aspecto da inovação, mas esta não é a sua única característica. 

Um dos principais aspectos da economia criativa está na capacidade de gerar soluções: a utilização do conhecimento adquirido e acumulado para formular soluções específicas para problemas ou desafios específicos.

Vale, por exemplo, para a busca de soluções eficazes para o combate à epidemia de dengue ou do zika vírus.

Vale, também, para a busca de uma solução para a transposição de um rio ou um despenhadeiro para completar uma ligação rodoviária ou ferroviária. Vale para buscar soluções para o problema de mobilidade urbana. Vale para buscar soluções técnicas e estéticas para implantar um novo museu. 

A partir da concepção inicial do empreendimento que se baseia no conhecimento técnico, na inspiração, na criatividade e inovação, se desenvolve a atividade de projetamento, com a elaboração do projeto básico e do projeto executivo, como atividades típicas da economia criativa. São projetos, tanto de arquitetura, como de engenharia.

Arquitetura e engenharia consultiva são segmentos estratégicos na formação do PIB. Embora, do ponto de vista numérico, tenha uma pequena participação, essas atividades dão partida e viabilizam as atividades de investimentos, que representam cerca de 20% do PIB.

A efetivação dos investimentos não depende apenas de recursos financeiros. Essa requer a escolha dos empreendimentos e dos projetos, tanto de arquitetura como de engenharia. 

A economia criativa será o principal fator de redinamização da economia brasileira, e a condição primeira para que isso ocorra é a sua melhor percepção. 

Essa dinamização deverá ocorrer por iniciativa da própria sociedade, dos próprios agentes do setor, não ficando na busca, como na velha economia, da proteção e do financiamento do Estado. 

O que deve configurar uma outra estrutura da nova economia: a menor participação do Estado na economia. Ainda que o Estado seja ainda um grande produtor da economia criativa. 

















 

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