Bom ou mau para quem?

A principal distorção apontada pelos teóricos no sistema do distritão é que o eleitor está votando num candidato, numa pessoa e não num político filiado a um partido. A eleição torna-se personalizada e não partidária. Os partidos só teriam a função de gerir os recursos públicos para as campanhas eleitorais. 

A concepção dominante sobre a organização política é que o eleitor deve escolher, primeiramente, um partido que defende certos ideais ou programa, com o qual o eleitor se filia. O candidato deveria ser um membro consistente do partido, defendendo ou verbalizando esses ideais.

O modelo do distritão enfraquece os partidos. Mas não se pode desconsiderar que qualquer modelo regionalizado tende a fortalecer a escolha personalizada e não partidária. Incluindo nesse caso o sistema distrital puro. 

O modelo proporcional é o que melhor compõe a escolha da pessoa e do partido, a partir da decisão do eleitor. Mas continuará a situação em que o eleitor vota num candidato, mas o eleito pode ser outro. 

Por essa razão se propõe o sistema misto: o eleitor votaria duas vezes: uma vez num candidato e outra vez no partido. E as as vagas do partido seriam ocupados pelos escolhidos pela direção partidária ou eleitos pelos filiados.

Apenas para reflexão e discussão: por que não então o "Distritão Misto"?

Porém os modelos teóricos se contrapõem à realidade em função de como os políticos usam as regras estabelecidas para obterem resultados diferentes do desejado em teoria.

A escolha do modelo ou as suas mudanças não decorrem das suas virtudes ou defeitos intrínsecos, mas de como eles se ajustam aos seus interesses. 

O que pode envolver equívocos de avaliação.

Comparações estatísticas sobre como seria o quadro de deputados eleitos, se em 2014 já vigorasse o modelo do distritão, só tem sentido para exercícios acadêmicos de simulação do "futurível" (o futuro decorrente de um resultado histórico diferente do que efetivamente ocorreu. Do tipo: o que seria o mundo hoje se Hitler tivesse ganho a guerra?). Mera ficção.

Os resultados históricos são resultante de circunstâncias reais do momento e das estratégias adotadas pelos agentes políticos.

O PR teria insistido numa candidatura Tiririca para formar uma bancada maior, em 2014, caso já prevalecesse o distritão?
O PR, em 2018, vai insistir em Tiririca, cujos votos só servirão para a eleição dele?

O PMDB e outros partidos, com ampla ramificação territorial, irão lançar uma multidão de candidatos para formar o quociente partidário, como ocorre no sistema proporcional, ou irão concentrar nos "campeões de votos"?

E como ficarão as suas lideranças que tem grande capacidade articulação dentro da Câmara dos Deputados, ou dentro de todo Congresso Nacional, mas tem pequena base eleitoral. 

Rodrigo Maia conseguirá mais de 60 mil votos, que possam lhe assegurar o retorno à Câmara? Provavelmente o grande esforço do DEM será a sua eleição, com os seus votos diretos, sem o auxílio dos votos "desperdiçados" dos seus partidários não eleitos.

A suposição de que o Distritão, associado à criação do Fundo Eleitoral, irá favorecer os "caciques" partidários, que orientariam os recursos predominantemente para a sua campanha, elegendo-se à base da propaganda pode não ocorrer.

Eles tem maior visibilidade, mas na maior parte dos casos, é uma visibilidade negativa. Terão que destinar grande parte dos recursos para campanhas defensivas, no sentido de enfrentar as tentativas de desconstrução pelos seus adversários.

Diante das novas circunstâncias e regras, sair-se-ão bem, ou melhor, os políticos que souberem ajustar melhor as suas estratégias. Aqueles que ficarem presos aos paradigmas anteriores serão derrotados.

Mas, por enquanto são meras suposições. 

A reforma política sai do campo meramente especulativo ou de avaliações equivocadas, como as citadas anteriormente, para entrar no campo das simulações partidárias e individuais.

Os atuais deputados vão começar a fazer contas simuladas, mas baseadas nas suas visões da realidade brasileira, da sua base eleitoral e lideranças partidárias.

As simulações darão idéia sobre em que modelo ele, o deputado federal atual, tem maior chance de reeleição: no sistema atual ou no distritão? 

O seu voto pela reforma política será determinado pelas perspectivas de reeleição. O resto serão meros discursos para explicar a posição. 




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