A pior ocorrência de 2016

2016 ainda não terminou, mas é um ano para ser riscado por tantos problemas e ocorrências negativas.
Começou com a aceitação do pedido de impeachment da Presidente Dilma Rousseff que se arrastou até meados do ano. O seu algoz, Eduardo Cunha também foi tirado da Presidência da Câmara dos Deputados para ficar preso em Curitiba. Renan Calheiros, ainda conseguiu-se salvar. O mundo politico está em polvorosa, com o vazamento dos primeiros dados do Tsunami Odebrecht.
No futebol, a maior ocorrência foi um assassinato coletivo que dizimou a equipe do Chapecoense, gerando comoção mundial.
A economia continuou patinando, com o desemprego aumentando sucessivamente.

O maior desastre para o Brasil, no entanto, foi outro e responde por um nome feminino: La Niña.

A economia brasileira vem num processo descendente, pela decadência do modelo em que baseou seu desenvolvimento nos últimos 70 anos: uma industrialização voltada quase que exclusivamente para o mercado interno.

No Governo FHC houve uma tentativa de maior destinação da produção industrial para o mercado externo, mas com a subida ao poder do PT, houve uma reversão. E, com a nova matriz econômica, Dilma, tentou reavivar o modelo já decrépito. Mas não só a tentativa fracassou, como deixou uma herança negativa: o doente não se recuperou e ainda trouxe uma enorme dívida.

Apesar dessas circunstâncias a sociedade brasileira, as autoridades e os profetas continuam insistindo em tentar salvar esse doente, com novas medicações e procedimentos, sem sucesso.

O problema não é conjuntural, mas estrutural.

O Brasil precisa mudar o seu "modelo de negócios", mudar do foco da indústria voltada para o mercado interno. A única saída a curto prazo é focar as estratégias para utilizar e consolidar o desenvolvimento do agronegócio, voltado para o suprimento mundial.

Esta perspectiva estava anunciada desde 2015, quando a safra de grãos, alcançou 200 milhões de tonelada e se esperava a continuidade do crescimento. Com o que a sociedade brasileira perceberia o caminho efetivo da retomada da sua economia.

Mas as "travessuras" da La Niña frustraram essa condição. O Brasil enfrentou uma seca prolongada, gerando grandes perdas, e a produção de grãos - o carro chefe - recuou para 186 milhões de tonelada. 

O PIB da agricultura não cresceu, o setor agrícola, acumulando perdas, conteve as compras da indústria e juntou-se aos elementos negativos.

Agora, apesar da cautela em relação às novas variações climáticas, a perspectiva para 2017 é de forte retomada. A produção de grãos da safra 2016/17 está prevista, tanto pelos órgãos oficiais brasileiros, como norte-americanos, acima de 210 milhões. Vai se refletir no aumento do PIB do setor agrícola, nos impactos nos demais setores, com grande avanço do agronegócio que deverá representar mais de 25% da composição do PIB.

As safras já foram plantadas, algumas já foram colhidas, mas os maiores resultados se efetivarão no começo de 2017. Mas essas circunstâncias são ainda pouco percebidas pela sociedade, presa ainda aos paradigmas da industrialização para o mercado interno. A persistência é numa reindustrialização e na esperança de que com os ajustes nas contas públicas isso venha a ocorrer. O diagnóstico que domina o pensamento nacional é de que o problema é falta de confiança. 

O Governo vai conseguir aprovar, ainda em 2016 a PEC do limite de gastos públicos, enfrentando reação popular, mobilizada e organizada pela oposição petista, mas não vai conseguir restabelecer a confiança do setor privado.

Agora há o risco de novas medidas emergenciais, que podem repetir o desastre da nova matriz econômica.

Não fosse La Niña a economia brasileira estaria vivendo dias melhores e com a percepção da sociedade da conveniência de seguir novos rumos. La Niña atrasou essa percepção geral, ainda em formação. Já é percebida nos setores participantes do agronegócio, mas são minoria e continua soterrada e abafada com as teses predominantes do ajuste fiscal e reforma previdenciária. O que está voltado inteiramente para o ajuste fiscal.

Essa percepção de que o Brasil precisa mudar o rumo da sua economia, voltando-se mais para o mercado externo e para o agronegócio, começa a emergir, como ocorreu ontem, dia 12 de dezembro de 2016, com o principal editorial do Jornal Estado de São Paulo, um importante formador de opinião, entre a elite, sob o título "As pistas estão no agronegócio". 

As pistas estão surgindo, mas ainda são dados, projeções e depois da La Niña toda cautela é pouco. Mas a partir de janeiro, com a efetivação das previsões, deixarão de ser suposições, mas evidências, provas concretas de um novo Brasil.

O auge deverá ser junho de 2017, quando divulgados os resultados do primeiro trimestre os economistas, em uníssono, reconhecerão e aceitarão os novos rumos, abandonando os paradigmas ultrapassados. 

O risco que vivemos é que com a crise política, agravada com o tsunami Odebrecht o Governo ceda às pressões dos imediatistas, propondo medidas ineficazes e prejudiciais a uma retomada da economia. Ou se antecipe, alardeando os resultados positivos do agronegócio, antes que se efetivem, colocando em risco a credibilidade das informações. 

O desenvolvimento do agronegócio voltado para o mercado externo não será visto como uma realidade e uma perspectiva promissor, mas como mais uma "jogada do merketing oficial". E com muita desconfiança, atrasando ainda mais a recuperação da economia. 


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