A paróquia contra a nação

O previsível episódio perpetrado pelo triste Maranhão tem uma relevância maior do que a repercussão midiática da tentativa de golpe, conduzida pelo seu Governador Flávio Dino.

Com relação a Waldir, o instrumento usado, já haviamos apontado que ele iria "aprontar". repetindo o que fez o deputado Paes de Andrade, que assumindo temporariamente a Presidência da República tomou o avião presidencial para pousar em Mombaça, no Ceará, sua terra natal. Teve os seus minutos de fama.

Mas não esperavamos que fosse tão cedo.  Aproveitou a oportunidade, antes que não tivesse outra. Tem os seus minutos de fama, mas altamente negativo e com repercussão mais ampla do que queria. Ele está liquidado. E Flávio Dino? Quais vão ser as consequências do "tresloucado gesto" para o pobre Estado?

Embora não estejam claros os seus objetivos, desde a sua posição na votação - em plenário - da admissibilidade do impeachment da Presidente Dilma, tudo indique as razões foram paroquiais. Foram razões do jogo político dentro do Maranhão.

A trajetória de Waldir Maranhão mostra claramente uma figura política típica da política brasileira que está sempre em busca da melhor onda, para surfar no processo político. Mudou de partido diversas vezes, oscilando da esquerda para a direita.

Fruto da oligarquia sarneyzista que dominou o Maranhão desde os anos cinquenta, após derrotar a oligarquia de Victorino Freire, fez parte de seus governos, mas mudou em 2010, seduzido pelo sistema "petrolão". 

O PP, sob o comando do triunvirato Nogueira, Correia e Negromonte, sucedendo a Janene, se integrou plenamente no modelo, com a substituição do mensalão pelo mega-mensalão, distribuindo as benesses aos seus partidários para estruturar a rede nacional do partido. Waldir foi atraído e ganhou o diretório regional.

A estratégia do PP era de ocupação de espaços e tornar-se o quarto maior partido nacional, com aspirações de chegar a ser o terceiro. Conseguiu o seu objetivo inicial, com base no baixo clero e transacionando com o Governo, dominado pelo PT.

Com essa estratégia foi um grande parceiro do petrolão e conseguiu eleger um partidário para a Vice-Presidência da Câmara, em acordo com Eduardo Cunha e opondo-se à candidatura do Governo. Maranhão tomou o lugar que, tradicionalmente, seria de um deputado petista. 

Nos momentos decisivos da votação da admissibilidade ou não do impeachment de Dilma, Waldir Maranhão, preferiu se associar ao Governador Flávio Dino e trabalhar contra o impeachment, contrariando a orientação e posterior determinação do partido para votar a favor.

Segundo as informações preliminares o objetivo de Waldir é se eleger Senador em 2018, com apoio de Flávio Dino, empenhado em derrubar os atuais senadores pelo Estado, ligados ainda a José Sarney. Edson Lobão e João Alberto. Este último, aliado tradicional e eleito pelo clã, estaria mudando de lado.

O ex-juiz e comunista, aderiu, como todo o partido - o PCdoB - à defesa da Presidente Dilma e às teses de José Eduardo Cardozo. Ao perceber a oportunidade de uma "virada de mesa" instruiu o Presidente Interino da Câmara dos Deputados para, pelo menos postergar o processo. E dar oportunidade para uma reação e rearticulação de Dilma e do PT.

O golpe não deu certo e a negociação dos Senadores em relação à cassação de Delcídio do Amaral fez com que, Renan Calheiros, a contra-gosto, recusasse a manobra. 

Tendo fracassada a tentativa do golpe processual, o próprio Waldir Maranhão recuou e o PT vai reservar a munição jurídica que, acha ter, numa apelação final do STF para o julgamento do conteúdo. O que pode deixar Levandowski numa "saia justa". O PT teria que recorrer ao STF um julgamento do plenário do Senado, presidido por Levandowski. Para ter um mínimo de coerência - o que pode ser exigir demais - ele não deveria assumir a presidência do processo. 

Mas do ponto de vista do processo ou sistema político, a questão estrutural mais importante é: o eleitorado do Maranhão vai eleger Waldir Maranhão, Senador de República, no lugar de João Alberto? Concorrer com Edson Lobão e o resquicio do sarneyzismo pode ser mais difícil. Mas corre o risco de ter que enfrentrar também Roseana Sarney.  Triste sina do eleitor maranhense.

A esperança é que o Lava-Jato jogue todos eles pelo ralo e o Maranhão tenha uma nova geração de representantes no Senado.

Quem seriam eles? Serão novos líderes ou serão liderados?

Como ficará Flávio Dino, provável candidato a reeleição. A sua tentativa de contra-golpe ao um suposto golpe será assimilado pelo eleitorado? 

Para manter a sua fidelidade partidária e política, ele jogou no lixo a sua competência jurídica, embarcando em teses duvidosas, controversas e derrotadas.     

Para o eleitor maranhense isso será importante? 

Ele poderá sobreviver. Waldir Maranhão, pela sua tentativa amadora e ganhou os momentos de fama, mas vai ser "sepultado vivo".    

 

  




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