Encantamento, cultura e geração y

Aproveitei estes dias fora de São Paulo, com restrições de internet, para ler um dos melhores livros sobre gestão empresarial, entre os muitos que já li, nos meus sessenta anos de administrador e consultor: "O Poder do Encantamento".

Não é um livro de guru ou de consultor. Ele aprende e faz. Nada de conselhos. Narrativas de quem tem coragem e sabe fazer. E faz pensar, gera reflexões. Algumas delas vou registrar aqui no blog.


José Galló, o mais bem sucedido administrador profissional brasileiro,  terá pela frente um dos poucos desafios que ele ainda está recusando a aceitar, conforme está no seu brilhante livro "o poder do encantamento".

Fez toda a sua carreira baseada na formação e consolidação de uma cultura empresarial, tendo como principal valor o encantamento das clientes. 

Para isso promove intensos programas de treinamento de treines e funcionários mais antigos, eventos de integração e as ações e comportamentos pessoais como exemplo. E busca a manutenção dos colaboradores dentro da empresa, por muito tempo.

Foi muito bem sucedido na sua trajetória transformando uma pequena rede de varejo regional na lider do varejo de moda, sempre com rentabilidade, mesmo nos momentos mais graves da crise econômica brasileira.

Segundo ele mesmo descreve, viveu e assumiu ciclos de sete anos, ao final do qual ocorrem grandes mudanças operacionais, mas mantendo sempre os seus valores básicos.

O ciclo atual seria de 2012 a 2019, de sucessivo crescimento da Rede Lojas Renner, enfrentando as turbulências da crise de 2014-2017, e um futuro com grandes mudanças tecnológicas, anunciadas pela Revolução 4.0.

A introdução dessas tecnologias dentro da cultura Renner, provavelmente será o seu desafio menor. Essas são inevitáveis. Os problemas maiores estarão na velocidade e intensidade de introdução dessas tecnologias. As quais serão introduzida e operadas pela sua equipe, devidamente treinadas.

Os dois desafios maiores estarão na área de recursos humanos ou gestão de pessoas, com a eventual desumanização promovida pela tecnologia e a contradição da sua cultura consolidada com a cultura da geração y, onde estão os novos talentos.

Os jovens mais talentosos em todas as áreas, mas principalmente nas áreas de gestão empresarial, não querem mais fazer carreira profissional perene num mesma empresa. O seu projeto pessoal é uma trajetória de aprendizado passando por diversas empresas e estar preparado para a gestão superior em qualquer empresa, de qualquer setor, e por tempo limitado. Os seus contratos de trabalho, para a gestão empresarial são por prazo certo e finito.  O oposto da visão de Galló.

Uma das atribuições do executivo profissional é coordenar o processo sucessório, seja pela formação do seu substituto ou pelo processo de contratação externa. O que também não está explicito no livro. O seu conceito é que a cultura empresarial deve ser tão forte que subsista à saída do líder. 

No mundo corporativo atual, nada subsiste à falta de lucros durante muitos anos. 

Muitos executivos da geração y já alcançaram a maturidade e estão nesse mercado de trabalho de gestão por projeto, com prazos finitos na condução da empresa.

O desafio de Galló será como gerenciar essa turma de novos colaboradores, tanto na área comercial, como nas demais áreas gerenciais, que não querem permanecer indefinidadamente na empresa. 

Galló tem competência suficiente para enfrentar mais esse desafio, desde que esteja atento a ele e se disponha a enfrentar. O que não dá indícios em seu belo livro. 

O próximo ciclo de sete anos de Galló não será de desafios tecnológicos, mas de gestão de uma nova cultura tumultuada pela geração y. Ou pela que a sucederá: a geração w ou z. 




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