quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Movimentos de massa populares e sociais

Movimentos de massa são manifestações coletivas com o objetivo de protestar, reivindicar, festejar ou simplesmente demonstrar a sua existência. Nesse caso são grupos minoritários que buscam visibilidade dentro da sociedade.

Alguns grupos são tradicionais e contumazes no uso das manifestações coletivas, como os trabalhadores, desde que descobriram a força do coletivo. Mas não basta fazer uma greve. É preciso que os grevistas se reunam em frente ao portão da fábrica ou saiam às ruas em passeata, para serem vistos e conseguirem adesão. 


As manifestações ganham importância quando obtém a adesão de outras pessoas fora do grupo, que apoiam e as engrossam. Mas há também o risco de serem repelidas e até atacadas por discordandes das razões das manifestações.


A maior parte das pessoas de classe média e alta não promovem manifestações de rua, preferindo o silêncio ou se manifestar por outros meios. Raramente aderem e engrossam os movimentos, a menos que sejam fortemente atingidos emocionalmente. As recentes manifestações em Paris do "je suis Charlie" contaram com essa participação da classe média e alta. Foi um caso excepcional, insuflado pela comoção social de uma chacina, contra humoristas-jornalistas.


A maioria pobre também não vai espontaneamente às ruas, para defender as suas posições ou reivindicações.  No entanto, lideranças ativas buscam mobilizá-los para sairem às ruas, convencendo os demais de que somente em conjunto conseguirão ser ouvidos e até atendidos. O grande lema é "o povo unido jamais será vencido".


Para sairem às ruas precisam ter objetivos bem concretos e viáveis de serem atendidos  por decisão de autoridades, empresários e outros decisores. Defendem decisões simples.


Uma das questões mais objetivas é o aumento de preços de serviços públicos e as reivindicações são para a revogação ou redução dos aumentos. Esse mote deu origem às manifestações de junho de 2013, nas grandes cidades brasileiras, e sustenta pequenos, mas barulhentos, movimentos agora no início de 2015, com tendência de esvaziamento, por não terem sido atendidos e tampouco terem recebidos a adesão de mais pessoas.


Outra questão que tem mobilizado pessoas de menor renda é o direito à moradia. Há movimentos espontâneos, de reação às ameaças ou efetivação de reintegrações de posse. São dispersados, mas alimentam os grupos organizados a favor da moradia. Em São Paulo, com uma liderança inteligente, com estratégias que alançam o sentimento dos "sem teto". 


O Governo e o PT buscam dar apoio a esses movimentos, para obter ou assegurar um apoio eleitoral, o que tem dado certo, mas agora com um conflito, na medida em que o PT elegeu o Prefeito Municipal de São Paulo,  autor do aumento de tarifas dos ônibus, contra o qual o MPL (movimento do passe livre) sai às ruas. Ele também é alvo do MTST (sem teto), mas com esse conseguiu estabelecer um acordo, supostamente atendendo às reivindicações do movimento.


Manifestações com uma pauta mais genérica, como as de junho de 2013 são "ponto fora da curva". Uma conjugação de fatores provocou uma grande mobilização que dificilmente se repetirá, proximamente.


As manifestações de junho de 2013 começaram com um pequeno grupo, protestando contra o aumento da tarifas dos transportes coletivos. Tiveram uma adesão inicial, às suas mensagens. As manifestações pacíficas, ao serem atacadas por uma polícia militar despreparada para enfrentá-las, ganharam novas e sucessivas adesões. Os policiais foram provocados com pedras e responderam com força desproporcional. Isso criou uma revolta e indignação das demais pessoas, que aderiram e engrossaram as manifestações. 

O sucesso das reivindicações em relação ao aumento das passagens, com as autoridades cancelando os aumentos, animou outros grupos a reivindicarem suas proposições específicas: os procuradores federais, os médicos e outros. 
A contaminação foi grande, incorporando diversos temas gerais, como a reforma política, o combate à corrupção e outros. Mas o grande mote que animou os manifestantes foi o "padrão FIFA", com duas vertentes: uma contra a realização da Copa, com o lema: "não vai ter Copa" e outra reivindicando do mesmo tratamento preferencial dada à construção dos estádios, para a educação, saúde e outros serviços públicos. 

Apesar da grande repercussão midiática e adesão de milhares de manifestantes os resultados concretos foram mínimos. Fora a revogação dos aumentos e da não aprovação da lei que "amordaçava o  Ministério Público", pouco mudou. O Governo continuou apoiando a construção das arenas, a Copa foi realizada - com um desastre em campo - , não adotou o padrão FIFA para a educação e saúde, a reforma política não andou, a corrupção continuou campeando, agora revelada e o Governo só tomou medidas paliativas.


As manifestações acabaram com a intervenção dos black blocs, promovendo vandalismos e provocando uma reação mais eficaz das polícias.


Ficou a imagem da importância das manifestações, com os políticos assumindo terem entendido que precisavam ouvir a voz das ruas. Mas pouco fizeram e vão fazer. 



Para sustentar o apoio ao Governo o PT tem buscada a criação de mecanismos de sustentação institucional para os movimentos sociais, com o corolário da sustentação econômica para a sua participação.


Apesar de contar com a maioria no Congresso, com a formação de uma base aliada, o Governo Dilma  busca governar com o apoio dos movimentos sociais, usando-os como mecanismo de pressão sobre o legislativo.


Desde o começo da gestão de Lula, o governo tenta trazer os movimentos sociais para dentro do Governo. As primeiras tentativas foram feitas por Olivio Dutra, no Ministério da Cidade e as mais recentes com a Política Nacional de Participação Social. Com poucos resultados efetivos.


O Governo precisa dos movimentos sociais para apoiar proposições de cunho social que tem forte resistência dos "grupos conservadores".


Precisa deles para a própria sustentação do mandato da Presidente, demonstrando que são a maioria que  elegeu. 


Mas grande parte dos eleitores de Dilma, moradores das periferias das cidades e dos grotões deste imenso país, se recolheram depois das eleições e não parecem dispostos a sair para as ruas. É um comportamento natural de quem estar prioritariamente preocupado com a sobrevivência, sem conotações ideológicas e só vão "se mexer" se as condições mínimas de sobrevivência forem colocadas em risco.


Foi essa percepção que fizeram os estrategistas do PT usar como alvo principal do processo de desconstrução dos adversários, a versão de que, se eleitos, iriam acabar com o bolsa família. Marina conseguiu derrubar, ainda que não inteiramente. Aécio não conseguiu desgrudar a imagem negativa. E Dilma ganhou a eleição com o total apoio dos bolsistas.


Vencida a eleição, os bolsistas familiares submergiram, com apenas pouco ativistas aparecendo em movimentos de rua, mostrando alguma visibilidade. Por razões bem específicas.


Não sairão às ruas por qualquer motivo. Mas se o mandato da Presidente for colocado em cheque, com um eventual processo de impechment, irão às ruas? O movimento adversário, certamente, irá. Haverá um terceiro ou quarto turno, nas ruas?


Com o desenvolvimento do processo interno do "petrolão", chegando ao políticos e o processo externo sobre a compra da Refinaria de Pasadena, comprometendo institucionalmente a ex-Presidente do Conselho de Administração da Petrobras, é natural que congressistas da oposição e organizações da sociedade civil proponham a abertura do processo de impeachment da Presidente.


Para barrar o processo a Presidente precisará mobilizar a sua base aliada no Congresso, liderada pelo PT e contar com a boa vontade dos Presidentes da Casa. No Senado tem um aliado. Na Câmara dos Deputados não. Eduardo Cunha, embora se coloque contra a abertura do processo não se empenhará tanto para evitar, caso a pressão social seja muito grande.


A continuidade dependerá da pressão social, que será feita e combatida através da mídia, das redes sociais e das ruas.


A grande mídia não é favorável à Dilma. Quando muito será favorável a uma normalidade do processo democrático, evitando fortes turbulências. Mas também ficará ao lado dos seus leitores e financiadores. Não cometerá "suicídio econômico".


Nas redes sociais haverá grandes batalhas, onde valerá tudo, prevalecendo os radicais, tanto de um lado como de outro.


Nas ruas a classe média se dividirá: os contra provavelmente são maioria, mas nem todos irão às ruas. Só quando o processo se consolidar e a adesão geral for grande: a massa só aderirá à massa quando houver massa.


O ponto de partida serão os setores organizados em movimentos de rua, começando pelos sindicatos. Serão os primeiros a sairem às ruas, com as suas faixas, carros de som e os seus filiados. Mas só conseguirão sucesso se tiverem a adesão das demais pessoas. Essa adesão voluntária tem sido cada vez menor, ao longo do tempo. Essa tem sido obtida pela oferta de condução e do lanche. A atividade tem sido cada vez mais profissionalizada, perdendo as características efetivas de manifestações espontâneas do povo.

Já os ativistas de classe média precisarão mobilizar todos os "sem qualquer coisa" e os "com bolsa-familia". Para esses a mensagem será a mesma das batalhas eleitorais: os "inimigos" querem acabar com o bolsa-familia e demais programas sociais. Conseguirão "desentocar" a maioria silenciosa e evitar o terceiro turno?

Os partidários de Dilma, ameaçam com o risco de convulsão social, caso se desencadeie o processo de impeachment da Presidente. Leverão milhões às ruas, em todo o Brasil, na defesa do mandato que eles conferiram? 

Tudo dependerá da disposição dos seus eleitores em sair de casa, dos grotões do interior e das periferias das grandes cidades para ir às ruas. 















  


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