terça-feira, 6 de janeiro de 2015

As questões cruciais da economia brasileira em 2015

Muita gente fica a repetir um mantra a respeito das perspectivas da economia brasileira que é uma bobagem, mas bastante aceita: a economia brasileira não estaria crescendo porque a sua taxa de investimento é baixa. Usam um índice mágico que seria 20% do PIB e que corresponderia ao dos paises que se desenvolvem.
O dado é real. O investimento, contabilizado nas contas nacionais como formação bruta de capital fixo mantém-se ao longo dos anos abaixo dos 20%.

Aceitando que esse investimento deveria ampliar a capacidade produtiva da economia brasileira, principalmente da indústria, para produzir mais para atender às demandas, o que estaria acontecendo com essa capacidade adicional, neste ano, no seu final. Estaria promovendo um crescimento maior da economia? Não. Estaria com ociosidade maior porque a demanda, tanto interna, como externa estão mais fracas.

O aumento da capacidade produtiva não gera a demanda dos produtos que irá produzir. Só gera a demanda da execução do próprio investimento, o que é limitada à sua participação dentro do PIB. A maior parte é da construção civil.

O investimento é necessário para sustentar o crescimento, mas não para gerar o crescimento. Depende da geração da demanda.

A demanda interna é gerada pela capacidade de compra da população que é decorrente da sua renda e das condições de financiamento. O Governo Lula promoveu ou proporcionou um crescimento dessa demanda, seja pela ascensão de uma população anteriormente fora do mercado de consumo, da melhoria salarial dos trabalhadores, através do aumento real do salário mínimo e das facilidade de financiamento. E uma forte intervenção governamental, nesse processo. Esse processo se esgotou, ao longo do mandato de Dilma Rousseff e não haveria condições de a curto prazo reanimar a demanda interna. A capacidade estatal está esgotada, um aumento real do salário mínimo pode prejudicar mais ainda a competitividade da produção nacional e os consumidores estão altamente endividados, com pequena margem para ampliá-lo. 

Dependerá do ingresso externo e para isso ocorrer seria necessária uma das duas ou a conjugação dessas condições:

  • exportar mais produtos com custo de trabalho agregado;
  • atrair mais investimentos externos para a aplicação em construções.
Essas duas medidas ampliariam a renda do trabalho, restabelecendo um círculo virtuoso.

É importante duas considerações em relação ao aumento das exportações. 

As pessoas, em geral, defendem a exportação de produtos com maior valor agregado, fazendo confusão entre custo e valores.

Um produto mais processado agrega valor? Não necessariamente. Quem agrega custo é o produtor, usando mais mão-de-obra, insumos e outros fatores. Valor é agregado pelo comprador pelo que ele está disposto a pagar. 

Em muitos casos a agregação de custos é maior do que a de valor o que significa uma redução de rendimentos ou prejuizo na operação. Critica-se muito o fato do Brasil exportar minério de ferro em vez de processá-lo internamente e exportar o aço. Mas em muitos casos e momentos, a agregação de custos sobre o minério de ferro, para a produção do aço foi maior do que a agregação de valor. Dai não ter sido interessante a exportação do aço.

Ou seja, a agregação de custos não promove - necessariamente - a agregação da valor. O impacto interno mais importante das vendas ao exterior é a apropriação da renda externa pelo trabalhador que, através do consumo, irá dinamizar a economia interna.

A segunda grande questão é o que exportar com maior agregação de custos e quem pode ou deve exportar?

No setor industrial há duas categorias básicas de exportação dentro do mundo globalizado:

  • a exportação "spot" ou independente realizada por uma indústria brasileira a um importador estrangeiro, em geral, através de uma trading. Pode até envolver contratos para fornecimentos regulares por um prazo determinado, porém não há a intervenção de uma multinacional gestora de uma cadeia produtiva;
  • a exportação dentro de uma cadeia de fornecimento que é feita pela subsidiária de uma multinacional para suprir uma indústria responsável pela atividade subsequente da cadeia produtiva.
O importador pode ser uma empresa do próprio grupo da multinacional exportadora, como externa ao grupo, porém com relacionamento estrutural e não eventual. Um exemplo seria a Volkswagen produzir motores no Brasil, para serem colocados num carro dela mesma, produzido no México.

As decisões não decorrem de um esforço de comercialização da exportadora, mas de uma estratégia da multinacional na definição da descentralização geográfica e por unidade produtiva da sua cadeia produtiva.

O "board" da multinacional irá avaliar diversos fatores para essa distribuição, como as taxas de câmbio, os custos de produção, os tributos, incluindo os acordos comerciais e tributários entre os paises, etc. Mas será sempre uma decisão de natureza institucional e não comercial independente.

Não é o Brasil que exporta. É a empresa multinacional que integra a sua cadeia de fornecimento. Essa operação é contabilizada dentro da unidade nacional, gerando a impressão de que essa entidade abstrata, chamada país, toma as decisões.

O Brasil tem promovido uma política de atração de multinacionais para a instalação de unidades produtivas no Brasil, mas voltadas apenas para o mercado do Mercosul: o que não gera grandes escalas.

O Brasil está fortemente inserido nas cadeias produtivas globais, mas pouco inserido nas cadeias de fornecimento global. O Brasil é um grande comprador e um fraco vendedor dentro dessas cadeias. Dai ser mais importador do que exportador. No balanço comercial aparecem superávits, mas decorrentes do setor do agronegócio. No setor industrial o Brasil é altamente deficitário, o que confirma a colocação acima:

"O Brasil está altamente inserido nas cadeias produtivas globais  e fracamente inserido nas cadeias  de fornecimento global."

Para retomar o crescimento econômico a curto prazo, o Brasil tem que usar a primeira condição para reverter a segunda. É uma questão de política industrial, que precisa ser o inverso do que vem sendo praticado nos últimos anos.



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