segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Onde e quando entramos no desvio?

Os problemas que hoje enfrentamos na economia brasileira, buscando soluções conjunturais e paliativas, decorrem de decisões ou falta de decisões ocorridas no passado.

O problema estrutural maior é a decadência da indústria brasileira. Por que isso está ocorrendo?

O Brasil optou, na década de cinquenta, pela industrialização baseada na substituição de importações. O Brasil era exportador de café, produzido quase extrativa e artesanalmente, com baixa agregação tecnológica e importador dos produtos industrializados, consumidos pela sua elite e classe média.

Esse processo de industrialização iniciado por Vargas e desenvolvido por Juscelino, tomou vigor nos anos sessenta, mantido pelo regime militar até que em meados dos anos setenta, com as quebras decorrente da crise energética, o modelo perdeu vigor. O mercado interno baseado no consumo da classe média não era mais suficiente.

Para manter os níveis de produção, a indústria instalada no Brasil, voltou-se, parcialmente, para as exportações. Essa indústria foi instalada para suprir o mercado interno, com proteções contra as importações e com um pequeno excedente para exportações.

Com a contenção do mercado interno, esses excedentes se tornaram maiores e as indústrias buscaram o mercado externo para colocar os seus produtos.

Mas nesse mesmo período os "tigres asiáticos" estavam desenvolvendo o modelo exportador, com a implantação de plantas industriais, de grande porte, voltado para o mercado mundial. Em grande parte eram promovidas pelas multinacionais norte-americanas que buscaram uma produção a custos mais baixos para abastecer ao seu mercado nacional, o maior mercado mundial de consumo, assim como os demais mercados no mundo.

É importante ressaltar a diferença de modelos, porque é exatamente na diferença de escolha dos modelos que determinou a diferença de trajetórias entre a economia brasileira da asiática.

A nossa patinando no processo "stop and go" e as asiáticas seguindo um crescimento continuado, mesmo com as intermitentes crises dos principais mercado consumidores.

O modelo brasileiro era a industrialização, de médio porte, voltada para um mercado brasileiro de classe média e exportação de excedentes e o modelo asiático de industrialização voltada para o mercado mundial. 

Isso determinou uma substancial diferença de escala de produção. Enquanto as plantas industriais brasileiras eram de médio porte, as asiáticas eram várias vezes maior, de grande ou mega porte. 

O Japão, já era uma economia desenvolvida, arrasada pela Guerra, mas recuperada. Nos anos oitenta era a segunda maior economia mundial, atrás apenas dos EUA, tendo superado as européias. Na ocasião a China ainda não havia emergido.

A principal emersão, na época, foi da Coreia, saida no final dos anos cinquenta de uma guerra que a seccionou, e que concentrou a sua produção industrial em grandes conglomerados, voltados para o mercado externo. A sua escala de produção dos "vitoriosos" sempre foi mega, e avançou no mercado mundial, após a Copa do Mundo de 2002, com as marcas Hyundai, Samsung, LG e outras. 

Embora os resultados só tenham aparecido mais tarde, o momento da inflexão da economia brasileira, foi o final dos anos setenta, com a crise energética.

As decisões de política econômica e industrial adotada pelos diversos paises, como resposta à crise estão na base do quadro atual da economia brasileira.

Ao contrário das economias asiáticas, o Brasil não optou pelo modelo exportador e da produção em grande escala.

Hoje a indústria brasileira que permaneceu na mediocridade, não tem competitividade para concorrer no mercado mundial, que inclui o próprio mercado nacional.

As raras exceções estão no segmento das carnes e da celulose, onde as escalas são de grande para mega.

O setor de grãos é o que sustenta as exportações brasileiras, com produções em grande escala.

O segredo da evolução econômica recente no mundo está na escala. Mais do que em salários baixos. A inovação só tem importância quando é base para a produção em grande escala. 

Não há mais produto industrial novo que ganhe importância, sem envolver uma escala mundial. 

O Brasil se apequenou e a sua baixa vitalidade decorre disso.


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