sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Declínio da indústria tradicional e novas oportunidades

A indústria brasileira tradicional criada e desenvolvida dentro do modelo da "substituição de importações" está em declínio e seguirá inexoravelmente nessa trajetória, remanescendo poucos sobreviventes.
As exportações de excedentes, não absorvidos pelo mercado interno, também estão condenados à inanição. 
A nova indústria ainda voltada para o mercado interno, aproveitando algumas barreiras de entrada, inovou ou se renovou, mantendo condições de competitividade com relação aos produtos do exterior.
Diante dessa decadência inevitável, a indústria brasileira precisa encontrar novos rumos, novos modelos. 
Tentar recuperar aquela indústria decadente não é uma tarefa complexa: é inútil. Aumentar as proteções é apenas postergar o falecimento, com elevadíssimos custos. 

A indústria brasileira tem que buscar novos rumos, novas oportunidades. 

As novas oportunidades, decorrentes das transformações globais, estão no ciclo da indústria verde.

O Brasil preferiu ficar fora do ciclo das plataformas de exportação, que transformaram inteiramente a China em pouco mais de 40 anos. 

Agora as transformações estão trazendo um novo ciclo: o da economia verde e, dentro dela, da chamada indústria verde. O mais adequado seria chamar de economia e indústria ambientalmente sustentável, ou mais simplesmente indústria sustentável.

Esse processo precisa ser melhor entendido para a avaliação de como aproveitar essas oportunidades.

A primeira condição para a indústria de transformação verde está na utilização preferencial de insumos renováveis.

Esses são, basicamente, a energia e as matérias primas. A indústria de transformação não é, por natureza, produtora de energia ou de matérias primas. Ela é compradora, precisando encontrar esses insumos no mercado, a preços competitivos.

Por outro lado, os produtores de energia investirão mais em fontes renováveis que tiverem compradores. O Brasil neste sentido tem grandes vantagens naturais. Mas essas vantagens podem fazer com que a sua produção perca competitividade econômica, por falta de investimentos em desenvolvimento tecnológico. 

A matriz elétrica brasileira é altamente sustentável, baseada em fontes renováveis, como a hidroeletricidade e a eólica. A solar ainda é dependente de materiais pouco disponíveis no país. A solar tenderá a ser uma importante fonte para o consumo residencial e urbano, mas pouco relevante para o consumo industrial. Já a geração eólica será integrada à rede geral.

Já a matriz de combustíveis é pouco sustentável, com a predominância de fontes não renováveis, como o petróleo e o gás. O Brasil desenvolveu uma alternativa renovável que é o etanol, hoje estrangulado pela política de subsidios aos derivados de petróleo. 

No uso das matérias primas será necessário buscar alternativas para substituição dos não renováveis por renováveis. 

Três segmentos podem ser considerados prioritários: a siderurgia, a química e a de insumos agrícolas (fertilizantes e defensivos).

A tecnologia do aço é dominada, mundialmente, pelo aço carbono, que permitiu o uso do minério de ferro na forma de laminados. A economia sustentável requer a produção de aço sem carbono, ou seja, sem uma forte presença do carvão mineral. O Brasil, que dispõe ainda de grandes reservas de minério de ferro, deveria liderar esse processo de inovação tecnológica.

A química envolve a petroquímica que precisaria ser substituida pela etanolquímica ou similar e a farmoquímica que precisaria se basear em ingredientes naturais e renováveis.

Um terceiro importante segmento químico é o do cloro e outras substâncias utilizadas no tratamento da água e do esgoto. Este é um campo que importantes oportunidades. De um lado é preciso promove a dessalinização da água dos mares e oceanos para o seu uso comum e, de outro, aproveitar industrialmente o sal separado nesses processos.

Na área dos fertilizantes o Brasil deu um grande salto tecnológico, que propiciou a relevância que tem o agronegócio atualmente: a fixação natural do nitrogênio. Mas a fertilização ainda depende do potássio e do fósforo, ambos recursos minerais não renováveis. A inovação deve buscar alternativas renováveis para esses insumos.

Vamos tentar avaliar, na sequência, o que seria uma transformação industrial sustentável.

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