sexta-feira, 18 de julho de 2014

O maior dos baianos indolentes

A mística do baiano indolente foi gerado por um dos baianos mais bem sucedidos na história brasileira. Não foi Ruy Barbosa, aclamado pela opinião publicada, mas Dorival Caymmi aclamado também pelo povo. 
Caymmi fez da sua preguiça pessoal e das suas canções a sua fonte de renda, só não ficando mais milionário porque na sua época a economia do lazer não estava tão desenvolvida.
Os seus filhos seguiram a carreira musical, mas com sucesso relativo. Não são indolentes e talvez por isso mesmo. 
O paradigma vendido pela cultura industrial é que o trabalhador precisa trabalhar muito, dar o duro durante muitos anos, ganhar um bom dinheiro, poupâ-lo para poder se aposentar e ficara sem fazer nada. Preferencialmente ir para a praia, gozar do calor e do sol (com os seus refúgios com ar condicionado), só com camiseta (ou sem ela mesmo), bermuda e chinelo de pé. A indolência seria um prêmio, uma compensação pelos anos de trabalho.
Muitos jovens, filhos de pais trabalhadores, acham que devem desfrutar da poupança dos pais, enquanto jovens. Divertir-se, aproveitar logo, e não deixar as festas para quando ficarem mais velhos, sem a mesma disposição.
Nos litorais, como o da Bahia, pode-se encontrar muitos personagens de Caymmi ou de Jorge Amado que não pensam em trabalhar para poder desfrutar, na velhice de uma vida boa, sem nada fazer. Querem tê-la sempre. 
O país precisa ter o trabalhador disciplinado, ativo e produtivo. Mas aqueles que querem gastar as poupanças geram um movimento econômico não desprezível, ainda que marcado por preconceitos. Mais ainda: os gastos dos "indolentes" e "festeiros" transfere uma renda propiciando a formação de novos ricos que vão aumentar o PIB. 
As festas e suporte ao ócio geram muito trabalho e trabalho competente e disciplinado. Gozar do ócio num resort durante alguns dias ou semanas requer um batalhão de serviçais. Organizar uma festa requer muito trabalho de preparação, em geral, com prazos inadiáveis. 

O Brasil teve oportunidade histórica de se tornar uma grande potência industrial, no contexto mundial. Não soube aproveitar, por equívoco estratégico e os principais espaços foram tomados pelos asiáticos. Remanescerá uma indústria, porém de segundo nivel.

A Copa do Mundo mostrou uma nova e importante vocação brasileira: o lazer e o entretenimento, ligados à alegria de viver. Poderá ser o maior legado da Copa 2014. 

Não pode perder mais esta oportunidade histórica. 


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