quarta-feira, 14 de maio de 2014

Os efeitos perversos da Copa -

Para a realização da Copa no Brasil foram empreendidos, com amplo apoio de recursos públicos, a construção ou reforma de estádios em 12 capitais.

Em dois dos casos foi empreendida a construção de novos estádios a partir do zero (o que os especialistas chamam de "greenfields") em áreas distantes do centro urbano.

Nos dois casos, Recife e São Paulo, havia a opção por estádios em áreas mais próximas do núcleo denso da cidade. Mas a opção foi por construir o estádio em local distante, sob a argumentação de promoção do desenvolvimento urbano e de levar a essas áreas a modernidade urbana.

O que é essa modernidade ou desenvolvimento? No caso do Recife uma ocupação planejada de uma área de expansão urbana, ainda pouco ocupada, criando uma nova cidade, lindeira a uma linha metroviária. 

No caso de São Paulo, a área de Itaquera onde foi implantado o novo estádio, já é bem servida de transporte coletivo de massa, com um a linha metroviária e uma linha do trem metropoliano. É uma área com densa ocupação horizontalizada, predominante ou quase que totalmente por uma população de menor renda, podendo ser caracterizada como uma ocupação popular.

Na perspectiva governamental os novos estádios promoveriam a implantação de uma infraestrutura pública, principalmente de transportes, atraindo empreendedores imobiliários para o lançamento de novos e modernos edifícios, tanto para residências como para escritórios e comércio.

O grande legado seria essa urbanização, com a incorporação de novas áreas ao mercado imobiliário e sua consequente valorização.

Essa mesma valorização produz um efeito perverso que é a inviabilização da permanência das pessoas de menor renda que se instalaram na região, muitas das quais já expulsas de outras áreas por conta da valorização imobiliária.

O processo de urbanização segue sucessivamente essa perversidade que é o afastamento da população de menor renda, cada vez mais distante dos centros principais, com dois impactos indesejáveis:

  • o aumento dos tempos de viagem casa-trabalho, com saturação dos sistemas de transporte coletivo;
  • a pressão popular e política para que o Poder Público leve à infraestrutura para essas novas áreas de expansão urbana.
O resulto efetivo gera a impressão generalizada de que a cidade cresce de forma desordenada e sem planejamento. Quando, na realidade, decorre do planejamento e da implantação de projetos urbanísticos. 

A grande diferença agora é que movimento sociais resolveram contestar esse processo, com a invasão de áreas urbanas intermediárias, revertendo o processo de expansão periférica.

A invasão pelo MTST não é apenas perto do Itaquerão. Não está além do novo estádio em relação ao centro, mas aquém, mais próximo. Efetivamente numa área adquirida por um empreendedor imobiliário para uma nova produção imobiliária.

Por desconhecimento "atiraram no que viram" (uma área desocupada há anos) e "acertaram no que queriam" : o empreendedor imobiliário promotor da valorização que para o MTST é caracterizado como especulação imobiliária. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...