sexta-feira, 23 de maio de 2014

As incógnitas das manifestações de rua

Vai ter Copa? Vai.
Vão ocorrer manifestações de rua? Vão.
Vão parar a Copa? Não.
Vão perturbar a cidade de São Paulo? Vão.

A FIFA já é "dona" das "arenas multiuso" construídas ou reformadas para a Copa. Ela procura fazer os testes para que tudo dê certo, dentro dos estádios e no seu entorno imediato. Ela assume também o controle absoluto desse entorno, na chamada Zona de Exclusão, num período antes, durante e após os jogos. Na prática, o Brasil abdicou da sua soberania por um tempo em região específica, criando um Regime de Exceção. Como se a arena fosse o polo de uma guerra. Quem são os inimigos?

Essa exceção, ainda que explicável por razões de segurança, transparece diante da sociedade como um regime excepcional de proteção aos interesses econômicos dos seus patrocinadores o que significa, em última instância, a proteção aos bilionários lucros daquela entidade internacional, "dona" do futebol mundial. Um dos melhores negócios do mundo.


Esse é um dos motivos da insatisfação, da inconformidade a até mesmo da indignação que leva as pessoas às ruas para protestar contra a Copa da FIFA.

Não é suficiente para levar muita gente para as ruas porém muitos aderem aos movimentos bem sucedidos promovidos por grupos que tem motivações mais concretas e específicas.

As últimas manifestações em São Paulo são também testes que permitem entender melhor o que está ocorrendo e o que pode ocorrer daqui até a Copa e durante a Copa.

Em São Paulo, o grupo mais ativo é do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Apesar da denominação, uma grande parte, talvez a quase totalidade, não são trabalhadores formais, mas desempregados, beneficiários dos programas sociais e com teto. São "com teto" mas sob risco de perdê-lo em função do aumento dos aluguéis provocados pela valorização imobiliária. Para eles "especulação imobiliária", com grande aceitação social dessa figura.

Entendem-se com o direito natural de ter um teto próprio, com o apoio da esquerda e dos governos petistas, mas não querem aguardar um atendimento formal e legal. Invadem imóveis prontos ou terrenos desocupados e reivindicam a legalização da posse.

Os governos petistas querem atendê-los, mas tem dificuldades de ordem orçamentária, econômica e institucional.

Não querem esperar e, em função do apoio no discurso das autoridades petistas, inclusive da Presidente que os recebe diretamente, mesmo atropelando a sua agenda, e da mídia que encontrou uma "pauta que vende" multiplicam as suas ações para permanecer no foco da mídia.

Ademais estão em ação preventiva para obter o apoio da sociedade contra a tentativa de reintegração de posse de terreno invadido em Itaquera.

Farão sucessivas ações de mobilização dos seus participantes, com uma área delimitada de movimentação, em função das suas restrições econômicas.

O MTST, diversamente de sindicatos, facções criminosas,sem terra e outros grupos ou entidades, não conta com muitos recursos financeiros para organizar e promover as manifestações. Os seus integrantes tem que chegar aos locais e depois retornar aos seus acampamentos a pé ou de transporte coletivo. Não tem recursos para fretar ônibus, fornecer lanches, contratar carro de som, etc. Precisam de doações e outros apoios materiais.

A passeata de ontem do MTST tem algumas das suas características básicas, mas agregando outras aprendidas com outros movimentos. 

A mobilização teve o apoio da convocação pela rede social. Foi marcada no final da tarde, para chamar os seus participantes e ir agregando os simpatizantes. O seu horário tradicional que é o começo da manhã não atrai simpatizantes ou até os opõe, porque nesse horário eles estão com pressa para ir ao trabalho.

O local de reunião seguiu a mesma lógica: é próximo a uma estação metroviária ou ferroviária. 

O local de dispersão é também próximo a uma estação. Foi seguindo a linha da CPTM. 

Farão novas manifestações antes da Copa e também durante, mas não nos dias de jogo. Poderão até tentar, mas terão pouco público. Os simpatizantes estarão em casa para acompanhar o jogo pela televisão e não na rua.


A maior parte dos simpatizantes é do grupo do Jaque.
Já que ele está na rua, engrossa a passeata, porque é também um inconformado com os gastos com a Copa.

Mas o simpatizante não entra se tiver a presença dos black blocs. A presença dos mascarados é sinal de confusão e sua adesão não chega ao ponto de assumir riscos de ser agredido, levar uma bala perdida ou ser detido.


A manifestação de ontem confirmou que os black blocs afastam os simpatizantes. Sem eles os volumes de manifestantes serão maiores. 

O teste de ontem permite tirar algumas conclusões e fazer prognósticos.


  1. Os Governos petistas (Federal e Municipal) querem atender o MTST com moradia para os seus integrantes, mas não tem como, a curto prazo;
  2. diante do não atendimento - e não lhes interessa as razões ou explicações - continuarão saindo às ruas, sucessivamente;
  3. as suas manifestações serão limitadas territorialmente, concentrando-se em áreas periféricas, chegando excepcionalmente em regiões mais centrais;
  4. não conseguirão chegar muito próximos ao Itaquerão, em função da proteção da arena pelas torcidas organizadas do Corinthians eles não querem o confronto físico;
  5. nas manifestações em áreas centrais terão uma adesão crescente dos simpatizantes, se não houver a participação dos black blocs;
  6. a presença dos black blocs afastará os simpatizantes;
  7. não haverá manifestação com adesão significativa de participantes nos dias de jogos em São Paulo;
  8. as manifestações continuarão após a Copa, mas restrito aos integrantes do MTST e cada vez mais esporádicas;
  9. mas no pós Copa há a questão crítica da reintegração de posse do terreno invadido em Itaquera; 
  10. a pressão toda será pela desapropriação da área pela Prefeitura e permissão, na revisão do Plano Diretor para a sua ocupação por moradias populares (ZEIS).

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