sábado, 15 de março de 2014

Uma visão lúcida, com algumas derrapadas

Roberto Freire, além de político com bom discurso e carisma mostrou-se um excepcional analista, com posições firmes e avaliando as situações e propostas com uma visão ampla, levando em conta os efeitos perversos. 
Critica o excesso de regulação, toda concentrada no âmbito federal, com um Congresso subordinado ao Executivo. Isso tolhe a inciativa e organização da sociedade. Por essa razão não vê como inconveniente a existência de 39 partidos, admitindo que se poderia ter mais, com ampla liberdade das pessoas em organizar partidos. É contra, no entanto, ao acesso dos partidos aos fundos partidários e ao tempo  de televisão, sem contar com um mínimo de representatividade no Congresso. Ou seja, é a favor da liberdade de organização de partidos para representar os interesses e aspirações de segmentos ou grupos da sociedade, mas não como um investimento para ganhar os recursos do fundo partidário ou ter tempo no horário gratuito para negociar com partidos maiores. Vê com clareza as distorções e evita jogar fora a água do banho, com o bebê junto. 
Vê o esvaziamento total do legislativo estadual, o que faz com que a federação brasileira seja uma ficção.
Apoia a rebeldia da Câmara dos Deputados, como uma das raras oportunidades de manifestação de independência do Legislativo, sem ficar atrelada ao Executivo. 

Propõe um novo projeto nacional, baseado no conhecimento mas com uma visão genérica, sem maiores detalhes. Mas "derrapa" na percepção dos investimentos da indústria automobilística em tecnologia e inovação, para cumprir a contrapartida das renúncias fiscais e benefícios concedidos pelo Governo.

A indústria automobilística é uma das mais globalizadas e não existe uma indústria automobilística brasileira, mas uma indústria no Brasil.  Os resultados dos trabalhos em P&D financiados  pelas indústrias instaladas no Brasil não são aplicadas apenas na produção e produtos fabricados no Brasil, mas para um produto mundial que, de início, nem sejam produzido no Brasil.
O centro de P&D de uma indústria automobilística é de âmbito mundial, instalado no Brasil. O seu conhecimento não é difundido no país, mas fica restrito à empresa que o desenvolveu. Emprega engenheiros e outros profissionais brasileiros e estrangeiros. 
Ao contrário do que o deputado e muitos ainda imaginam, a indústria automobilística brasileira não produz "carroças", mas produtos modernos, carros mundiais, eventualmente com nome específico no país. E são produzidos com equipamentos e processos igualmente de última geração. Diversamente do que ocorreu no passado. A última carroça deixou de ser produzida no começo do ano, apenas de continuar sendo muito querida e com ampla demanda: adeus Kombi.  
E tem mais, os carros brasileiros são pioneiros nos motores flex, que podem trocar automaticamente o combustível, com ajustes informatizados. O carro flex não é uma invenção decorrente da genialidade de algum inventor, mas produto de intenso trabalho de P & D, feito no Brasil, ainda que por uma multinacional. Não é produto da academia, mas da própria indústria.

A grande diferença do mercado brasileiro, em relação a outros mercados mundiais é o predomínio do carro de motor 1.0. Evidentemente um automóvel mais fraco e com menos recursos tecnológicos do que os de maior nível, que são o piso em outros mercados. 

O que precisa ser melhor discutido é como difundir inovações e tecnologias que são desenvolvidas e apropriadas exclusivamente pela empresa que as desenvolveu. 
O investimento de uma empresa em inovação não objetiva a prioritariamente a modernidade, porém a competitividade. E se tem um ganho não quer dividir com os concorrentes. É da lógica empresarial.

Quem desenvolve tecnologia e alcança inovação não é o país, mas as empresas aqui instaladas, assim como as universidades e centros de pesquisa nacionais. Esse percepção deve ser o ponto de partida.






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