sábado, 29 de março de 2014

Continua o impasse

O jeitinho brasileiro caracteriza-se pelo adiamento sucessivo das decisões e ações até a undécima hora, para dar um "jeitinho"  na última hora. Com uma solução improvisada.

Quinta-feira passou, sem solução para o impasse das estruturas complementares e temporárias no estádio do Itaquerão, onde ocorrerá o jogo de abertura da Copa da Fifa 2014. Jérôme Valcke anunciou que haveria solução até sexta, mas voltou para a Suiça sem uma solução. Porto Alegre deu um passo, mas ainda não a solução. Não há suficiente segurança jurídica para os eventuais investidores de que irão gastar e poderão compensar no ICMS. Há várias ações jurídicas preparadas para contestar a medida aprovada pela Assembléia Legislativa, com base em proposta do Executivo.
O jogo é bem conhecido: "fiz a minha parte, os outros é que não deixaram". A turma da FIFA fica desesperada com isso, mas ainda estão se acostumando com o "modo brasileiro".


A 75 dias da abertura, as soluções serão no jeitinho brasileiro, com a impressão de que estará tudo resolvido, mas com soluções improvisadas e maquiadas.
O essencial para a realização dos jogos será resolvido, com geradores para suprir, por pouco tempo, eventuais apagões de eletricidade, assim como as instalações para a mídia e para as transmissões de TV, pela FIFA. As complementares que as TV querem para transmissões especiais terão que acordar com a Rede Globo que será uma das poucas ou a única a dispor da infraestrutura, com investimento próprio. 
As tendas ou barracas só serão erguidas por conta dos interessados e não pelos proprietários dos estádios.

No Itaquerão, onde se concentram os maiores impasses, porque receberá o jogo de abertura, a semana terminou ainda empatada. Os próximos 45 dias serão de prorrogação, que também deverá terminar empatada. Os últimos 30 dias serão dos penalties.

O jogo continua a mesmo. O Governo Federal, através do seu Ministro dos Esportes não quer assumir a liderança das negociações com a FIFA, para uma solução acordada, com minimização das exigências e saidas alternativas que não as tradicionais barracas. Não quer para não ter que assumir os ônus de financiar o que precisa ser feito. Permanece no discurso de confiar que os Governos Estaduais, Municipais e clubes encontrem uma solução. Ele sabe que não pode confiar, mas mantém o discurso.

A FIFA não arreda pé, fiando-se nos contratos firmados, na Lei Geral da Copa e ameaçando entrar com ações de indenização: já que não é mais possível cancelar a Copa ou alguma cidade. O Governo Federal fica intimidado, com receio dos impactos eleitorais e das promessas de realizar "A Copa das Copas". 

Governo Estadual e Municipal continuam dizendo que já estão fazendo a sua parte e não vão fazer nada mais. Só se dispõe a ajudar encontrar parceiros ou patrocinadores privados para colocar o dinheiro. Apenas declarações de "maior esforço". Pouco ou nada efetivo.

O Corinthians faz o jogo também tradicional. Um diz que está tudo resolvido e outro diz o contrário. Andrés Sanchez, ex-presidente e responsável pela obra, diz que o clube vai pagar as instalações temporárias. O atual Presidente diz que não. O que Sanchez quer dizer é que já teria patrocinadores para ajudar o clube. Mais uma vez é um "wishful thinking".

O clube não vai pagar. Agora que as coisas ficaram mais claras, com o entendimento do que são essas tais estruturas complementares que já mostramos aqui reiteradamente, como o "camelodromo" da FIFA, os órgãos decisórios do clube não vão concordar em pagar a festa da FIFA, que não traz nenhum benefício ao clube: só custos.

Isto já era sabido desde que o Itaquerão foi escolhido como local para o jogo da abertura. A dificuldade do Morumbi em suprir essas estruturas complementares e temporárias foi usada como argumento para a sua substituição. O Itaquerão teria as condições e as tais estruturas foram incluidas no empreendimento. Mas não no contrato de construção da obra pela Odebrecht. Essa pretende se retirar do canteiro 60 dias antes da Copa, com a obra entregue segundo o seu contrato. 

Sanchez contava com a maior e melhor visibilidade do estádio para vender caro o "naming right" e justificar perante os conselheiros e dirigentes do clube a necessidade de atender plenamente a FIFA. Não conseguiu. Mas como ainda está no primeiro tempo da prorrogação, conta com algum tempo para marcar o gol salvador.

Sem patrocinador o clube não vai assumir os custos e dívida adicional. Já está terrivelmente incomodado e apreensivo com a dívida já assumida, muito acima das expectativas iniciais. O clube agora "está caindo na real". 

Resta a FIFA para pagar. Mas esta também já está também entendo melhor o "jeitinho" brasileiro e vai deixar a decisão para os penalties. Por enquanto só exige, só ameaça. Mas ela tem os seus "patrões": os patrocinadores que precisam ser atendidos, segundo os seus contratos.

Ao final ela poderá investir, contando que poderá se ressarcir do Governo Brasileiro em função dos contratos firmados, com decisões judiciais em foros internacionais. O problema é que ela mesmo mudou tanto as exigências e as especificações, que a deixa em condições menos segura para reivindicar os gastos decorrentes dessas mudanças. 

Ela poderia ganhar judicialmente, porém será que valerá a pena, em termos de imagem, para negociar os seus futuros patrocínios?

Esse é o dilema de Valcke e Blatter. Por isso vão esperar pelos penalties.


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