sexta-feira, 14 de março de 2014

Brasileiros e a Copa

Em 2007 o Presidente Lula, em nome do Brasil, acordou com a FIFA a realização da Copa de 2014 no Brasil. Imaginava-se que seria um grande presente para o povo brasileiro, adepto, apaixonado ou até fanático por futebol e uma grande oportunidade para superar o complexo de vira-lata. 
Em 2014 a pátria brasileira calçaria as chuteiras, esqueceria tudo o mais para torcer pela sua seleção.
A opinião publicada esportiva sofre da "sindrome rodriguiana".
A idéia de Lula era organizar a maior e a melhor festa do futebol e convidar o mundo todo para a confraterização com um povo alegre, hospitaleiro e cordial.
O Brasil demonstraria ao mundo a sua enorme capacidade de organizar, com sucesso, um dos maiores eventos internacionais, superando as competições anteriores, organizados tanto por paises desenvolvidos, como pela África do Sul. Teria a oportunidade de se mostrar como um país desenvolvido, maior transformação de um país: promovido por um homem do povo, nascido pobre e sem instrução.
Baseado no que havia ocorrido com a Alemanha, a Copa serviria para elevar ao grau máximo a auto-estima do povo brasileiro e deste se mostrar ao mundo, pelo seu lado alegre, cordial e hospitaleiro.

A torcida pela seleção brasileira seria uma das poucas unanimidades do povo brasileiro.

Conquistado o direito e a obrigação de sediar a Copa, o Brasil e os brasileiros voltaram à sua cultura tradicional deixando, desde logo, a planejar todas as atividades necessárias para a sua realização: para os brasileiros, sete anos era tempo demais. Não havia pressa em começar.

Lula comandou a conquista, mas depois deixou a condução das medidas a terceiros, sem uma definição clara das responsabilidades. A proposta para que Lula criasse o PAC da Copa e designasse a sua então Chefe da Casa Civil, como a coordenadora geral não foi considerada. Preferiu deixar a coordenação das ações federais  com o Ministro dos Esportes, assumindo que a responsabilidade principal pela realização da Copa seria privada, cabendo as principais providências à CBF e ao chamado COL, uma associação da CBF com a FIFA.

Assumiu essa posição a partir da sua definição de que não haveria destinação de recursos públicos para a Copa. Mas essa definição significava apenas que não haveriam recursos do orçamento geral da união - OGU, também caracterizado como orçamento fiscal - porque oriundo dos recursos tributários. Aceitou apenas financiar os estádios, a partir do BNDES, escamoteando o fato que essa instituição financeira para criar o programa Pro-copa teve que recorrer a aumento de fundos do OGU. Ainda que se possa alegar que em se tratando de financiamentos, os recursos retornariam, o fato é que recursos orçamentários federais foram canalizados para atender à construção ou reforma dos estádios, retirando-os de outras aplicações. Essa manobra não foi percebida na ocasião, mas somente agora, dando margem às contestações nas manifestações populares.

Os brasileiros ficaram eufóricos, no final de 2007, com a escolha do Brasil como sede da Copa 2014 e juntamente com Lula foram dormir felizes, com grande elevação da sua auto-estima. O Governo Federal considerou a sua missão cumprida. 

Somente algumas entidades empresariais "se mexeram", a ABDIB, reunindo recursos das grandes construtoras para  levantar todas as necessidades de investimentos em infraestrutura para apresentar ao Governo Federal e o SINAENCO, defendendo a necessidade de planejamento dos empreendimentos para a Copa, com a promoção de um road-show em todas as cidades candidatas para a discussão da preparação delas para receber a Copa.

O primeiro foi um trabalho de gabinete, com parco conhecimento pela mídia e pelo grande público. Para ela e seus parceiros não interessava a divulgação, mas as decisões dos governantes em contratar e executar as obras propostas. Ou seja, os brasileiros não tomaram conhecimentos e os que tomaram viram os estudos sob suspeita de atender apenas a interesses privados.

O SINAENCO promoveu reuniões em todas as cidades candidatas (exceto Rio Branco) difundido a visão da Copa como um grande evento midiático e que não bastava às cidades preparar um estádio, mas aproveitar a oportunidade para uma grande transformação da cidade, como Barcelona o fez com as Olimpiadas de 92.

Por outro lado procurou-se mostrar que a Copa era um grande evento privado, de caráter midiático e que a FIFA percebendo essa condição exige tudo do país hospedeiro, que deve realizar todos os investimentos para receber a festa, a entidade fica com todos os resultados econômicos e deixa o país com um conjunto de "elefantes brancos" e enormes dívidas, que levarão muitos e muitos anos para serem amortizados.

Não havia ocorrido anteriormente qualquer desatendimento por parte dos paises hospedeiros das exigências da FIFA e a entidade foi se tornando cada vez mais exigente e gananciosa. Ao perceber a exclusão da população local em assistir aos jogos, dado o elevado valor dos preços dos ingressos, inventou as "fanfests" para reunir esse população numa grande área aberta, mas devidamente cercada, com a comercialização dos produtos dos seus patrocinadores. Mais uma vez quer que a cidade prepare o local, erga as ditas estruturas complementares, cuide da segurança, sem qualquer ressarcimento e ela, a FIFA, fature tudo.

À medida que essas condições foram sendo percebidos pela população, partes crescentes foram ficando incomodadas até que com a irrupção de movimentos de protestos nas ruas contra a majoração das tarifas do transporte coletivo, a insatisfação com os gastos com a Copa foram incluidas na agenda das contestações genéricas, como o combate à corrupção, melhorias na educação e saúde. Aproveitando as circunstâncias, os movimentos de rua passaram a reivindicar o "padrão FIFA" que estariam sendo adotadas para os estádios para os investimentos e serviços em educação e saúde.  Dado o sucesso dessas mobilizações que, logo em seguida, tiveram oportunidade de contestar a Copa das Confederações, emergiram os movimentos anti-Copa, caracterizados pelo bordão "não vai ter Copa".

Ao contrário de um movimento mais espontâneo, anunciado pelas redes sociais o "não vai ter Copa" é promovido por minorias radicais dispostas efetivamente a tumultuar a realização do grande evento esportivo.

É um movimento com objetivos negativos, ser do contra e não a favor de alguma coisa. 

As enquetes de opinião da população sobre a copa indicam que ao contrário de unir a população brasileira em torno do que seria a única unanimidade social, promoveu a sua divisão.

Os favoráveis à Copa ainda são a maioria, porém com diferença escassa sobre os contrários. Com grande contaminação política. 

Muitos não percebem a realização da Copa, como uma ação do país, mas do Governo. 

Os que aprovam ou são partidários do Governo estão a favor da Copa, os que desaprovam ou são contrários ao Governo, não querem que a Copa dê certo. 

Vai ter Copa, poderá ser um sucesso de organização e até mesmo no gramado. Mas poderá acabar sendo o maior "tiro no pé". Com a imagem do país, no exterior, pior do que antes.

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