segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A tática black-bloc gera contradições do Governo


Dentro das manifestações populares de junho de 2013 emergiram manifestantes radicais praticando atos de vandalismo, confrontando a Polícia Militar e outras ações que foi caracterizada pela mídia como tática black-bloc. As pessoas foram transformadas em tática, porque não se tratavam de grupos organizados, porém indivíduos com propósitos semelhantes. 
Seriam apenas praticantes de uma determinada tática, como adeptos de um golpe de artes marciais.
Se começou assim, é apenas história. Agora as pessoas se conheceram nas manifestações e se organizaram em grupos, com lideranças e mecanismos de financiamento.
Deixaram de ser inteiramente clandestinos para serem identificados pela mídia, dentro de grandes contradições.

Os seus participantes são predominantemente de esquerda e se posicionam como anticapitalistas, alinhando-se em grande parte com o PT e o atual Governo Federal. O seu objetivo maior é a mudança do sistema econômico, dominando pelo capitalismo e, dentro dele, pelo  capitalismo financeiro. A tática black-bloc é atacar os mais evidentes símbolos desse capitalismo.

Agiram mais livremente contando com a leniência governamental, e o apoio da sociedade contra a truculência da Polícia Militar. Mais do que isso: faz parte da tal tática blackbloc provocar as forças policiais para que essas revidem com a sua usual incompetência e com isso engrossar as suas fileiras. Trabalham para estimular o espírito de luta, que existe nos jovens. Associando à insatisfação com "tudo o que está ai", reúnem os adeptos da "tática do black-bloc". 

Dois movimentos recentes mostram as contradições e o tratamentos diferenciados.

O MST, um dos movimentos sociais mais organizados e apoiados pelo PT aderiu à tática do black-bloc e entrou em confronto com a Policia Militar Distrital que é governado pelo PT, reivindicando maior atenção do Governo Federal à reforma agrária, mas especificamente à ampliação dos assentamentos.

A reação do Governo Federal foi de prontamente aceitar a condição de serem recebido pela Presidente. O Governo petista não adotou a posição usual de não dialogar com vândalos ou de não negociar sob pressão. É incomum que a autoridade máxima se disponha a negociar diretamente com manifestantes. Só quando precisa do apoio deles para a sustentação do poder. 
Os "sem terra" vão continuar sendo "enrolados" mas para efeito da sua massa, conquistaram uma vitória. Os seus líderes sairam fortalecidos para coordenar novas ações.

No Rio de Janeiro os vândalos se uniram e engrossaram os manifestantes que protestavam contra o aumento do valor das passagens do transporte público e reivindicavam a anulação daquele, adotando as tais táticas do black-bloc que acabou resultando numa tragédia anunciada, mas de grande repercussão, porque a vítima foi um integrante da mídia. Dificilmente conseguirão reverter o aumento das passagens, o movimento irá arrefecer e deixará para muitos a amarga sensação de derrota e o ceticismo sobre a compensação da ação: "será que vale a pena ir às ruas?".

Os ativistas são sempre mais radicais e crentes. Acreditam que através da luta conseguirão o seu objetivo, inaceitando a realidade. Nada os convencerá de que perderão as batalhas e estão se preparando para o confronto.

Um grupo selecionou um objetivo que será o seu grande alvo: a Copa do Mundo, transformado num grande evento capitalista. Pretendem tumultuar evitando a ocorrência da Copa no Brasil: "não vai ter Copa".

O Brasil seria o país do futebol. Mas para esses jovens, "o futebol seria o ópio do povo". Esse mote "ópio do povo" já foi usado muitas vezes ao longo da história da humanidade, algumas vezes com sucesso. Os ditadores sempre usaram o "pão e circo" para desviar a atenção do povo às suas mazelas.

O futebol está realmente na "alma do brasileiro" e controlar uma bola é um elemento cultural forte, alcançando todas as camadas sociais. E torcer por um time é, igualmente, um elemento cultural que atinge pobres e ricos. 

É um elemento cultural amplo no Brasil, mas tem características globais. Em todo o mundo se joga o futebol ou pelo menos o controle de uma bola.

A FIFA, percebendo esse fenômeno mundial, transformou a Copa do Mundo no maior evento midiático mundial, buscando o patrocínio das grandes marcas do capitalismo mundial. Patrocinar um evento mundial, cobrado como tal, só interessa às grandes marcas mundiais que querem estar presente em todo o mundo. Não é por outro motivo que Coca-Cola, McDonald, Visa e outros grandes símbolos do capitalismo mundial são os principais patrocinadores da FIFA e da Copa do Mundo.

Isso não traz só benefícios. Tem os seus ônus, que a FIFA, tão radical como os adeptos do black-blocs o são. Ela não quer reconhecer que se tornou o maior simbolo do domínio capitalista, junto ao povo. E como tal se tornou o principal alvo dos radicais que contestam o capitalismo. 

Os governos, mesmo quando de esquerda, acabam se compondo com o capitalismo. Alguns vão além: desenvolvem o capitalismo de Estado, como está fazendo, com imenso sucesso, a China.

O Governo Brasileiro é de esquerda, mas ele que, através do Presidente Lula, se comprometeu a realizar a Copa no Brasil, o que já havia sido refutado pela ditadura militar. 

Enlevado pela percepção de que o povo brasileiro é "louco por futebol" aceitou todas as exigências da FIFA e agora está "em palpos de aranha". 

Tem a obrigação de realizar a Copa, com a melhor das organizações, mas tem a oposição radical daqueles que seriam uma das suas grandes bases de apoio popular: os jovens esquerdistas. 

Eles são contra a Copa, porque essa é percebida como o grande símbolo da hegemonia capitalista, usando o futebol para desviar a atenção para os problemas maiores da sociedade brasileira.

Os jovens também aceitam a Copa. Mas não em detrimento da educação e da saúde. Acreditam que combatendo a Copa irão conseguir maior atenção para a educação e para a saúde. Segundo o "padrão FIFA".

A esquerda concorda, mas não quer a contestação com violência. Os balckblocs acreditam piamente que sem luta, sem violência nada conseguirão. Irão às ruas.

Dilma já viveu esse quadro e conhece bem. Sabe que nada irá demovê-los. 

Com as estratégias anunciadas deixam de ser adversários para se tornarem inimigos. Para evitá-los será necessário aniquilá-los. Como?

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