segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A credibilidade de Venina

Venina Velosa da Fonseca não é uma reles empregada da Petrobrás (o que não existe, pois nenhum funcionário concursado da Petrobras pode ser considerado reles) mas uma ex-gerente executiva, o topo da carreira  gerencial, fora os Diretores Estatutários, que podem não ser de carreira.
Chegou ao cargo de gerente executiva da Area de Abastecimento Corporativo, juntamente com Paulo Roberto Costa, em 2005, ainda no primeiro mandato de Lula.
Segundo ela mesma conta, na entrevista dada ao Fantástico, a sua primeira missão foi preparar a área de Abastecimento para disputar o Plano Nacional de Qualidade, láurea conquistada em 2007.

Nesse ínterim, Paulo Roberto Costa começou a montagem do "esquemão" nas obras da Refinaria Abreu e Lima (designada internamente pela Petrobras como RENEST - Refinaria do Nordeste), mediante contratos superfaturados com os associados do "clube", adotando procedimentos não conformes às regras, como o encaminhamento de contratação sem o projeto executivo completo.
As contratações precisavam ser aprovadas pela Diretoria Executiva e depois concretizadas pela Diretoria de Engenharia e Serviço, comandada por Renato Duque, tendo Pedro Barusco como o gerente executivo da área.
À Venina cabia preparar os processos, eventualmente negociar os termos dos serviços e dos contratos e encaminhá-los ao Diretor que os levava à Diretoria Executiva e depois de aprovado os encaminhava e acompanhava o andamento na Diretoria de Serviços. Ela participou ativamente, como atribuição funcional, de todo o processo de contratação das obras e fornecimentos da RENEST. 
Percebeu valores excessivos, teria mostrado ao seu diretor que deve ter lhe mandado "seguir em frente", porque esta era a condição para implantar a Refinaria, segundo diretrizes do Governo. Angustiada e com dilema pessoal entre o dever de lealdade ao seu Diretor, com o qual fez toda uma carreira na Petrobras e amizade pessoal e familiar e os indícios de irregularidades, aletrou-o, assim como outros diretores, principalmente a sua então amiga Maria das Graças Foster, outra gerente mulher de alto nível. Como já escrevemos aqui faziam parte do "Clube das Luluzinhas".
Por atribuição funcional participou dos processos, mas não do esquema como os outros, dois dos quais confessos. 
Não aguentando a situação, levou ao seu Diretor a intenção de denunciar, uma vez que os alertas não haviam sido suficientes, quando então ocorreu a dita reação do Diretor de que "ela estava querendo derrubar todo mundo", que estava "querendo pular fora do barco" e outras manifestações que resultaram na retirada dela do cargo e um primeiro exílio dourado a Cingapura, para fazer um curso. Concluido este e retornando ao Brasil foi colocada na "geladeira" até que surgiu a oportunidade de um novo exílio, como Presidente da subsidiária da Petrobras em Cingapura. Supostamente uma promoção, mas era para ter o cargo e não trabalhar. Para não interferir em nada. Mas continuou incomodando com os seus e-mails.

Até que deflagrada a Operação Lava-Jato a delação premiada de Paulo Roberto e os problemas com os auditores externos, a Petrobras nomeou uma comissão interna para verificar os contratos da RENEST,  com foco no quarteto e, principalmente, na incômoda ex-gerente, a única deles ainda no quadro ativo da Petrobras. E dentro das centenas de processos referentes à RENEST encontraram um caso especifico, pelo fato de uma proposta comercial estar destinada formalmente a ela. Segundo a Comissão ela teria desconsiderado um desconto oferecido pela proponente, imputando-lhe um poder pessoal que não teria isoladamente. 

Mas foi o suficiente para a Direção da Petrobras, afastá-la do cargo honorário do outro lado do mundo, rebaixá-la, com redução salarial e instaurar processo para sua demissão por justa causa. 


Diante dessas acusações ela, para se defender, trouxe a público parte da documentação, com os alertas para demonstrar que, apesar da sua participação funcional, não fez parte do "esquemão", que se contrapôs a esse o que levou ao seu rompimento com o antigo chefe, esse sim envolvido, ao seu afastamento, exílio e sucessivas tentativas de desqualificação.

A esta altura a principal é que ela não fez as denúncias oportunamente, só o fazendo quando foi acusada. O que teria feito como retaliação. Não é retaliação. É auto-defesa quando a situação se torna insustentável. Ela não denunciou antes na vã esperança de preservar a sua querida empresa, a quem dedicou toda uma vida. 

Os que vivem ou conhecem o meio empresarial bem sabem da angústia e indecisão de denunciar o seu chefe com o qual tem uma relação de lealdade e companheirismo de muitos e muitos anos. E a repercussão na imagem da empresa.

Ela está se defendendo e merece todo o apoio. O que ela não pode é se calar. Ou o pior: "ser calada".

domingo, 28 de dezembro de 2014

O processo de geração de renda

O processo de geração de renda, que no conjunto é refletida no PIB é simples, mas complicado pelos economistas.
A renda é uma representação monetária que surge com as relações de troca. Ou seja, a renda surge quando alguém está disposto a pagar algo a outro, com moeda, pelo bem que esse vende ou o serviço que presta. 
O conceito básico é o do valor adicionado que tem origem no acréscimo que o homem obtém pelo seu trabalho sobre um bem natural: ele colhe e seleciona (nem sempre nessa ordem) uma fruta natural, leva a uma feira e obtém uma renda pela venda a um terceiro. Esse por sua vez tem um produto natural sobre o qual acrescentou o seu trabalho. Embora aparentemente seja uma relação de trocas de bens, na realidade é uma relação de trocas de trabalho. O valor adicionado é sempre do trabalho: presente ou acumulado em equipamentos. 
Esse valor adicionado original é multiplicado por novas relações de trocas de trabalho.
O mundo se desenvolveu, inicialmente, pela comercialização de produtos naturais. Uma segundo ciclo foi o de transformação desses produtos naturais, a chamada era industrial.
O novo ciclo reduz a participação dos bens, sejam naturais como transformados, dando maior predominância ao trabalho.
Um exemplo simples é o de serviços de cuidados pessoais, como o de cabeleireiras e manicures. A sua renda é quase que totalmente do seu trabalho, com um pequeno custo de materiais e ferramentas. Quando gastam a sua renda com uma cuidadora dos seus filhos, multiplicam a renda. 

Dessa forma, na economia moderna, promover o crescimento do PIB está mais em incentivar o aumento das relações de trabalho do que da produção industrial.

Isso pode explicar porque a ìndia cresce mais de 5% e o Brasil patina já a dois semestres sem aumento do PIB.

O principal erro da política econômica brasileira seria insistir numa indústria pouco competitiva, e descuidar do setor terciário, hoje o principal motor da economia e dos empregos.

Se o diagnóstico estiver correto, o foco do país terá que ser a promoção das relações de trocas entre o trabalho, vinculado ou não aos bens, para gerar o crescimento global do PIB. 

Tentaremos tratar disso nos próximos artigos.




sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Dilma "tancredou"

O  eleito não foi o neto de Tancredo Neves, mas a eleita segue o receituário do velho político. Obrigada a promover o loteamento político, para assegurar a governabilidade, coloca indicados pelos partidos em Ministérios, mas com poucos poderes. 

Como fazer isso sem ser explícita? Segundo o modelo atribuído a Tancredo Neves: coloque o indicado no lugar errado ou trocado.

O modelo centralizado de gestão pública requer o Presidente forte e o Ministério fraco. O Ministério fraco é promovido pela escalação de bons jogadores na posição errada. 

Com perdão dos demais torcedores, o São Paulo FC tem um bom elenco de jogadores. Mas o técnico pode escalar o Ganso no gol, Rogério Ceni no meio ou Luis Fabiano na zaga. Este vai fazer bons gols de cabeça (contra). 

A designação de Aldo Rebelo para Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, bem retrata esse modelo. Ele vai levar muito tempo, mais de um ano para conseguir entender o que o Ministério faz e no que ele pode interferir ou mudar. 

Durante esse primeiro ano ele vai ter que assinar o que os assessores levarem para ele, aceitando as suas explicações. 

As verbas diretas do seu Ministério serão drasticamente cortadas pela tesoura do Ministro da Fazenda e do Planejamento e ele terá que passar o primeiro ano todo, tendo recuperar algumas verbas para poder fazer alguma coisa. Conseguirá, depois de muito esforço e desgaste alguma coisinha. Ele terá sempre a alternativa de pegar o seu chapeu vermelho de saci pererê e ir embora. Mas ai corre o risco de deixar o partido sem representação do Excutivo. Acaba ficando, aguentando todas as humilhações. 

Os cientistas reclamam. Sentem-se desprestigiados, como se sentiram com a designação de Aluisio Mercadante. Mas ai ele foi substituido por um cientista. Como é mesmo o nome dele? O que mudou? Nada ou foi para pior, já que o novo Ministro não teve acesso nem à Presidente, nem ao Ministro da Fazenda. Só nas reuniões gerais do Ministério.

E a ciência e tecnologia no Brasil? Pouco evoluiu ou regrediu? E a inovação? Esse pode até ter melhorado, porque o setor privado inovou. O setor público quer se apropriar da inovação, mas por mero desejo: a inovação só ocorre quando incorporado ao processo produtivo. E não depende do Governo.

Dilma em muitas áreas, sendo essa uma delas, promover a efetiva redução da participação e interferência do Estado. Mas da fora mais tortuosa e cara. Pela premeditada incompetência, ineficiência e, principalmente, inefetividade da ação estatal.

Os discursos serão brilhantes, os resultados efetivos pífios.


O Ministério fraco é uma condição essencial para um "enxugamento" drástico, mantendo as pequenas verbas de Gabinete, mas cortando as demais verbas. O Ministro terá verbas, o Ministério não. E com isso o Ministro da Fazenda, um  dos poucos fortes poderá cumprir a sua missão.

Além da Fazenda a Presidente irá assumir pessoalmente alguns Ministérios, seja em parceria com o Ministro, assim como subordinando o Ministro. Os indícios são de que ela fara isso na Agricultura, para manter o agronegócio como a principal base de sustentação da economia brasileira, e continuará sendo a Ministra de Minas e Energia, com Eduardo Braga como anteparo para explicar, de forma esdruxula todos os apagões, apaguinhos e outros problemas. 

O principal papel dos Ministros será, sempre de explicar de forma incompreensível, o que deu errado. O que dá certo não precisa de explicação. Quem cuida disso é a Presidente e João Santana.

Perguntar se vai dar certo ou errado, depende em que dimensão? Na dimensão da redução das despesas pública, a probabilidade de dar certo é muito grande. Não daria com um Ministério forte. O único que tem que ser forte é o da Fazenda, coadjuvado pelo Planejamento.

Em termos de governabilidade, provavelmente sim, embora a Presidenta não tenha a competência política de contornar os embates com os aliados, que irão reclamar das restrições de poder. Vão reclamar, mas não vão "largar o osso".

Do ponto de vista da macroeconomia, a resultado deverá ser positivo. Com o controle das contas públicas, o setor privado terá mais confiança para produzir e investir.

Nas questões setoriais será um desastre. Alguns com grande importância relativa, outros sem maior importância. Vai depender das intenções do  Ministro. Se ele quiser atuar, pode se dar mal. Se deixar como está, aceitando as reduções de verba, não causará problemas.

O Ministério é "tancredista", mas a Presidente continua sendo Dilma Rousseff, também mineira, mas não da mesma escola política das "velhas raposas".

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Boba, porém honesta

Maria das Graças Foster se faz de boba, ou mesmo de idiota, para explicar porque não tomou nenhuma providência em relação aos "recados" de Venina Fonseca. Ela efetivamente, não usou o termo corrupção. Nem caberia, porque não tinha provas. Mas percebia "coisas estranhas" e pediu, primeiramente à sua colega apoio e depois sua chefe mor para apurar. Ela fez "ouvidos moucos" porque não ouviu ou leu expressamente as palavras chave: cartel e corrupção. Diz que não entendeu os recados. Venina não fez denúncias, fez alertas: "para bom entendedor, meia palavra basta".


Venina escreveu e provavelmente disse os alertas de forma cifrada, mas que seriam entendidas por Graça. Mas essa preferiu se fazer de desentendida.  E permitiu e está permitindo que a Petrobras continue sossobrando, com perdas sucessivas de valor.  

Para se defender está usando todo a poderosa máquina da Petrobras para tentar desqualificar a ex-gerente. Traz a tona supostos deslizes que essa teria praticado no exercício do seu cargo, como a contratação da empresa de consultoria de propriedade de quem viria a ser o seu marido e agora ex-marido. Ela não desmente, nem esconde. E diz que ao casar descontinuou os serviços contratados. Não sem antes ter conseguido, com o auxílio dele, coordenar a conquista do Prêmio Nacional de Qualidade pela Petrobras.
Numa empresa estatal como a Petrobras, ninguém tem o poder de contratar sozinho. Ainda que com dispensa de licitação, há toda uma burocracia e pessoas envolvidas. Não se contrata nenhuma empresa sem que esteja cadastrada, com centenas de rigorosas exigências.
E pelos valores informados, o contrato deve ter sido firmado por outra área. Não deixa de ser um problema, mas que não a desqualifica, como informante e tampouco justifica o seu afastamento dos cargos e até demissão. 

Ela, provavelmente não é uma santa, tampouco uma pecadora convertida, como os seus detratores querem. É uma profissional com carreira ascendente dentro da Petrobras, "jogando o jogo". Mas quando esse jogo virou "sujo" ela se recusou a participar: "simples assim". 
E fez mais, passou a alertar. Só recentemente, com a mudança do clima e das poderosas máquina sobre ela, passou a denunciar. 

A história de Cingapura também está mal contada. Mas tudo o que ela escreveu e vem dizendo não pode ser desconsiderada por supostos deslizes funcionais. 

Graça por desencargo de consciência, já colocou o cargo à disposição da Presidente da República, mas esta não aceitou. E demostrou, mais uma vez, que não tem o preparo gerencial que o seu líder sempre apregoou.


Um bom gerente, pode ser apenas um bom chefe, não precisando ser um bom líder, como se exige hoje nas grandes empresas. Um bom chefe precisa tomar decisões rápidas e objetivas. Não pode ficar dizendo que não vai deixar pedra sobre pedra e não retira nem a primeira dessas. 

Em segundo lugar comete um dos pecados capitais da gerência: misturar as afeições pessoais com as atribuições profissionais. 

Ela não tem que manter Graças Foster na Presidência da Petrobras, para demonstrar confiança nela e dar-lhe  um atestado de honestidade. Graça não pode ficar porque já não tem mais autoridade e sem comando a Petrobras afundará cada vez mais.

Dilma não precisa demitir Graça. Ela já pediu exoneração. 

Nestas horas de crise, a hesitação é o pior dos caminhos. 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Antecipando, ainda que apenas um dia

Este blog cumpriu mais uma vez os seus lemas "ver o que não foi mostrado, ler o que não foi escrito, ouvir o que não foi dito", sem qualquer informação privilegiada. Apenas com base na lógica dos fatos. Antecipando ao que seria revelado a público.

A fantástica entrevista de Venina Velosa da Fonseca ontem à TV Globo confirma o "clube da Luluzinha" entre as gerentes da Petrobras e o seu cisma. 

Maria das Graças Foster fez uma bela carreira e construiu um nome respeitável que já está inteiramente sujo. Ela ainda tem uma derradeira oportunidade para limpá-la e passar para a história como a recuperadora da ética dentro da Petrobras e não como a Presidente da mais e maior empresa corrupta do mundo. 

Dilma reiterou na sua diplomação de que combate à corrupção e propôs um pacto da sociedade contra a corrupção. Ela, para ter o mínimo (só um minimíssimo) de coerência deve proteger os denunciantes de "mal feitos". Não interessa o seu passado, se limpo ou se são delações premiadas.

A corrupção só será vencida se os assediados recusarem as manobras, os esquemas. Mas não basta. Precisam denunciar. Isto requer muita coragem. Pois o risco é a sua vida que se torna um inferno. E até de morte.

A primeira regra do pacto deverá ser a investigação das denúncias e a proteção do denunciante. O que inviabiliza o pacto é tentar descredenciar o denunciante, denegrindo-o.

Essa está sendo a resposta da Petrobras. 

Dilma precisa chamar a sua amiga Graça e convidá-la para aderir ao pacto que propôs. 


domingo, 21 de dezembro de 2014

Mobilidade humana

A movimentação da pessoa é um dos principais elementos da sua qualidade de vida na cidade. A sociedade urbana deveria se organizar para propiciar a cada um dos seus membros a melhor condição de movimentação.  
Não é o que acontece na realidade, por conta das opções pessoais, que no conjunto geram os congestionamentos de veículos particulares nas vias públicas, a lotação ou superlotação dos veículos dos transportes coletivos e uma restrição generalizada à velocidade de circulação.

A mobilidade humana, diferentemente da mobilidade urbana, transfere o foco da visão às opções humanas, as decisões tomadas pelas pessoas e não sobre os meios de transporte. Embora ambas as visões busquem perceber, entender e propor soluções para melhorar a mobilidade urbana. As propostas dessa priorizam os investimentos e ações para a expansão e melhoria dos meios de transporte coletivo, dentro da suposição de que com a expansão da oferta e melhoria da qualidade as pessoas se transfeririam do automóvel para o metrô, ferrovia metroviária ou para o ônibus.

São suposições mais baseadas em desejos do que pela percepção mais profunda sobre o que leva as pessoas às opções que impactam a mobilidade urbana. São sonhos, utopias que se afastam da realidade, persistindo como objetos nunca alcançáveis. A nova fantasia é a ciclovia. Necessária, mas de efeitos marginais, a maioria negativos, em relação à mobilidade urbana.

O foco sobre essas opções humanas, o que corresponde aos comportamentos das pessoas mostra que elas se deslocam (ou se movimentam) para realizarem uma atividade urbana em local diferente de onde se encontram. O maior volume desses deslocamentos é entre a residência (ou moradia) ao local de trabalho. Em segundo lugar as viagens com destino ao local de educação. 

O foco nas opções das pessoas mostra, em primeiro lugar, que essas só raramente são unimodais, prevalecendo a multimodalidade. Mesmo quando elas utilizam o automóvel tem que se deslocar a pé até o local onde está o veículo e, no destino, também a pé, entre o local de estacionamento do veículo até o seu destino final, seja um escritório, uma escola, uma loja, uma fábrica, ou qualquer outro estabelecimento.

Cada vez mais, o deslocamento final é feito por um meio (ou modal, como gostam os transporteiros) não considerado ainda como tal, mas que tende a ser o principal modo do transporte coletivo, no futuro: o elevador.


O único caso de unimodalidade de deslocamento é a pé entre a origem e o destino. Essa condição decorre da proximidade entre os locais de origem e o destino. 

Anteriormente um grande volume de deslocamentos a pé, decorria de restrições financeiras, principalmente em decorrência da necessidade de utilização de diversos meios de transporte coletivo. A criação do bilhete único e outras modalidades de integração tarifária, hoje adotada pela maior parte das grandes cidades, essa restrição foi superada, sem um efeito significativo sobre os congestionamentos. O impacto maior foi de ordem econômica para as operadoras de serviços de transporte coletivo e no aumento de lotação dos veículos. O que é percebido como piora de qualidade pelas pessoas, sejam usuárias ou não. Deslocar-se a pé, no imaginário popular, está associada à pobreza: um grave preconceito.

Na perspectiva da mobilidade humana, a principal, a maior das prioridades não é o transporte coletivo, mas o deslocamento a pé.


sábado, 20 de dezembro de 2014

Cisma no clube da luluzinha

Em todas as grandes (e mesmo médias) empresas dominadas pelos executivos homens, as mulheres que alcançam os postos gerenciais tendem a se relacionar entre si, formar grupos entre elas seja para trocar conversas sobre as famílias, como sobre os demais gerentes e sobre o que ocorre ou acham que ocorre na empresa. Formam uma espécie de clube da luluzinha, em contraposição aos diversos clubes dos bolinhas, que se formam em muito maior número. 

Dentro da Petrobras, uma grande empresa com as características acima citadas, com o corpo gerencial e diretivo com predominância de homens, é natural que as poucas gerentes mulheres formassem o "clube da luluzinha". Duas se destacaram e subiram aos altos postos gerenciais: Maria das Graças Foster e Venina Velosa da Fonseca. Esta última preocupada com o rumos de operações "heterodoxas" buscou apoio na colega, contando-lhe das suas preocupações e suspeitas. Ela era a confidente a quem tratou das questões de forma cifradas. Colocou questões que não eram claras para os demais, mas bem entendíveis entre elas.

Venina, petroleira de carreira, subiu dentro da empresa na turma de Paulo Roberto Costa. Era pessoa de confiança do competente,  ousado e ambicioso executivo que se relacionou com a área política para a sua ascensão dentro da empresa, até chegar à diretoria. Venina, conforme diz em seus e-mails vazados, dizia dever muito o desenvolvimento da sua carreira a Paulo Roberto e não queria prejudicá-lo: por gratidão. Pela proximidade participou de muitas operações, agora colocadas sob suspeita externamente. Ela, ao perceber indícios de destino das verbas superfaturadas não quis prosseguir. 
Tentou dividir as suas angústias pessoais com a sua colega Graça, mas essa refutou por ter escolhido seguir na sua carreira, apesar do mar de lama que estava se formando. Foi bem sucedida, aceitando não se envolver, mas não contestar o jogo que estava sendo jogado. 
Enturmou-se em outro clube da luluzinha, com a sua amiga Dilma. 
Venina, ao contrário "pulou para fora do barco", foi exilada e perseguida. Mas não sem documentar o que via ou percebia. Em alguns casos até participava, dentro das suas atribuições profissionais. Não aceitou se beneficiar pessoalmente. 

Com a retaliação da diretoria atual da empresa, liderada pela sua ex-amiga Graça, para se defender resolveu "botar a boca no trombone". Para desgraça daquela: tinha conhecimento de tudo. 

Ambas fizeram o que fizeram acreditando que estavam fazendo o melhor para a sua querida Petrobras. Mas uma delas estava errada. E ambas vão afundar com o imenso navio que quiseram defender.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Faz sentido o terceiro turno?

Dilma foi diplomada ontem como a Presidente da República para o período de 2015-2018. Foi o penúltimo ano de validação das eleições de outubro de 2014, realizada em dois turnos. 
O PSDB, liderando a oposição quer invalidar a eleição de Dilma, por diversas e pequenas irregularidades que pouco prosperarão. A situação, com o controle não só do Executivo, mas também com forte influência sobre o Judiciário defende-se acusando a oposição de pretender um terceiro turno. 
A oposição bem sabe que suas investidas no sentido de anular a eleição de Dilma, pouco prosperarão, mas desenvolve uma oposição do "tipo petista" de fustigar sempre e não deixar a situação tranquila. O terceiro turno não tem sentido prático, mas partidário. É matéria que está e estará sempre na mídia política e atende a uma minoria partidária, ainda inconformada com a derrota do seu candidato.

A oposição pretende manter a presidente eleita acuada: na defensiva. Aquela perdeu uma grande bandeira que foi tomada pela eleita. Assumiu a política econômica que seria da oposição e a deixou sem argumentos para combatê-la. Terá que esperar alguns meses para começar a dizer que fez as escolhas certas, mas executou-as de forma errada. E para salvaguardar os técnicos dirá que a culpa é da interferência indevida da Presidenta. 

A estratégia é de mantê-la sob pressão, até que uma bomba de efeito maior, dê margem ao seu impedimento.

Do lado da oposição a expectativa dessa bomba é que ela venha de fora. Internamente todas as bombas serão desarmadas preventivamente. Ou se explodirem serão com baixo efeito.

A bomba externa em preparação é um processo dos organismos norte-americanos de controle do mercado acionário e das empresas que operam nos Estados Unidos (ainda que estrangeiras) contra a gestão de empresas que causam prejuizos à economia norte-americana ou a acionistas norte-americanos em particular.

A Petrobrás e seus dirigentes serão investigados por gestão temerária ou omissa em dois casos: a compra da Refinaria de Pasadena e os superfaturamentos de obras  para gerar recursos para as propinas.

Tanto no primeiro, como no segundo caso, a apuração é se os valores incorporados aos ativos da Cia representam o seu valor efetivo, ou se estão inflados, como as verbas das propinas? Esse é o principal nó que impede a Price, como auditora da Petrobrás, dar o seu parecer. Ela quer que a gestão atual da empresa apure os valores reais e defina o que vai fazer com a diferença.

Dependendo dos resultados, aqueles organismos (SEC e Secretaria da Justiça) norte-americanos poderão impor sanções aos dirigentes, segundo a legislação norte-americana, com pesadas multas e até a possibilidade de prisão, caso esses dirigentes pisem em solo norte-americanos.

Dentro desse processo uma das dirigentes alcançadas será a Presidente do Conselho de Administração da Petrobras que dirigiu a sessão que aprovou a compra superfaturada da refinaria de Pasadena: já comprovada pelas órgãos de controle brasileiros.

A penalidade que vier a ser aplicada, poderá não ter grandes efeitos práticos, do ponto de vista monetário. Mas terá grande efeito político.

Por outro lado a situação deve estar procurando ansiosamente, um restabelecimento diplomático ou similar para tirar o terceiro turno do foco.

Essa tem sido a saida de governantes norte-americanos em crise. Nixon, acuado  inventou um torneio de ping-pong com os chineses para iniciar um processo de abertura que ocorreu na sequência. Agora Obama, também acuado, reatou as relações diplomáticas com Cuba, com grande impacto. O debate e embate entre os favoráveis e os desfavoráveis fazem os norteamericanos esquecerem de outros problemas.

O que Dilma, Lula e João Santana tem a oferecer? 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Equívocos e incompetência

O derretimento do valor da Petrobras, no momento atual, decorre, acima de tudo, da incompetência gestional da Presidenta, por não tomar as decisões necessárias ou tomar as decisões equivocadas.

A partir do início deste malfadado ano de 2014, começaram a ser revelados erros  ocorridos na gestão da Petrobras e malfeitos dentro dela, conduzidos pela alta direção.

No primeiro caso, emergiu a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, com a decisão homologada pelo Conselho de Administração, então presidida por Dilma Rousseff. Ela se defendeu alegando que havia sido levada a uma decisão equivocada, por conta de informações incompletas e falhas por parte dos diretores. Inacreditável, para uma dirigente centralizadora e meticulosa, que passa madrugadas lendo documentos oficiais: "explica, mas não justifica". Incompetência gerencial, encoberta com a alegação de que as críticas tinham cunho político.

Nesse caso, emergiu a suposição de um mau negócio, e perdas para a empresa. Houve a desconfiança de "mal feito", mas não havia provas de qualquer desvio de recursos. E não se aprofundou nessa questão. 

Já, no segundo caso, a partir de suspeitas de lavagem de dinheiro puxou-se um fio que envolveu antigos dirigentes, empreiteiras e fornecedores. Os envolvidos já não estavam mais na empresa, não sendo, pois caso de demissão. A não ser no caso da SBM.

O que caberia à nova direção, que substituiu a anterior, comprometida com os mal-feitos, fazer? Cortar, interromper o processo. Rever os contratos. E apurar os prejuizos.

Aparentemente apenas interrompeu o processo nas novas contratações. Porém os contratos anteriores permaneceram intactos, com os valores superfaturados, com os contratado recebendo os valores, sem as mesmas obrigações de recolhimento das propinas. Não precisaram mais pagar, para poder receber. Tiveram ainda que manter compromissos com os antigos diretores e com os operadores, porém sem as ameaças e retaliações que aqueles praticavam. 

Sem a revisão dos contratos a Petrobras não tem como apurar os sobrepreços. Basear-se em parâmetros é sempre discutível. Mas reduzidos os preços, pode-se imputar aos dirigentes que firmaram os contratos a responsabilidade sobre a parte já paga como valores maiores. Do ponto de vista do balanço, corrigir os valores dos investimentos, para efeito de incorporação nos ativos fixos e separar uma provisão de ressarcimento.

É isso que, supostamente, exige a auditora para firmar o seu relatório sobre as contas da empresa.

Não fazendo isso, atrasa a publicação do balanço oficial e compromete a imagem da companhia.

A direção atual da Petrobras pode não estar envolvida com os malfeitos, porém a sua atuação, no sentido de preservar a empresa, teve efeitos contrários.

A presidente, juntamente com a sua diretoria quer sair logo, para que uma nova direção faça o que ela não quis fazer: para atender à Presidenta da República, então em campanha eleitoral e depois de vencida a eleição, por tibieza.

Graciosa já pediu para sair. Mas como soldado fiel mantém no posto até que chegue o substituto. Transferiu o problema para a sua amiga Presidenta.



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Extirpar um câncer

Quando se constata um tumor maligno em alguma parte do corpo de uma pessoa saudável, em plena atividade, pessoal e econômica, como um bem sucedido empresário ou profissional liberal  e com grandes perspectivas presentes e futuras isso é um grande baque.

O médico solicita uma série de exames de laboratório e de imagens, e anuncia a necessidade de uma cirurgia e uma inatividade durante algum tempo. O que significa, ademais, uma grande perda econômica. Não só pelos gastos adicionais, ainda que parte coberta por um plano de saúde, como pela perda de receita. É um caso típico de lucro cessante e o paciente pode sobrevir, mas corre o risco de sofrer um colapso econômico e financeiro: sobrevive, mas pobre.

A reação inicial do paciente, após o susto, é buscar segunda, terceira e sucessivas opiniões para tentar uma saída menos invasiva, com tratamento medicamentosa ou alternativa, sem ter que interromper as suas atividades pessoais e, principalmente, econômicas. Fica extremamente preocupado com a perspectiva das perdas econômicas, dissipando todos os ganhos acumulados ao longo de uma produtiva e exaustiva vida.

Com a cirurgia, a perspectiva que lhe é oferecida é uma eliminação do tumor e um tratamento subsequente por quimio e radioterapia. Mas há sempre o risco de que alguma parte tenha remanescida e possa ocorrer uma recidiva. Uma alternativa radical é uma intervenção mais ampla, com a retirada de órgãos ou partes em que poderia vir a atacar a doença.

Situação a essa está ocorrendo com a Petrobrás, onde se descobriu um cancro, cuja extirpação poderá ter graves problemas para o paciente e para o Brasil, como um todo.

Muitas atividades serão suspensas. O impacto principal será sobre os empreendimentos da Petrobras que terão atrasos generalizados, afetando a perspectiva de revitalização da economia brasileira em 2016. Há, no entanto, um lado positivo desse atraso: o dolar deverá continuar mais alto, favorecendo a exportação de produtos brasileiros, sustentando a precária atividade industrial no Brasil.

A Petrobras se tornou, ao longo de 60 anos a maior empresa brasileira, colocando-se entre as mais valiosas do mundo, o símbolo do desenvolvimento e sucesso brasileiro e o principal elemento do orgulho e da auto-estima do brasileiro. Tornou-se, sem dúvida, o grande patrimônio brasileiro, controlado pelo Estado Brasileiro, dirigido por brasileiros.










terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A modernidade para as classes baixas

Um dos preconceitos mais arraigados pelo segmento de maior renda, contra o outro - o de menor renda - é que esse é atrasado, educacionalmente ignorante, e mantém o atraso. Enquanto os mais ricos comandam o processo de modernização e de inovação. Ainda que seja a condição básica da sua autossustentação.

Há no entanto, algumas mudanças significativas nesse modelo, dos quais a motocicleta e o telefone celular são dois grande símbolos.

Na maioria das pequenas cidades do interior do Brasil, que funcionam como o polo urbano de atividades rurais, o principal meio de locomoção era o animal, seja o cavalo - para os de melhor renda - ou o burro (jegue), puxando as carroças ou, em alguns casos, como montaria.

O transporte coletivo ainda são onibus velhos, desativados dos grandes centros, ou a jardineiras, adaptada sobre o chassis de automóveis. Mas o transporte na boleia do caminhão é ainda frequente, principalmente para levar os trabalhadores aos locais de trabalho em colheitas ou outras atividades.

A modernidade chegou na forma da motocicleta, transformada em meio de locomoção pessoal e uso profissional.

Em muitas cidades a motocicleta tomou o lugar do jegue. Esses foram aposentados. 

O fato mais relevante é que o beneficiário do bolsa-família mantém o benefício, mas vai trabalhar numa atividade informal. Soma as rendas, prestando serviços aos demais beneficiários dos programas sociais. Ou seja, há pessoas que ganham duplamente com o bolsa-família: uma diretamente recendo o benefício e outra indiretamente apropriando-se dos gastos dos demais beneficiários.

Desconsiderando o elemento ético ou de eventual ilegalidade, o fato é que os mecanismos da economia de mercado, levaram a um processo de crescimento autossustentado desses microcosmos representados pelas pequenas cidades do interior brasileiro. Não temos a avaliação do impacto desse crescimento no conjunto da economia, porém indica uma alternativa de solução de modelagem estrutural da economia, não desprezível.

A esquerda pode se contentar com essa "concessão" do capitalismo burguês, ou pode reivindicar ou lutar pela sua consolidação e melhoria.

Um segundo marco da modernidade seria o telefone celular. Todos querem ter um telefone celular que funcione. 

A telefonia celular pode ser tomado como o grande símbolo da inovação para todos. O seu desenvolvimento tecnológico envole enormes investimentos e os produtores / investidores precisam de volumes, em escala mundial, para diluir os seus custos. Escala mundial não se refere apenas aos territórios, mas a todas as camadas sociais da humanidade. 

Essa necessidade de escala fez com que as produtoras buscassem também as classes mais pobres, levando a elas a modernidade. Os mais pobres tem o mesmo acesso que os mais ricos aos serviços básicos. O aparelho pode conter elementos e recursos adicionais, mas o básico é assegurado a todos: o pobre também se modernizou.

Qual seria a pauta de reivindicações dessas comunidades?

Há sempre duas visões dessa pauta: a de baixo para cima, ou seja, das pessoas que vivem na condição de pobreza, excluídas dos benefícios do crescimento econômico do segmento superior e que aspiram melhorar a sua condição de vida. A outra que é dos ideólogos que concebem, nas suas teorias, a condição de vida que aquelas pessoas devem aspirar e reivindicar.

Essas visões nem sempre são coincidentes, seja em relação aos modelos, como aos caminhos.

Os moradores querem melhorar a sua condição de vida, a partir do estágio e do local de onde estão. São basicamente conservadores e esperam que o Estado melhore as condições para poderem produzir, ter uma renda a partir do seu trabalho, permanecendo onde estão. A mudança de local na busca de uma melhor condição de vida, não é a solução preferencial. Acaba sendo uma contingência por falta de opção. 

Não são revolucionários, não querem tirar dos mais ricos para uma melhor distribuição da renda. O propósito de tirar de quem tem é uma atitude marginal, que assume a forma de bandidagem, não sendo generalizada.

Já os ideólogos tendem a ser mais revolucionários e açulam ações de maior contestação. Conseguem uma adesão parcial.

Podemos identificar alguns pontos de uma eventual pauta:


  1. continuidade da distribuição de renda, mediante programas assistenciais, não tuteladas, por parte do Estado;
  2. liberdade na organização e realização das atividades econômicas, reduzindo ou até eliminando as exigências burocráticas, que dão margem à concussão e demais formas de extorsão por parte das autoridades, quadrilhas ou milicias organizadas para tal;
  3. uma atuação mais eficaz do Estado na segurança pública, evitando os crimes pessoais, as disputas por pontos e, principalmente, a ação das organizações de extorsão;
  4. a ampliação e melhoria dos serviços públicos básicos, principalmente a educação, saúde,saneamento e transporte público.
Em relação aos caminhos, a principal diferença está na conquista do poder pelo sistema democrático ou pela força.

A segunda é, atualmente, uma alternativa mais rara. A conquista pelo voto, requer uma adesão majoritária da população para o modelo da economia de mercado popular, em contraposição ao modelo de mercado dos ricos. 

(mais adiante tentaremos, caracterizar melhor e do ponto de vista prático, onde estão as diferenças).

Nas eleições presidenciais de 2014 estão em disputa os dois modelos básicos, prejudicado, no entanto, por uma campanha de baixo nível, focado em acusações pessoais.

O fato real é que o modelo néo-socialista foi apropriado pelo PT, com a adesão do PSB e PC do B e oposição do PPS (ex PCB).

O PT, com os abusos no projeto de poder, pode ter comprometido o projeto néo-socialista, que não será assumido na sua inteireza e grandeza por uma gestão tucana. Os programas sociais serão mantidos, mas como problemas a serem resolvidos e não como solução para a economia como um todo. A economia da pobreza terá que ir à reboque da economia da riqueza.

Como poderá ser organizada a economia da pobreza como solução? 

A ideia inicial é que ela seja baseada na economia informal, livre das amarras burocráticas e da tutela estatal.

Isso significa que o trabalhador não precisa se formalizar, nem como empregado, tampouco como microempreendedor. exercendo as suas atividades mais livremente.

Há duas contestações básicas a esse modelo. A informlidade propiciaria maior facilidade para o trabalho "indecente", seja na forma de trabalho similar à escravidão, trabalho infantil e outras modalidades infames.

A segunda é que o trabalhador não estaria protegido pela previdência social e pela segurança à saúde.



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sem mobilidade urbana

É geral a noção, nas grandes cidades e entre os especialistas e autoridades em transporte público que a solução para a mobilidade urbana é o metrô, ou outros sistemas de transporte coletivo de massa.

A imaginário popular é que só com transporte de massa de qualidade, os motoristas abandonarão o carro, o grande vilão do trânsito, e passarão a usar o transporte coletivo.

Se indagar a qualquer um que esteja preso num congestionamento em São Paulo qual é o motivo de sua situação, ele dirá, sem titubear: tem carro demais e não tem metrô. 

Então se cobra do Governo mais investimentos em metrô, monotrilho, trens metropolitanos e outros sistemas sobre trilhos. Cobra-se do Governo de São Paulo o tão pouco investimento nos últimos anos, que faz com que se tenha apenas  66  km de metrô, não se contando mais 260 km de linhas de trens da CPTM como sistema metroviário, com o fazem outras cidades brasileiras.

Durante o novo mandato do Governador Geraldo Alckmin e, provavelmente, dos seus sucessores, ao longo de muito anos é possível que não se possa fazer mais nenhum investimento adicional em sistema metroviário em São Paulo e no resto do Brasil.

Por uma razão simples: todos os grandes fornecedores de equipamentos e construção estão envolvidos nos esquemas de corrupção, seja no chamado "cartel do metrô" ou no "petrolão".

Seguindo os processos com algum rigor, todos eles serão considerados inidôneos e não poderão mais participar de qualquer licitação pública. Sem fornecedores tecnicamente confiáveis, não há como realizar obras complexas que precisam oferecer total segurança aos usuários. 

O chamado "cartel do metrô" ora investigado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público é internacional, é global. São, na maioria, grandes empresas multinacionais, que dominam a tecnologia e os fornecimentos de carros metroviários, com os devidos equipamentos, assim como todos os equipamentos elétricos e, agora eletrônicos, da superestrutura.

Não é o caso, como na parte da construção civil, dominada pelo cartel das empresas nacionais, trazer as empresas estrangeiras. Essas estão igualmente envolvidas em esquemas de corrupção, onde atuam e não fariam diferente no Brasil.

Todas as grandes mundiais estão dentro do cartel e indiciadas institucionalmente e criminalizadas pela mídia e pela opinião publicada. 

Qualquer nova licitação que venha a ser feita pela Cia do Metrô ou pela CPTM será vista como suspeita, com jornalistas leigos escarafunchando planilhas e levantando o que entendem com indícios de irregularidades. E sempre o encontrarão, porque é comum os erros em planilhas complexas. Haverá sempre um ou outro preço, supostamente superior ao do mercado ou das tabelas oficiais. Por conta de especificidades diferenciadas, verdadeiras ou não. Mas não importa: o jornalista fará escândalo em torno do item. 

E os procuradores do Ministério Público, igualmente leigos ou principiantes os incluirão nas denúncias. Quando o ambiente é de irregularidades generalizadas, tudo é suspeito.

Um cenário, o mais provável, é o do "acordão" ou pacto. Todos concordarão em firmar uma TACão, ou seja, um mega Termo de Ajuste de Conduta, prometendo "não fazer mais".

Cumprirão?

O outro cenário que é os jovens e radicais procuradores e juizes não confiem e não aceitem promover o acordo e levem a continuidade do processo a ferro e fogo. 

Não vão parar o país, mas vão continuar parando as cidades. Em nome, da imprescindível, moralidade.

Mas serão acusados de desmontar um cartel e formar outro, de pior qualidade.

A pergunta é sempre: há alguma alternativa intermediária?


domingo, 14 de dezembro de 2014

Matando a utopia brasileira

Aproximando-me dos oitenta anos ainda estou esperando pelo futuro, desde a infância, que era anunciado para este país. Esperava que esse futuro chegasse, ainda em vida mas era sempre adiado. Acompanhei a construção de algumas utopias e até participei de algumas delas. E vejo agora mais uma esperança afundando. 

Umas das mais importantes foi o movimento "petróleo é nosso", que determinou a criação do monopólio estatal do petróleo e a criação da Petrobras.

As primeiras explorações e produções foram em terra, mas as pesquisas geológicas indicaram que seriam pequenas. Uma primeira decepção. A autossuficiência não seria possível: no continente a Venezuela ficou com tudo. Ou estão debaixo da floresta amazônica. Mas se percebeu que havia petróleo no mar, na plataforma continental. A Petrobras e o Brasil investiram nessa produção, alcançando um auge na maturação dos poços, por volta de 2007. Chegou-se a autossuficiência estatística, mas com perspectiva de insustentabilidade dessa, porque os poços, principalmente na bacia de Campos, começariam a ter declínio de produção. Mais uma frustração.

Foi quando uma nova esperança, inteiramente submersa, aflorou: as imensas reservas de petróleo nas camadas do pré-sal. Algumas não tão profundas, outras de enormes profundidades.

O que era uma excelente perspectiva futura, apesar da dificuldades tecnológicas, foi transformada pelo Governo, de então, numa oportunidade, aparentemente, presente. Os seus resultados futuros foram objeto de partilha antecipada, seja entre os governos, como nos contratos, mudando o regime de exploração. 

Supostamente pelo menor risco, o Governo promoveu mudanças para ampliar a participação da União e da Petrobras na produção. Com as perspectivas favoráveis a estatal conseguiu acessar a enormes volumes de financiamento, endividando-se para ampliar mais rapidamente os investimentos.

Com uma política de conteúdo nacional, garantindo a produção, no Brasil, da maior parte dos fornecimentos, seja em equipamentos, materiais e serviços, gerou e desenvolveu uma imensa cadeia produtiva de fornecedores. Restabeleceu uma forte indústria naval, com a instalação de diversos novos estaleiros, além da recuperação das que estavam desativadas. Desenvolveu uma indústria no Brasil, embora sob controle estrangeiros, de fornecimento de equipamentos e materiais para a exploração, produção, transporte e processamento do petróleo e do gás. A principal expansão ocorreu com as empresas de engenharia, no setor de montagem industrial, aproveitando uma base de construção civil, também ampliada.

As grandes construtoras se tornaram megas, ocupando todo o espaço, não deixando margem para o ingresso das grandes empreiteiras mundiais que dominam o resto do mundo no setor, menos no Brasil. Esse processo acabou também por excluir as empresas nacionais menores.

Com a Operação Lava-Jato emergiu uma imensa realidade, tão encoberta quanto o petróleo das sucessivas camadas de água, rochas e sal. Toda essa estrutura tinha um alto preço: o superfaturamento nas obras e fornecimentos, um propinoduto e usinas de lavagem de dinheiro.

Com essas descobertas, essa imensa estrutura, caríssima, mas de alta competência técnica, vai ser desmontada, destruída.  Uma grande parte, senão o todo, dessa estrutura tecnológica, irá pelo "ralo" juntamente com a prisão dos executivos e penalização das empresas.  Necessária como processo de saneamento, mas com implicações desastrosas. 

Todo o programa de produção de petróleo no Brasil, seja no pré como no pos-sal ficarão comprometidos, nos próximos anos.

A minha esperança era de que depois da crise de ajustamento da economia brasileira, em 2015, já em 2016, mas principalmente em 2017, o Brasil seria "aquele do futuro" com o petróleo garantindo os recursos públicos, com superávit primário, mais que suficiente, divisas para manter as importações e gerando elementos para o controle da inflação. 

Ao tornar a oportunidade do pré-sal no maior esquema de corrupção, nunca antes montado ou visto no país, quiças no mundo, o Governo não só matou a utopia do "petróleo é nosso",  com fará a questão retroceder aos primórdios.

Para poder extrair o petróleo das camadas do pré-sal, destruída a competência nacional da engenharia, o Brasil tem as seguintes alternativas radicais:


  • em relação à produção de petróleo e gás:


  1. privatizar a Petrobras, transferindo o controle para grupos estrangeiros, uma vez que os grupos nacionais, mais interessados, são exatamente os que irão sucumbir ou estarão enfraquecidos, como consequência da Operação Lava-Jato;
  2. manter a Petrobras como estatal, mas enfraquecida e com participações minoritárias nos consórcios  produtores. Será a privatização das concessões.
  • em relação à cadeia de fornecimento:
  1. "apelar" para os fornecedores estrangeiros, reduzindo ou praticamente eliminando as exigências de conteúdo nacional;
  2. desenvolver uma nova cadeia de fornecedores nacionais, em novas bases éticas, o que só terá resultados a médio e longo prazos. 
Não se pode ter a ilusão de que mesmo os fornecedores, não indiciados na operação Lava-Jato, estão fora dos "esquemas". Todos estão, mas alguns terão oportunidade de "mudar de vida", sem ter que revelar o seu "passado sujo".

As empresas estrangeiras estão mais avançadas nessa "mudança de vida" em função do maior tempo de vigência e crescente rigor, das leis anti-corrupção nos seus países de origem. O risco é o mercado brasileiro ser tomado por empresas não sujeitas a tais leis, com o caso dos chineses. 

Haverá a ilusão de uma boa solução, que anos depois serão revelados como inadequadas, como está ocorrendo agora.

Descobrimos, com grande frustração e indignação de que o "petróleo não é nosso". 



Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...