segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O futuro de São Paulo - 1

A cidade de São Paulo é a capital econômica do Brasil. O Estado de São Paulo é o que detém a maior fatia do PIB nacional, mas vem perdendo gradativamente essa participação, dentro de um preocupante quadro de baixo crescimento global da economia brasileira.
São Paulo foi favorecido pelo modelo de crescimento baseado numa industrialização concentrada territorialmente, voltado para o mercado interno, substituindo importações. Atualmente, não tem mais capacidade de sustentar o crescimento global, com profundas mudanças na estrutura e geografia da economia brasileira.
A primeira das grandes mudanças é o deslocamento do principal setor dinâmico da economia da indústria passando do secundário (indústria) para o primário (agronegócio e mineração), todas desenvolvidas predominantemente fora de São Paulo. 
A segunda é a descentralização industrial, com o desenvolvimento de novos polos industriais, sejam dentro do modelo porto-indústria, como Pernambuco e Ceará, como a indústria da cadeia produtiva do petróleo & gás, incluindo a construção naval, predominantemente também fora de São Paulo, com o novo polo do Rio de Janeiro e ainda do Rio Grande do Sul.
Apesar de uma desconcentração interna dentro do Estado, com a implantação de novas unidades no interior, a produção industrial de São Paulo seguirá uma curva descendente de participação no PIB industrial. 
Mais importante que a participação relativa menor é se essa perda decorrerá do maior crescimento dos concorrentes ou de um menor crescimento, ou até um decréscimo de São Paulo.
A produção agrícola do agronegócio ocorre, predominantemente, fora de São Paulo, remanescendo este com a produção da cana de açúcar e da sua transformação em açúcar - um grande item da pauta de exportações - e do etanol. Mas São Paulo se beneficia dos suprimentos feitos à cadeia produtiva. 

As perspectivas futuras da indústria brasileira tradicional são pouco favoráveis, diante da perda de competitividade internacional e da tendência de apreciação da moeda nacional, em função das exportações das suas commodities, com o petróleo - em futuro próximo - passando a ser o principal item da pauta. 

São Paulo, por já ser o maior centro de consumo brasileiro será o principal importador de produtos manufaturados, beneficiando-se da sua comercialização.

O comércio e os serviços serão os principais setores da economia brasileira, em termos de produção e geração de empregos, ainda que não sejam os fatores primários de dinamização da economia. São segmentos derivados.

A escala de comercialização faz de São Paulo o maior centro do consumo de maior renda, incluindo a ponta do mercado de luxo, atraindo consumidores abastados de todo o Brasil, inclusive de outros  países  da América do Sul. 
A concorrência da cidade de São Paulo, como centro de consumo, é de outras cidades do Exterior, principalmente Miami, um dos principais polos de compras de brasileiros no exterior, além de outras tradicionais cidades, como Nova York e Paris. 
O segmento de comércio de média e alta renda, simbolizado pelos shopping centers, deverá ter um crescimento continuado, sendo um dos suportes da economia paulista e paulistana.

O setor de serviços às famílias é outro segmento do setor terciário da maior importância na economia paulistana, sendo o principal polo de serviços mais complexos, como o da saúde. Nesse é até exportador, ao atender pacientes de outros países. Tem concorrentes nacionais, para algumas especialidades, mas a sua principal concorrência é internacional.

Os gastos com saúde tenderão a crescer com o envelhecimento da população e maiores cuidados pessoais com a saúde. 
A economia da saúde tenderá ser um dos principais motores do crescimento econômico das cidades, superando os ainda predominantemente industriais.
A cadeia produtiva da saúde é ampla, envolvendo ainda produtos industriais de alta tecnologia. É um cluster que poderia ser melhor desenvolvido em São Paulo.

Mas o principal setor dinâmico da economia paulistana é o dos serviços de gestão, com a hospedagem das sedes das maiores empresas atuantes no país, sejam brasileiras ou multinacionais.

Esse segmento estabelece uma forte interação com o setor de gestão financeira, o que gera uma espiral de desenvolvimento que sustentará o crescimento da economia paulistana.

O principal concorrente nacional de São Paulo, é o Rio de Janeiro, mas há que considerar os concorrentes estrangeiros que estão nas lentes das multinacionais: Miami, Cidade do México e agora Bogotá.
Buenos Aires já foi uma forte concorrente, até com vantagens por ser percebida como a "capital do Brasil", mas entrou em decadência, na preferência das multinacionais. Já Bogotá tem um excelente marketing da cidade para atração de empresas. São Paulo acabou de demonstrar a sua ineficiência, ao não passar da primeira fase para a escolha da cidade para sediar a Expo 2020.

Se Buenos Aires perdeu as posições, porque isso não poderia ocorrer com São Paulo.
Uma das causas da decadência argentina foi a continuidade de uma política populista, voltado para atender à pobreza, mas em detrimento da riqueza. A riqueza foi abandonando a cidade o próprio país e só aumentou a pobreza.

A Prefeitura de São Paulo, dentro de uma ideologia contra "Dona Zelite" pode levar ao mesmo processo de empobrecimento da cidade e perda do seu principal potencial econômico.

Um comentário:

  1. A melhor, mais abrangente e lúcida análise sobre a economia de São Paulo que já li ou ouvi. E em texto curto,sem "economês".
    Obrigado e parabéns; aguardo, ansioso, o capítulo II.

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