sábado, 28 de setembro de 2013

Planejamento estratégico x participativo

Nas discussões sobre as questões urbanas há um grupo que denominaria de "novayorkistas" que usa exemplos parciais de Nova York para defender a sua aplicação em São Paulo.
Só que não defendem o todo, mas uma parte da maçã: a que lhes convém.
Não são defensores do adensamento altamente verticalizado, como ocorreu e continua ocorrendo em Nova York, sendo o novo edifício em substituição às Torres Gêmeas um exemplo emblemático.
Recentemente trouxeram a São Paulo um dos seus gurus (ou seria, segundo Dilma uma gurua): a Secretaria dos Transportes de Nova York, com fotomontagem de Times Square.
O calçadão deu certo em Curitiba e deu errado em São Paulo. 
Em Curitiba ajudou a desenvolver o comércio de rua, tornando a área um shopping center a céu aberto, onde estão - também - as mesmas lojas encontradas nos grandes centros comerciais e várias outras.
Dei uma entrevista às 7 hs da manhã, lá.
Já em São Paulo, o calçadão ajudou a expulsar a riqueza que foi primeiro para a Av. Paulista e depois migrou para às bordas do Rio Pinheiros, onde se concentra o comércio de luxo do Brasil, pretendendo concorrer com Nova York.
O comércio de alta renda foi substituído pelo comércio popular e a questão hoje é menos de revitalização do centro histórico, mas de conter o processo de degradação continuada. 
A solução dos calçadões, com restrição aos carros só funciona em cidades com uma população predominantemente de classe média. Curitiba ostentava essa condição, quando foi implantado o calçadão e o mesmo Prefeito que promoveu Curitiba o degradou quando, como Governador, promoveu a industrialização e trouxe uma imigração de mão-de-obras para as construções, que depois de terminadas as obras não retornaram às suas origens. 
Mas Curitiba é uma das poucas capitais que conseguiu manter a vitalidade do seu centro histórico, o que não ocorreu com Salvador, Fortaleza, João Pessoa, Recife, Vitória, Rio de Janeiro e outras, só citando as que visitei neste ano de 2013. 
Só remanesceu uma capital de classe média, onde os mecanismos de estímulo aos deslocamentos não motorizados podem ser eficazes, apesar de enfrentar um grave problema de sazonalidade: Florianópolis.
Goiânia, estatisticamente ainda poderia ostentar a condição porque a pobreza se concentrou nos municípios vizinhos.
Nova York, ou pelo menos a Ilha de Manhattan é uma cidade de classe média, convivendo com a alta riqueza.
Lá quando se propõe edifícios residenciais de uso misto, com ocupação de diferentes níveis de renda está se falando de juntar a classe A, com a B e quando muito com a C. Não envolvem as classes D e E, que são minorias.
Aqui no Brasil, quando se cogita em trazer o modelo se imagina juntar a classe A ou A+, AAA. com a faixa 1 do Minha Casa Minha Vida: até 3 salários mínimos, o que é pouco viável.
Procura-se importar soluções externas sem a devida"redução cultural".
Não há possibilidade de revitalizar o centro sem promover o retorno da riqueza. O centro da pobreza é uma cidade degradada, além de violenta.
E a riqueza não retornará, nem mesmo eventualmente se não contar com acesso e estacionamento para os seus veículos. 
A grande ilusão dos "novayorkistas" é que a riqueza brasileira ande de metrô.

2 comentários:

  1. Professor, o que o senhor acha de projetos como esse? São realmente viáveis, ou apenas um pouco mais de prosopopéia flácida para embalar bovinos?

    http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/09/prefeitura-de-sp-avalia-17-propostas-para-arco-tiete-mudar-entorno-de-rio.html

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  2. O desenvolvimento urbano do lado esquerdo do Tietê, considerando a direção para o interior, já estava prevista nas gestões anteriores e está em andamento. Irá se efetivar em função do interesse privado.
    Mas por razões do marketing politico-eleitoral o atual Prefeito ampliou o território do projeto, apelidado pelo João Santana de Arco do Futuro. O Prefeito já desistiu da margem direita (norte) e não vai conseguir implantar o conjunto, determinando um desperdício de recursos públicos e privados. O setor imobiliário tem outras prioridades, embora diversificadas, no conjunto não tem folego suficiente, tampouco demanda. Vai gastar dinheiro com os estudos quem quer perder.

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